Materiais sugeridos
Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.
Conversa inicial
Faça uma roda com os estudantes. Explique que entrarão em um território do conhecimento no qual se misturam elementos humanos, culturais, religiosos e políticos de povos de origens distintas, em constante recriação e renovação. Aponte para a relevância desse conteúdo dinâmico e criador, e o quão importante é conhecer, corporal e espiritualmente, as formas de expressão cultural da nossa complexa e bela brasilidade. Indique sua presença (ou ausência) étnica na turma, como estratégia de valorização, reconhecimento, afirmação e motivação para a prática.
Diga que utilizem o passaporte cultural (ver como fazer em Registro e avaliação) para registros livres, desenhos, inclusive. Observe, junto à turma, o quanto a cultura africana, assim como sua força de trabalho e produção, está presente em suas vidas e em seus costumes. Investigue sobre a sua presença no ambiente ao redor, no vocabulário, nas comidas até, por fim, chegar às danças. Informe que serão estudadas duas delas: maculelê e ijexá.
Começamos com o maculelê. Apresente uma imagem com as indumentárias da dança. Mostre a imagem das grimas disponível em Para saber mais. Pergunte à turma como acreditam que são as indumentárias. Indague sobre: O que é uma indumentária? Vocês imaginam de onde são esses elementos? O que chamou a sua atenção nas indumentárias? Elas possibilitam a realização de movimentos? Favorecem dançar? Poderia usá-las em outras ocasiões? Explique que as grimas são instrumentos de percussão feitos, tradicionalmente, de madeira, roliços, com som agudo característico. Pergunte se alguém conhece esse instrumento ou já ouviu seu som.
Ampliado pelo número de participantes, as grimas promovem uma intensa ritmação. Reproduza os áudios sugeridos, particularmente os vídeos. Informe que o objetivo do trabalho é um encontro com a cultura africana que deve resultar em uma apresentação para a turma ou, no melhor dos casos, para toda a comunidade escolar. Como são duas as danças a serem estudadas, é possível e desejável construir junto com eles um evento iniciado com um cortejo (ijexá) seguido de uma apresentação de maculelê.
Se possível, apresente um dos vídeos, particularmente os vídeos 1 e 2 do maculelê e os dois vídeos de ijexá, para que sirvam de referência visio-áudio-motora para a desejável construção coreográfica a ser protagonizada pelos estudantes. Pergunte, a partir do título, sobre o que vai tratar o plano. Conseguem reconhecer o lugar? A música? As pessoas? Peça que analisem, observem, identifiquem os movimentos, gestos, ritmos, pessoas, instrumentos e músicas.
Pergunte se sabem o que é um cortejo. Os cortejos dos afoxés da Bahia (ijexá) são candomblé na rua. Portanto, são, ao mesmo tempo, representações religiosas e culturais (profanas). Eles fazem parte de um ciclo turístico, até certo ponto, folclórico, ligado ao Carnaval. Para se distanciar dessa referência distorcida e reforçar esse caráter comunitário, informe que o objetivo do trabalho é um encontro da turma com a cultura africana.
O maculelê é uma dança dramática. Planeje os passos dessa apresentação, prevendo a participação de subgrupos autônomos para a criação coreográfica da dança, resguardando esse caráter expressivo das ações corporais.
Estimule o protagonismo, tanto individual como coletivo. Nesse momento da aula é importante que sejam avaliadas, coletivamente, essas possíveis barreiras, bem como modos de superá-las. Há desafios que podem ser compartilhados, como, por exemplo, pensar com os estudantes em como substituir a “grima”, a partir de materiais e ideias alternativas. As garrafas pet sugeridas são de 1,5 litro para melhor manuseio.
