Planejar as experiências das crianças é fundamental para que as intenções educativas sejam revertidas em aprendizagem e desenvolvimento. O planejamento nada mais é do que projetar o que está por vir. No ato de planejar, o professor toma decisões considerando suas concepções: quem é a criança, como ela aprende, quais competências e habilidades importantes em cada faixa etária, qual é o papel do professor, qual é o material mais adequado para determinada situação, quanto tempo é necessário para cada experiência, como a organização do espaço pode favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem de cada um e do grupo como um todo.
Para essa ação que antecede a prática, não existe um modelo único. O planejamento tem estruturas diversas que estão relacionadas com o tempo que se pretende organizar e prever - um dia, uma semana, alguns meses, um ano. No entanto, diferentes tipos de planejamentos são importantes para que todas as experiências tenham por trás um objetivo claro. Uma pessoa desavisada pode entrar em uma escola de Educação Infantil bem no momento da brincadeira e achar tudo uma grande bagunça. Um observador mais atento, porém, perceberá o papel ativo do professor na organização dos espaços, na escolha dos materiais, na mediação das relações entre as crianças e da interação com elas.
Nesse sentido, ao planejar, é necessário pensar sobre a organização do tempo, do espaço, dos materiais e sobre o agrupamento das crianças. É importante que se dediquem tempos diferentes para cada experiência, o tempo de uma brincadeira é diferente do tempo dedicado à leitura de uma poesia. Preparar os materiais que serão utilizados com antecedência evita que sempre sejam oferecidos os mesmos e cria novas formas de utilizá-los. Os velhos bloquinhos de madeira podem ser usados dentro da sala para a montagem de uma fazenda, e no parque podem se transformar em estrutura para a construção de uma represa no tanque de areia. Variar os agrupamentos também é necessário, a interação no grande grupo tem uma qualidade completamente diferente das interações que acontecem em grupos menores.
Planejar, no entanto, não significa ser rígido e pouco sensível às experiências vividas pelas crianças. Pelo contrário, é criar contextos de aprendizagem nos quais elas aprendam sobre si mesmas e sobre o mundo, indo além daquilo que seu cotidiano, naturalmente, poderia lhes oferecer. Quanto mais clareza o professor tem de suas intenções educativas, mais tranquilidade e flexibilidade terá para fazer mudanças no momento da experiência. E isso pode acontecer em virtude de diversos fatores: as crianças realizaram uma ação mais rápido que o professor previa? Deram outro caminho para a continuidade da proposta? Interessaram-se por algo inesperado? O planejamento faz com que o professor tome decisões mais conscientes e não só resolva problemas.
Para isso, é preciso encontrar em seu espaço de trabalho tempo para fazer seus planejamentos. Se fizer isso na escola, ainda poderá trocar ideias com outros colegas e, assim, conhecer maneiras de planejar, ampliar seu repertório de atividades e discutir sobre o modo como as crianças aprendem.
Planejar deve ser mais um apoio à prática do que uma obrigação. É uma forma de dar mais consistência à ação cotidiana. Nesse exercício de prever ações dos adultos e das crianças e clarificar objetivos de aprendizagem, para depois vivenciá-las, é que o professor terá a chance de se aproximar, cada vez mais, do modo como as crianças aprendem e do seu papel como parceiro mais experiente.
Fernanda Pinho é mestre em educação e coordenadora de projetos do Instituto Natura