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Caso real: Como colocar o pensar e agir da criança no centro do processo educativo 

Conheça o passo a passo da experiência da professora Jussara Moinhos, que transformou o tempo que os alunos passam fora da sala em uma boa hora para aprender

Autor: Rita Trevisan

Uma caixa de areia e alguns materiais recicláveis rendem muita aprendizagem. Conheça a experiência da professora Jussara. Ilustração: Rita Mayumi/Nova Escola

A maior parte das escolas de Educação Infantil possui um espaço com areia onde as crianças podem passar algum tempo, geralmente em momentos da rotina em que não há uma atividade dirigida pela professora. Assim, é comum que explorem o ambiente livremente, sem que o professor defina, para essa vivência, um objetivo específico. Porém, trata-se de um ambiente propício para a pesquisa, o levantamento de hipóteses e para avançar o conhecimento das crianças em relação ao próprio corpo, ao ambiente e até ao patrimônio cultural e científico que as cerca.

Alinhada à nova concepção de Educação Infantil trazida pela BNCC, que  coloca o pensar e o agir da criança como centro do processo educativo e propõe que o trabalho nas escolas seja organizado a partir de Campos de Experiência,  a professora Jussara de Cássia Moinhos, da EMI Maria Simonetti Thomé, de São Caetano do Sul (SP), levou crianças de aproximadamente 2 anos ao parque e, em um trabalho de observação atenta, as deixou explorar o espaço.

Indicado para: Crianças bem pequenas
Material: Caixas de ovos, copos plásticos de várias cores e tamanhos, tocos de madeira e dinossauros de plástico 
Espaço: Parque infantil com caixa de areia
Na BNCC: EI01EO03, EI02EO03, EI01CG02, EI02TS02, EI01EF06, EI01ET03 e EI01ET02

PASSO A PASSO

1.Organize o espaço 

Em vez de baldes e pás, a professora optou por usar materiais não convencionais, como caixas de ovos 

Antes da chegada das crianças, a educadora preparou o ambiente com elementos que despertam a curiosidade e o senso estético, onde os pequenos pudessem experimentar, explorar e investigar, o que deu à atividade um caráter educativo. Jussara reuniu materiais incomuns nas rotinas das crianças, como caixas de ovos, copos plásticos de várias cores e tamanhos, além de tocos de madeira e dinossauros de plástico.

2. Observe os pequenos 

Em diferentes momentos, as crianças puderam explorar o manuseio dos materiais junto com a areia

A professora organizou diferentes momentos na caixa de areia para observar a interação dos pequenos com os materiais disponibilizados para que eles explorassem e entendessem as características, sensações e os efeitos despertados pelo manuseio do material com a areia. Para Jussara, a atividade teve um efeito diferente das demais recreativas, já que elas puderam brincar com mais do que apenas baldes e pás, que são encontrados em parques do lado de fora das escolas.

A organização das brincadeiras na caixa de areia ficou por conta dos pequenos

Praticando a observação atenta, ela notou que as crianças organizaram por conta própria a brincadeira e ela pôde perceber como eram feitas as escolhas delas em relação aos materiais disponíveis e como fluía a relação entre os colegas. O papel de Jussara era compreender os percursos de cada criança e as narrativas não verbais das crianças durante todo o processo.

3. Acompanhe a exploração das crianças 

Na atividade, a pequena Luiza pôde amontoar e observar a areia cair, prestando atenção ao movimento

Como não houve, por parte da professora, um direcionamento específico para a forma como deveria ser a brincadeira no parque, cada criança explorou os ambientes e os materiais do próprio jeito. A pequena Luiza, por exemplo, diante das caixas de ovos, organizou esteticamente a areia nos buraquinhos, compondo um arranjo e buscando um equilíbrio na quantidade de areia disposta. Em outra situação, ela amontoou areia e passou a fazer suas descobertas. A menina atentamente observava o material cair, notando o movimento e controlando com a mão a quantidade de areia que escorria.

Com a investigação lúdica, a menina vivenciou as propriedades físicas do material

O experimento de Luiza com os materiais é totalmente único nesse processo: cada criança faz a exploração de acordo com seus interesses, de forma individual ou em grupo. Conceitos importantes relacionados às propriedades físicas do material são vividos nessa investigação. Nesse momento, a professora pode fazer novas provocações, com outros materiais de propriedades diferentes, para alimentar o processo investigativo que Luiza começou. Assim, a cada nova brincadeira no parque, Jussara ofertava materiais novos, de acordo com o que havia despertado o interesse das crianças.

Nessa perspectiva, o espaço foi considerado um terceiro educador e passar o tempo brincando na areia não foi apenas um tempo de recreação para as crianças. As brincadeiras na caixinha de areia, além de lúdicas e prazerosas, transformaram-se em momentos de pesquisa e experimentação pelas crianças.