Os intensos estímulos visuais, auditivos e proprioceptivos presentes nas danças de matriz africana, bem como sua simplicidade e ludicidade, são pontes de acesso ao seu conteúdo cultural. Aqui, a experiência e a informação devem caminhar juntas. Para superar possíveis barreiras, particularmente relacionadas aos vídeos e às imagens, pode-se pedir que estabeleçam parcerias em que os colegas se auxiliam na ampliação dos significados apresentados, ou utilizar recursos adicionais, como audiodescrição ou legendas, que possibilitem à todos o acesso às informações disponíveis.
Atividade
- Explorando as grimas
A solicitação prévia do material é indispensável para este plano. Evidentemente que o ideal seria que fosse possível contar com bastões tradicionais de maculelê, feitos de biriba (tipo de madeira), com cerca de 47cm a 50cm, confeccionados e adornados pelos próprios estudantes. É uma madeira que suporta o contato e que produz um som agudo característico. Não é recomendável que se utilize cabos de vassoura como alternativa devido a sua fragilidade e possível perigo de ferimento com bastões quebrados. A sugestão é substituir por garrafas pet, de 1,5 litro, coloridas, que podem resultar de um desejável plano interdisciplinar com as Artes Visuais e a Música.
Inicialmente sentados em roda, cada qual explora os sons possíveis de se fazer com um par de grimas. O áudio reproduzindo o som do maculelê é a paisagem sonora dessa exploração. Uma grima contra a outra, contra o solo, para frente, para cima, para os lados com os colegas. A contagem rítmica é de quatro tempos. As grimas podem ser marcadas em quaisquer deles, dentro da sua contagem ou de uma contagem combinada. Para que o pulso fique internalizado, brinque de bater as grimas nos tempos um, dois, três e quatro, alternadamente.
Explore todas essas possibilidades com o grupo ainda sentado e, aos poucos, vá levantando e explorando os planos, desde o baixo até o alto, nomeando-os enquanto reforça os aspectos rítmicos, particularmente o acento no tempo forte. Chame a atenção da turma para esses aspectos importantes, que serão a base para todo o plano à frente. Aproxime-se e recue até o centro da roda executando movimentos a partir de perguntas (Quem consegue?) e sugestões de movimento derivadas do protagonismo da turma. Explore as possibilidades sensoriais presentes nessa dinâmica, incentivando o grupo a que se apoiem mutuamente nessa descoberta, encontrando soluções coletivas para resolver possíveis barreiras.
- Subgrupos
Divida sua turma em subgrupos (idealmente, quartetos). Informe que, ao som do maculelê e das grimas batidas no tempo forte, cada qual construirá uma série composta por movimentos sincronizados na batida das grimas. A sugestão, para facilitar e sincronizar os grupos, é que a marcação seja feita no tempo um da contagem de quatro tempos. Um dado importante, citado no vídeo 1 de maculelê, é que a base conceitual da dança implica realizar movimentos, desde os mais simples até os mais complexos, que resultem na batida das grimas no tempo forte de maneira sincronizada entre os participantes. Sugira que essa construção coreográfica dos subgrupos passe pelos planos baixo, médio e alto.
Explore e incentive o protagonismo, sem perder de vista que a informação é uma das bases da formação cultural. Conheça alguns passos e a marcação assistindo ao vídeo tutorial e aos outros vídeos sugeridos no plano. Faça sugestões para a inclusão de giros sincronizados, dentro do tempo e do pulso, ocupando o espaço.
Importante lembrar que barreiras podem ser superadas pela turma, enfatizando o caráter cooperativo e de construção cultural presentes nesse tipo de prática.
- Roda de maculelê
Forme um círculo com todos em pé e com as grimas no chão. Peça à turma que acompanhe com palmas a apresentação de duplas de protagonistas. Como essa sincronização foi tramada em subgrupos tendo como base a interação de duplas, trata-se aqui de um protagonismo dessas duplas de estudantes, apresentando suas combinações de movimentos. Assim como em uma roda de capoeira, o que vale aqui é a dança e a sincronia dos passos, giros, saltos com o tempo combinado pelas duplas. Informe que cada dupla pode combinar o acento do tempo forte, conforme sua escolha. Isso enriquecerá a paisagem sonora com complexidade e beleza.
