A cultura africana e a sua influência sobre hábitos e costumes do Brasil
O continente africano é o terceiro maior em território, o segundo mais populoso e é considerado o berço da humanidade, porque ali estão as primeiras evidências arqueológicas do ser humano. A África está dividida em 54 países com enorme e valiosa riqueza cultural, religiosa e social.
A cultura africana
Apesar de serem 54 países, a quantidade de povos com culturas, religiões e línguas diferentes é muito maior. São mais de três mil etnias diferentes. Portanto, a diversidade cultural africana é enorme. Não podemos pensar em África como uma cultura única. A influência de povos do Oriente Médio e europeus que tiveram contato com os africanos ao longo da história também amplia a diversidade cultural dos povos neste continente, no que diz respeito a línguas, religiões e costumes em geral.
A influência da cultura africana sobre Hábitos e costumes do Brasil
Para o Brasil, os africanos escravizados trouxeram toda sua diversidade cultural, visto que, do continente africano vieram pessoas de diferentes etnias e, portanto, com diferentes línguas e costumes. Os milhões de africanos recém-chegados ao Brasil tiveram de lidar com a condição de escravizados sem liberdade, dignidade e com constantes maus tratos. Diariamente, durante séculos, nas relações com portugueses e indígenas, os africanos foram ajudando a construir nossa história e nossa cultura com seus costumes, sua espiritualidade, sua culinária, suas palavras, sua musicalidade e suas lutas.
As lutas africanas
Existem muitas lutas originárias e ainda praticadas pelas diversas etnias africanas. Como exemplos temos o Nguni (África do Sul), o Tahtib (Egito), o Nuba (Sudão), o Dambe (Nigéria) e o Laamb (Senegal). Historicamente, as lutas foram criadas para utilização bélica nos conflitos e guerras. Em períodos de paz, as práticas continuam por tradição ou por precaução (esperando tempos de guerra). Para reduzir o perigo das práticas, principalmente daquelas em que existe o uso de implementos como espadas, lanças e bastões, há a incorporação de regras, adaptação dos implementos e acréscimos de elementos como música e coreografias para exibição.
As lutas de matriz africana possuem importância no que se refere à manutenção das relações étnicas que atravessam os tempos pós-divisão do continente africano em países como hoje conhecemos. Muitas etnias foram separadas pelas fronteiras atuais, enquanto outras foram colocadas juntas em um mesmo território apesar de serem inimigas mortais (o que muitas vezes gerou guerras com dezenas de milhares de mortes).
Os rituais e significados das lutas das etnias africanas
Atualmente, as modalidades de lutas das etnias africanas acontecem em diferentes contextos sociais. A importância dessas manifestações culturais para os povos africanos pode ser percebida por ocasião dos ritos de casamentos entre os membros das famílias dos noivos, da celebração de boas colheitas, dos eventos relacionados aos ritos de passagem de jovens para a vida adulta, das festividades como demonstração de força, coragem, de continuidade das tradições ancestrais ou de esportes com muita popularidade, como é o caso das lutas Dambe e Laamb, respectivamente, na Nigéria e no Senegal.
Nestas lutas, podemos perceber que, além das questões técnicas, físicas e das regras do evento, existe muito fortemente o aspecto espiritual. Antes das lutas, a maioria dos atletas busca ajuda espiritual para conseguir a vitória. Eles recorrem aos seus guias espirituais para ritos e amuletos de proteção e fortalecimento. As lutas acontecem em clima de provocação, incentivos em forma de música, com muitos instrumentos de percussão e narrações esportivas empolgadas.
LAAMB e o DAMBE: as principais habilidades motoras, capacidades físicas e regiões corporais
O Dambe é uma luta de percussão do povo Hausa, da Nigéria, em que os adversários enfaixam a mão dominante para desferir socos e usam a outra mão livre para defesa e agarre. Nesta luta, as capacidades físicas predominantes são: a força explosiva, a agilidade e a velocidade de reação.
As habilidades motoras mais presentes nos confrontos são: desviar, avançar, recuar, bloquear, esquivar-se e socar. Tais habilidades são intensificadas pelas regras do combate. Pelo fato de permitir apenas uma das mãos para o ataque, a dinâmica das lutas de Dambe são incomparáveis pela previsibilidade da mão de ataque, visto que nas demais lutas de percussão existentes os socos podem ser desferidos com ambas as mãos e, portanto, são possíveis diversas combinações usando mão direita e esquerda. No Dambe, para superar o adversário, o lutador precisa combinar bem os movimentos defensivos com os de ataque. A mão de ataque é enfaixada, envolvida por pedaços de corda, e é chamada de “lança”. Esta mão é a única que pode ser usada para socar. A outra mão permanece nua, é chamada de “escudo”, e a sua função é defender, bloquear, agarrar e desequilibrar. Em alguns eventos, são permitidos chutes, na maioria das vezes, porém, os membros inferiores são usados apenas como base para os deslocamentos de avanço, recuo e esquivas.
O Laamb é uma luta de domínio e percussão, muito tradicional do Senegal. Da mesma maneira que o Dambe, o Laamb se popularizou de tal maneira que os eventos atraem muitos patrocinadores e oferecem prêmios em dinheiro. Nas lutas de Laamb, o objetivo é colocar o oponente com as costas, o rosto ou os quatro apoios no chão. Para isso, os lutadores podem tentar o desequilíbrio, a projeção ou o knockout (socos são permitidos). As capacidades físicas presentes nas lutas são: a força muscular, a força explosiva, o equilíbrio e a velocidade de reação. As habilidades motoras mais solicitadas são: desequilibrar, puxar, empurrar, agarrar, socar, desviar, recuar, avançar e derrubar.
No Laamb, o volume maior de técnicas é de domínio. Conhecida também como luta livre senegalesa, nela o posicionamento dos atletas se caracteriza por um distanciamento pouco maior do que nas lutas puramente de domínio, devido à permissão dos socos. Em alguns momentos, o posicionamento dos lutadores lembra um pouco uma luta de MMA. Os socos, muitas vezes, são desferidos como fintas para aproximação visando, na verdade, a queda, visto que o objetivo da luta é derrubar o oponente. Pelo fato de ter componentes de luta de domínio e percussão, o Laamb exige de seus praticantes uma variedade grande de habilidades motoras e capacidades físicas.
As diversidades étnicas
A diversidade étnica africana também está presente nas lutas. Existem lutas africanas de domínio, de percussão e com implementos, como varas, bastões e escudos. Em algumas lutas existem acompanhamentos de músicas de instrumentos de sopro e também de instrumentos de percussão variados.
Existem ritos que precedem os confrontos, que são de cunho espiritual, com orações, cantos, amuletos, banhos com leite azedo, ervas, fumaça e escarificações corporais para dar força, afastar maus espíritos e garantir a vitória.
As lutas estão presentes em diversos momentos da vida social dos diferentes povos africanos: em ritos das cerimônias de casamento, festas de rua e festivais de colheita. Variadas são também as formas como as lutas se apresentam. Em alguns casos, a luta é apresentada como uma coreografia com movimentos que mais parecem dança, com muita música em clima de alegria e festa. Em outros casos, as lutas são confrontos sangrentos em que ferimentos graves e até morte são comuns.
De maneira geral, as lutas têm origem sempre nas necessidades dos confrontos bélicos. E, ao longo dos tempos, vão ganhando contornos sociais diferenciados.