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Plano de aula: O esporte de rendimento e os seus problemas

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Descrição

No desenvolvimento deste plano, o estudante terá acesso a aspectos relativos ao conceito de esporte e suas características, além de discutir e refletir com os estudantes a respeito de situações de violência, doping e corrupção ocorridas no esporte, que envolvem atletas, clubes e confederações, torcedores e governos.

Habilidades BNCC:

Objeto de conhecimento

Esportes de rede/parede, invasão e de campo/taco.

Objetivos de aprendizagem

  • Recordar o conceito de esporte.
  • Identificar as transformações históricas do fenômeno esportivo.
  • Discutir sobre as formas de que as mídias apresentam os problemas nos esportes.
  • Recriar uma prática com tipificação esportiva.
  • Analisar as situações relacionadas à prática recriada (conflitos, desentendimentos, frustrações).  
  • Discutir sobre os problemas relacionados com o esporte (doping, corrupção, violência etc).

Competências gerais

1.        Conhecimento

2.        Pensamento científico, crítico e criativo

7.        Argumentação

O conceito de esporte

O esporte é um dos fenômenos culturais de maior influência em nossa sociedade e que envolve a participação dos atletas representando seus clubes ou países em busca da vitória e da conquista de títulos. Para a BNCC (2017, p. 215), o esporte

caracteriza-se por ser orientado pela comparação de um determinado desempenho entre indivíduos ou grupos (adversários), regido por um conjunto de regras formais, institucionalizadas por organizações (associações, federações e confederações esportivas), as quais definem as normas de disputa e promovem o desenvolvimento das modalidades em todos os níveis de competição.

O esporte de rendimento requer dos atletas um envolvimento e uma dedicação, em que passam por um treinamento técnico-tático rigoroso para estarem aptos para obter os melhores resultados nas competições.

O esporte na mídia

Os meios de comunicação de massa como a televisão, o rádio, a imprensa, os meios digitais encontram no esporte um produto muito interessante do ponto de vista comercial. A grande exposição do esporte nas mídias atrai patrocinadores que investem nas equipes e nos atletas. Existem diversas mídias especializadas que transmitem não só os jogos, mas também uma série de informações sobre as equipes, a vida dos atletas, a paixão do torcedor, influenciando uma infinidade de jovens e adolescentes que sonham em se tornar futuros jogadores de alguma das modalidades.  

Os problemas relacionados ao esporte (doping, corrupção, violência)

A busca pela vitória a qualquer custo, a valorização do vitorioso, o grande aporte financeiro levam o esporte de rendimento a apresentar uma série de questões problemáticas no que se refere à ética. O doping, a corrupção, a violência, apostas ilegais acompanham o percurso histórico do esporte, especialmente na sua fase moderna.

As transformações históricas do fenômeno esportivo

No que se refere aos objetivos deste plano, o período do esporte moderno é o de maior relevância para se compreender as suas transformações mais importantes. De acordo com Tubino (2010, p. 24)

O Esporte Moderno foi criado pelo inglês Thomas Arnold, diretor do Rugby College, que, a partir de 1820, começou a codificar os jogos existentes com regras e competições. Rapidamente a ideia de Arnold se estendeu por toda a Europa. Com essa ideia surgiram os clubes esportivos, originados no Associacionismo inglês. Esse Associacionismo tornou-se o primeiro suporte para a Ética esportiva.

Um dos maiores incentivos à evolução do esporte moderno foi a retomada dos jogos olímpicos pelo Barão Pierre de Coubertin, em Atenas (1896). Esse movimento trouxe o segundo suporte para a ética esportiva e que até hoje é utilizado por muitas confederações esportivas: o fair play.

O olimpismo era baseado então em três premissas: a ética esportiva, o amadorismo e o associacionismo.  

