O passado deve dialogar com o presente. Esse é um dos pontos principais que a BNCC traz para o ensino de História. De acordo com a Base, é preciso “transformar a história em ferramenta a serviço de um discernimento maior sobre as experiências humanas e das sociedades em que se vive”. Sendo assim, os alunos não devem apenas aprender sobre os fatos de maneira distante ou fora de contexto a outros fenômenos e, principalmente, do próprio presente.
O que isso significa?
Isso significa que através de processos, como os cinco propostos pela Base, os alunos devem ser estimulados a fazer uma leitura crítica dos fatos históricos. Para que isso aconteça, é essencial que todos sintam-se motivados a partir dos conhecimentos que adquirem nas aulas, a formularem perguntas sobre o passado e sobre o presente. Os alunos devem ser incentivados a apresentarem suas hipóteses e interpretações acerca dos fatos para questionar e confrontar o conhecimento histórico pré-estabelecido.
Por isso, é preciso planejar aulas que permitam que os conhecimentos do professor se transformem em instrumentos de construção do saber, com espaço para uma postura ativa dos estudantes diante de suas aprendizagens.
Veja quais são os cinco processos e como aplicá-los:
Identificação
O que é: O processo de reconhecimento de uma questão ou objeto a ser estudado.
Como conduzir o aluno nesse processo: A partir da formulação de perguntas como:
1. "O que é?
2. "Como é possível descrevê-lo?”
3. “Como pode ser lido?”
4. “Que conhecimentos precisam ser mobilizados para reconhecer o objeto?”
5. “A quais componentes culturais ele está intrinsecamente ligado?”
6. “Qual é o sentido que nossa cultura atribui a ele?”
Um exemplo: No início do processo de pesquisa sobre uma questão histórica, ao tomar contato com um objeto, é possível reconhecer em detalhe a sua linguagem. Identificar um mapa ou uma planta ou até mesmo ler uma escala são atividades recomendadas nessa etapa. Identificar é também desnaturalizar a visão que se tem de determinado objeto de estudo, tentando apenas vê-lo como é, sem a “interferência” dos componentes culturais.
Comparação
O que é: Conhecer o outro percebendo suas semelhanças e diferenças. Ao comparar, crianças e jovens podem ter uma melhor compreensão dos fenômenos, dos processos históricos e das fontes documentais.
Como conduzir o aluno nesse processo: Apresentando fatos históricos correlacionados, de modo que o aluno possa ampliar seus conhecimentos em relação a outros povos e de seus costumes específicos. O pensamento articulado entre as dimensões do ‘eu’, do ‘outro’ e do ‘nós’ preparam os alunos para enfrentar situações marcadas pelo conflito ou pela conciliação, estimulando também o respeito à pluralidade cultural, social e política.
Um exemplo: No ano de 1500, a cidade do México Tenochitlán tinha entre 500 mil e 1 milhão de habitantes e ostentava uma estrutura urbana complexa com aquedutos e diques. Na mesma época, Paris tinha cerca de 200 mil habitantes e Veneza, 105 mil. Apenas cinco cidades da Europa tinham mais de 100 mil habitantes naquela época. “A comparação aliada à identificação quantitativa permite ao aluno ver o mundo a partir de uma outra proporção”, explica Janice Theodoro da Silva, professora aposentada da da FFLCH-USP (Departamento de História).
Contextualização
O que é: Localizar momentos e lugares específicos em que determinados fatos históricos ocorreram no momento de atribuir sentidos e significados.
Como conduzir o aluno nesse processo: O aluno deve identificar o momento em que uma circunstância histórica é analisada e as condições específicas daquela realidade. Um evento não deve ser estudado de forma isolada, mas inserido em um quadro amplo de referências sociais, culturais e econômicas.
Um exemplo: O aluno pode ser estimulado a pensar sobre questões secundárias que ajudarão a construir o contexto. Perguntas a serem feitas:
1. “O que é preciso saber para administrar uma cidade com 1 milhão de habitantes?”
2. “Como aconteceram os processos civilizatórios”
A Base sugere que, em meio aos debates propostos em sala de aula, que sejam destacadas as dicotomias entre Ocidente e Oriente e os modelos baseados na sequência temporal de surgimento, auge e declínio. Ambos dão conta de explicar questões históricas complexas.
Interpretação
O que é: Posicionar-se criticamente sobre o conteúdo estudado em sala de aula. Segundo o texto da Base “interpretações variadas sobre um mesmo objeto tornam mais clara, explícita, a relação sujeito/objeto e, ao mesmo tempo, estimulam a identificação das hipóteses levantadas”.
Como conduzir o aluno nesse processo: Diante de um mesmo fato, os alunos devem ser capazes de levantar diversas hipóteses e desenvolver argumentos acerca delas. O estudante pode, por exemplo, ser chamado a questionar: “O que torna um determinado evento um marco histórico?”.
Um exemplo: No momento de interpretar, o aluno pode construir argumentos sobre o conteúdo estudado, discutir com os pares e selecionar diferentes proposições. “Pode perguntar e responder questões como: por que o incêndio nas Torres Gêmeas é um marco histórico e um outro incêndio de uma casa em São Paulo não é?”, sugere Janice.
Análise
O que é: Problematizar a própria escrita da história, considerando as pressões e restrições de que ela também é fruto, da mesma forma como as outras produções da sociedade em que vivemos).
Como conduzir o aluno nesse processo: É possível propor atividades para que os alunos construam hipóteses sobre as questões ideológicas abordadas em sala de aula. Algumas questões norteadoras:
1. “Como foi produzido aquele saber?”
2. “Para que serve?”
3. “Quem o consome?”
4. “Seu significado se alterou no tempo e no espaço?”
Um exemplo: Ao se deparar com um fato histórico, além de conhecê-lo, o aluno deve ser capaz de compreender que é um produto de um embate de forças que resulta na elaboração de significados, que podem ser reinterpretados. É interessante que o estudante reconheça as tenso?es sociais, culturais, religiosas, poli?ticas e econo?micas intrínsecas ao processo de formação das sociedades que se sucederam ao longo do tempo. Ao analisar o desenvolvimento de diversos povos, no século 14, por exemplo, é importante que o aluno compreenda que toda a história é contada a partir de uma determinada perspectiva que pode ser desconstruída.