Momento da reflexao
Ao terminarem, peça que todos se sentem em duplas ou em pequenos grupos e troquem, entre si, sensações, sentimentos e percepções. Ninguém deve ficar sozinho. Peça que usem, para isso, as anotações do passaporte cultural (ver a seção Registro e avaliação). Depois, faça uma grande roda na qual um representante de cada dupla ou pequeno grupo relata o que foi conversado nesse momento. As declarações espontâneas sobre as sensações corporais promovidas pelas danças, compartilhadas, enriquecem o cenário de aprendizagem. No entanto, faça perguntas para a turma: O que você viu, sentiu ou ouviu? Você reconhece alguma dança ou sua influência na região local? Que tipos de passos você aprendeu nesta aula? Consegue diferenciar os movimentos realizados nos planos alto, médio e baixo? Sentiu facilidade ou dificuldade em “fazer junto” a batida das grimas? Sentiu dificuldade ou facilidade para criar movimentos com o ritmo dessa dança? Quais? Consegue interpretar a marcação rítmica como um acordo coreográfico entre os participantes? Que tipo de apoio você recebeu? Conseguiu apoiar os colegas nessa proposta?
Sistematizacao do conhecimento
Converse com os estudantes sobre o que aprenderam a respeito de passos, gestos e ocupação do espaço. Revise com eles as formas que foram utilizadas nessa ocupação: círculos, colunas duplas e fileiras. Esclareça à turma quanto aos objetivos que foram desenvolvidos no plano. Explique o caminho percorrido desde o início do processo até alcançar esses conhecimentos e os meios desenvolvidos para isso. Apoie atitudes colaborativas, cooperativas e soluções encontradas pela turma na superação de eventuais barreiras.
Identifique com os estudantes os seus aspectos rítmicos e expressivos e as expressões que observaram. Recapitule os conceitos dos planos: alto, médio e baixo presentes nas danças brasileiras de matriz indígena. Retome sobre o que aprenderam, sobre a relação entre os passos com o pulso e a marcação rítmica.
Retome os sentidos culturais e/ou religiosos, sagrados, presentes nas danças de matriz africana. São apresentações coreográficas, brincadeiras ou rituais? Discuta com eles sobre essas diferenças e o respeito às diversidades étnicas.
Registro e avaliacao
O uso de um passaporte cultural, ou caderno de viagem individual, pode ser sugerido para que sejam anotados os pontos fundamentais abordados neste plano, sempre conectados aos objetivos de aprendizagem propostos. Peça que os estudantes anotem em um “caderno” feito com folhas A4, nome, turma, disciplina e região estudada. Converse sobre a liberdade de registro, com possibilidades de escrita e desenhos, a ser feito durante o processo. Uma sugestão é, durante a prática, encontrar um tempo para essas anotações, particularmente no final da aula, no momento de reflexão, que podem ser compartilhadas a partir desse registro. Recursos digitais como Padlet ou Google Sala de Aula podem ser usados como forma de dinamizar o registro das atividades. No entanto, com simples cadernos e lápis pode-se obter resultados semelhantes.
Nos dois casos, é importante observar os seguintes tópicos a serem registrados: nome do estudante e tipos de movimentos realizados, “passos”. Um espaço deve ser reservado para desenhos sobre a atividade, com ênfase nos movimentos expressivos da dança. Faça uma tabela com esses dados e comente seus resultados.
Se houver a possibilidade, registre a experiência em imagens e vídeos, que poderão ser utilizados como recurso pedagógico avaliativo, para se voltar, com olhar crítico, sobre aquilo que foi aprendido como conceito, atitude e procedimento.
Solicite aos estudantes que relatem, pelos meios disponíveis, quais os tipos de passos, gestos, indumentárias e instrumentos presentes nas danças. Nessas postagens, podem ser solicitados áudios, desenhos, textos e, até mesmo, registros em vídeo dos próprios estudantes, a partir do apoio de um adulto.