[...] os indivíduos pensarem através do esporte, ou seja, a ideia de associacionismo no esporte é de que através de uma associação de ideias fundamentada na prática esportiva, a criança, o jovem e o adulto cheguem nos princípios do conhecimento e apreendam valores, culturas e ideias. (GODTSFRIEDT, 2010, p. 1)

Esse modelo de olimpismo perdurou até as Olimpíadas de Berlim (1936), quando Hitler utilizou o esporte como forma de divulgar uma suposta supremacia ariana. Após a Segunda Guerra Mundial, a ideia dos princípios olímpicos entra em decadência, pois o mundo dividiu-se politicamente em dois: de um lado o bloco capitalista, com liderança dos Estados Unidos, e do outro um bloco socialista, com a liderança da hoje extinta União Soviética. Em Helsinque (1952), foi a primeira vez que a União Soviética participou de uma Olimpíada. Uma vez que os Estados Unidos obtiveram mais medalhas que o rival, a mídia ocidental começou a utilizar a referência do número de medalhas de um país como uma forma de classificação, utilizando as medalhas de ouro como referência. Era o capitalismo derrotando o socialismo. A partir daí o conceito de amadorismo caiu por terra. Ambos os lados burlavam o código olímpico. Os países capitalistas forneciam ajudas de custo e bolsas aos atletas, e os países socialistas tinham programas de detecção de talentos e proviam os atletas de uma carreira esportiva bancada pelo Estado.

Outros eventos políticos graves também envolveram os jogos olímpicos, como boicotes a determinadas edições e sequestros e mortes de atletas. A Guerra Fria foi marcada pela decadência do esporte com base nos princípios olímpicos:

A ética esportiva, vítima constante dos ilícitos (doping, inclusive), foi se desmanchando, sem força para enfrentar o “chauvinismo da vitória”, isto é, a vitória a qualquer custo. (TUBINO, 2010, p. 26)

Apesar de inúmeros movimentos internacionais terem surgido com o objetivo de resgatar os princípios olímpicos do esporte, a sua popularização como forma de entretenimento e principalmente ascensão na mídia trouxeram um enorme aporte financeiro que, em muitos casos, reforça o princípio da vitória a qualquer custo. A qualquer custo pode ser traduzida por atletas que se envolvem em doping e corrupção, pois os holofotes estão sempre nos vencedores e, além das carreiras esportivas serem relativamente curtas, há o falso mito de que todos recebem salários exorbitantes, e a violência, que ocorre entre jogadores, entre torcidas, entre gêneros, entre países. Além dos atletas, existem outros envolvidos tanto diretamente como indiretamente no esporte. São técnicos, médicos, árbitros, fiscais, dirigentes, presidentes de confederações locais e mundiais que a todo o momento surgem na mídia envolvidos em casos de corrupção ou outras questões ilegais.

O esporte contemporâneo

Com o arrefecimento da Guerra Fria, o esporte gradativamente passou de uma manifestação político-ideológica para uma comercial mercadológica.

Uma das diferenças entre o final do período moderno do esporte, caracterizado pela Guerra Fria, e o período contemporâneo, é a aceitação e exploração universal do profissionalismo a partir dos Jogos de 1988 e 1992, em Seul e Barcelona, respectivamente. O profissionalismo posterior à Segunda Guerra Mundial era mascarado e por isso representa essa transição. Após essas edições olímpicas nota-se a transformação das Olimpíadas num megaespetáculo dirigido pela lógica de mercado e segundo os interesses do mundo dos negócios. (MARQUES, 2009, p. 640)

O esporte então passou a ter uma orientação para a espetacularização e massificação em um mundo cada vez mais globalizado. O modelo do esporte moderno não dava mais conta de suprir as necessidades de prática das pessoas que passaram a atribuir outros sentidos e significados ao esporte: “Uma das  facetas  do  esporte  contemporâneo  se  apresenta  na  heterogeneidade  de  suas  formas  de manifestação. Embora contenha características específicas, esse fenômeno apresenta traços diferentes de acordo com o ambiente em que se insere” (STIGGER, 2002).

O esporte contemporâneo transita, assim, entre o esporte de alto rendimento e um modelo que propõe diferentes formas de manifestação do esporte, que se aproxima mais de um conceito de jogo, conforme propõe o texto da BNCC.

No entanto, essas características [do Esporte] não possuem um único sentido ou somente um significado entre aqueles que o praticam, especialmente quando o esporte é realizado no contexto do lazer, da educação e da saúde. Como toda prática social, o esporte é passível de recriação por quem se envolve com ele. As práticas derivadas dos esportes mantêm, essencialmente, suas características formais de regulação das ações, mas adaptam às demais normas institucionais aos interesses dos participantes, às características do espaço, ao número de jogadores, ao material disponível, etc. (BNCC, 2017, p. 215)

Apesar de não fazer parte do contexto da proposta deste plano, é importante refletir sobre a utilização do conceito de esporte pela BNCC em diferentes contextos, pois pode trazer confusões na sua aplicação. Ao explicar sobre a recriação do esporte em uma diferente manifestação, o texto da BNCC traz a seguinte frase:

Isso permite afirmar, por exemplo, que, em um jogo de dois contra dois em uma cesta de basquetebol, os participantes estão jogando basquetebol, mesmo não sendo obedecidos os 50 artigos que integram o regulamento oficial da modalidade. (BNCC, 2017, p. 215)

Claramente, o texto descreve um jogo e não sobre um esporte. Inclusive utiliza o termo “jogando basquetebol” para explicar a ação dos participantes. Jogo e esporte são manifestações diferentes. A própria BNCC enfatiza essa distinção na proposição da habilidade (EF35EF06):

Diferenciar os conceitos de jogo e esporte, identificando as características que os constituem na contemporaneidade e suas manifestações (profissional e comunitária/lazer). (BNCC, 2017, p. 229)

Assim, voltando para o tema deste plano, as transformações históricas do esporte o levaram ao que hoje se chama de esporte contemporâneo. O esporte contemporâneo por um lado busca instituir uma apropriação do esporte pelas pessoas que atribuem a ele um sentido e significado que transcenderia o alto rendimento. Porém, o esporte contemporâneo é claramente regido pelo capitalismo, em que estão presentes a comercialização das marcas,  os jogos, materiais, alimentos, eventos numa tentativa de levar as pessoas que não são atletas a consumirem os produtos do esporte. Aqui cabe uma pergunta: As pessoas se apropriam do esporte e atribuem a ele diferentes significados ou são levadas a consumir os produtos do esporte tentando praticá-lo de acordo com as suas possibilidades?

Vemos todos os dias pessoas praticando modalidades esportivas tipificadas procurando se aproximar ao máximo de uma situação de alto rendimento, principalmente no que se refere aos equipamentos. Por exemplo, é comum vermos crianças, jovens e adultos utilizando uniformes de grandes times até em um bate-bola na rua, ciclistas equipados com bicicletas e equipamentos profissionais para uma volta no fim de tarde ou no fim de semana, o mesmo acontece com praticantes de corrida, tênis, basquete ou outras modalidades.

Julgamos importante refletir com os estudantes que o fenômeno esportivo é tão presente em nossa sociedade que, muitas vezes, alguns problemas transcendem o esporte profissional. Para ficar forte como um ídolo, as pessoas fazem uso de anabolizantes ou um jogo de futebol que seria um momento de lazer pode se tornar violento quando o resultado assume uma importância maior do que a prática.

Bibliografia

GODTSFRIEDT, J. Esporte e sua relação com a sociedade: uma síntese bibliográfica. Revista Digital. Buenos Aires. Ano 14. n. 142. Março de 2010. Disponível em:  https://www.efdeportes.com/efd142/esporte-e-sua-relacao-com-a-sociedade.htm. Acesso em: 4 fev. 2022.

MARQUES, R. F. R. Novas configurações socioeconômicas do esporte contemporâneo. R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 20, n. 4, p. 637-648, 4. trim. 2009. Disponível em:  https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4554522/mod_resource/content/1/Texto%205%20-%20Esporte%20contempor%C3%A2neo.pdf. Acesso em: 5 jan. 2022.

STIGGER, M. P. Esporte, lazer e estilos de vida: um estudo etnográfico. Campinas: Autores Associados, 2002.

TUBINO, M. J. G. Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação. Maringá: Eduem, 2010.

Links sugeridos

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ Acesso em: 6 out. 2021.

FAIRBANKS, J. J. Doping: a corrupção dentro do universo esportivo. Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel do Instituto de Ensino e Pesquisa. Disponível em: https://repositorio.insper.edu.br/beta/bitstream/11224/1869/4/JULIA%20JARDIM%20FAIRBANKS_Trabalho.pdf. Acesso em: 4 fev. 2022.

MEZZADRI. F. M. Esporte e violência. Um estudo realizado com crianças da cidade de Curitiba praticantes de atividades esportivas analisando aspectos da violência física, violência simbólica, utilização de drogas e suas relações com práticas esportivas. Disponível em: http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais7/Trabalhos/xEsporte%20e%20violencia.pdf Acesso em: 4 fev. 2022.

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