Da mesma maneira, um livreto, feito a partir de folhas de papel A4 pode motivar os estudantes a responder às mesmas questões, com os registros gráficos possíveis, como desenhos e textos escritos. Em ambos os casos, as expressões sobre sensações diversas contribuem no ambiente de aprendizagem.
Peça que troquem seus registros ou apresente-os à turma. É importante que a possibilidade dessa apreciação seja combinada, desde o início do uso do passaporte cultural. A exposição desses registros à comunidade escolar, seja em um Padlet ou flip chart coletivo, na apresentação das danças, também pode ser uma boa motivação para sua realização durante os passos deste plano.
Barreiras
Barreiras
- Solicitar que os estudantes recriem as danças populares de matriz africana por meio de exercícios de improvisação dentro de pulsos específicos.
- Impor movimentos síncronos sem a possibilidade de adaptações ou modificações que se adequem às características da turma.
- Exigir os registros do passaporte cultural apenas na forma escrita.
Sugestões para eliminar ou reduzir as barreiras
- Explorar possíveis recursos sensoriais e motores para que a percepção do pulso ocorra por múltiplas vias, estimulando o grupo a encontrar soluções nesse sentido.
- Buscar soluções coletivas para recriar o fluxo da dança, de acordo com as possibilidades sensoriais, perceptivas, proprioceptivas, motoras e cognitivas.
- Permitir que os estudantes organizem as práticas, de acordo com as suas potencialidades.
Desdobramentos
Conhecer e recriar o ijexá para uma apresentação composta das duas danças é um desafio possível de ser realizado. Informe aos estudantes quanto às possibilidades de se criar um evento composto por um cortejo (ijexá) e uma apresentação de maculelê, ou o inverso.
Importante assistir, com antecedência, aos vídeos tutoriais do ijexá, belos e expressivos. Isso pode ser feito junto dos estudantes, ou não.
Faça uma roda para que todos brinquem com o ijexá. O fluir dos movimentos, sinuosos como as águas de Oxum, são a base conceitual das ações corporais. Explore as variações, dentro dessa expressividade, com movimentos de aproximação e recuo em relação ao centro do círculo. Provoque os estudantes para que proponham movimentações a serem seguidas por todos, com a proposta dos estudantes sendo feita de maneira alternada. Peça que utilizem os planos baixo, médio e alto para essa recriação.
Peça que, utilizando os mesmos subgrupos do maculelê, componham uma movimentação sincronizada e roteirizada para um cortejo de ijexá. Serão dois momentos alternados durante o cortejo: deambulação (caminhada/locomoção dançada) e parada (evolução no lugar). Os planos de movimento (alto, médio e baixo) utilizados em sequência pelos subgrupos podem ser o roteiro para a sincronização em um cortejo. Peça que escolham um escriba para registrar o roteiro criado pelo subgrupo, tanto para as fases de caminhada, quanto para as fases de parada durante o cortejo.
Marque paradas no cortejo para que os subgrupos executem suas combinações no espaço, sem a movimentação do cortejo para frente.
Marque a continuidade com a deambulação.
O cortejo representa um grupo em movimento, no qual ninguém é deixado para trás.
Para o maculelê, como parte de uma apresentação, organize uma entrada com os estudantes batendo as grimas e realizando movimentos de separação e aproximação de fileiras com batidas de grimas, simultâneas e sincronizadas. Lembre os estudantes de que o maculelê é uma dança dramática, ou seja, congrega, em si, ritmo, expressão e movimento representando uma luta sem, de fato, ser.
Essas ações combinadas podem resultar em uma bela apresentação com a participação de todos os presentes. O cortejo (ijexá) e os desafios em duplas na roda de maculelê podem ser estímulos para a participação de todos nesse evento.
A força comunitária real é aquela que nasce dentro da própria comunidade. Nesse sentido, evoque a presença de todos e todas, dançando, indistintamente. É uma bela imagem, a ser gravada, para sempre, em seus corações e mentes.