Materiais sugeridos
Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.
Conversa inicial
Inicie com uma roda e explicite a todos os objetivos da aprendizagem das danças brasileiras do Sudeste do Brasil, e que o projeto será finalizado com uma apresentação de coreografia para a turma ou até mesmo para a comunidade escolar.
Mostre o Mapa Cultural do Brasil e localize seu lugar de origem. Faça uma linha entre ele e o Sudeste, e converse sobre o que sabem a respeito da sua própria região, particularmente suas danças. Se julgar necessário, caso perceba que os estudantes não têm esse conhecimento prévio, selecione, antecipadamente, algum material da sua região, como imagens, áudios ou vídeos de danças. Lembre-se de escolher os recursos de sensibilização de acordo com as características da sua turma, superando possíveis barreiras sensoriais.
Investigue o conhecimento prévio de elementos da música e da dança, o que sabem sobre pulso, contagem do tempo rítmico, e peça para que demonstrem, com exemplos, esse conhecimento.
Pergunte à turma o que sabem sobre as danças do Sudeste. Relate as matrizes culturais dessa região, informando que o jongo será a dança escolhida para iniciar este plano. Se estiver na região estudada, aproveite para destacar os traços característicos da sua paisagem. Informe que será feita uma viagem até lá. Peça a cada estudante que escolha sua maneira, meio de transporte e seu percurso. Avise que, quando chegar ao destino, a proposta será feita com os pés descalços. Lembre-os da origem da dança, praticada tradicionalmente em chão de terra ou areia da praia. Informe sobre a importância do contato dos pés com o chão e pergunte aos estudantes onde eles andam com os pés no chão? Quais as sensações do contato dos pés ou de outra parte do corpo com esses diferentes solos? É importante escolher um local adequado e acessível para todos realizarem essa prática.
Atividade
Massagem nos pés
Peça para que todos façam uma roda e, confortavelmente, preparem-se para a viagem até o Sudeste. Como parte da proposta, todos estão previamente descalços. Os pés, nesse caso, são os pontos de contato do dançante com o chão. O que mais pode tocar o chão quando se dança? O quanto as mãos e os pés são semelhantes? Essas questões podem ampliar o limite da investigação do contato e podem significar participação. Os calçados devem ficar em um lugar seguro. Peça aos estudantes que se organizem para isso evitando, assim, as misturas de pares. Solicite que se sentem para realizar uma roda de automassagem dos pés. Peça para usarem as pontas dos dedos, explorando o toque com suavidade ou profundidade e força. Explore os espaços entre as articulações da planta, do dorso e das laterais. Nomeie essas regiões do corpo, formalizando essa informação. Peça, a seguir, que brinquem de, na posição sentada, percutir os pés no chão com as partes massageadas. Proponha movimentos leves (“garoa”) e fortes (“tempestade”). Brinque com os tempos lento e rápido.
Para finalizar, explique que a dança a ser aprendida será feita descalça, pois, tradicionalmente, é realizada na areia, ou em um chão de terra, como já dito antes. Importante lembrar que os recursos de sensibilização são elaborados a partir do contexto da sensibilidade da turma dançante, que pode ser ampliada e ressignificada, eliminando as barreiras de acesso.
Viagem até a praia
A seguir, comece a viagem, propriamente dita. A rota é o Sudeste do Brasil. Dirija a atividade, colorindo a paisagem, com as possibilidades de transporte (balão, trem, bike, canoa, avião). A regra é que todos, ao final, cheguem juntos a uma praia, no litoral do Rio de Janeiro. Brinque com as imagens possíveis desse trajeto. A liberdade de movimentos imaginados está ao alcance de todos, por todas as vias perceptivas. Explore isso, sugerindo que os meios usados podem romper com as leis da natureza. Uma cadeira de rodas ou uma bicicleta podem, facilmente, voar como em um filme. Verifique com o grupo se, além da narração oral, será necessário algum outro recurso, como imagens, materiais táteis e/ou Libras, para que todos possam acompanhar a “viagem”.
Por fim, chega-se à areia da praia. É noite e, ao longe, as luzes de velas no chão iluminam o trecho no qual uma roda de dança está sendo realizada. Ouve-se uma voz grave, porém feminina (Clementina de Jesus, Marinheiro só, no aparelho), com o volume aumentando gradativamente. Homens e mulheres participam da dança. Ao centro, um par realiza movimentos sincronizados, no ritmo forte das percussões. Peça que imaginem saias rodadas, roupas leves e os movimentos ritmados. Diga para sentirem o pulso da música, que é a qualidade sonora que nos faz bater palmas e pés no chão. Peça que todos abram os olhos e façam uma roda em pé. Mantenha o áudio em execução e acompanhe com um instrumento de percussão.
Livre exploração do pulso
Em formação livre, peça à turma que ouça o áudio e sinta o pulso, primeiramente no lugar. Em seguida, marque o centro da quadra, ou do espaço em uso, e peça para que todos ocupem o centro. Proponha um percurso de ida e volta, a partir do centro e, ao sinal, retornem a ele, utilizando passos livres. Utilize os termos “alto”, “médio” e “baixo” para solicitar os movimentos de improvisação nesses planos. Peça que acrescentem um movimento (saltos, saltitos, giros, palmas) quando sentirem o “tempo forte”. Lembre-se de explorar as possíveis locomoções, transformando-as de modo que todos, com seus diferentes corpos, sintam-se desafiados e instigados a participar. Opções de movimentos permitem que estudantes vivenciem ritmos corporalmente, sem provocar a exclusão daqueles que tenham alguma dificuldade de mobilidade e/ou coordenação. Possíveis barreiras de locomoção podem ser superadas se o princípio de apoio mútuo for um valor desenvolvido na turma.
Círculo dos passos tradicionais
Mostre os passos tradicionais do jongo: a) “amassa café”, que é feito com batida alternada dos pés no chão, no lugar; b) “mancador”, que é um deslocamento em giro para as laterais, com um passo “cheio” (marcado) e um outro “vazio”; e c) passo principal, que é feito com deslocamento para frente e para trás, complementado por um giro. Aqui é importante conhecer um dos vídeos sugeridos, no qual esses passos são didaticamente explicados. Se puder, apresente esse vídeo na parte final da aula ou em outro momento, nos seus desdobramentos. Dê especial atenção ao pulso da música e ao tempo mais forte da sua execução. Novamente, a expressão é o elemento mais importante, mais básico quando o tema é a dança. A percepção do ritmo e o uso do movimento são conquistas compartilhadas e construídas pela turma. Estimule e valorize os aspectos expressivos, cooperativos e democráticos na busca de soluções que eliminem qualquer barreira para a participação.
Duplas de jongo
Se puder, mostre aos estudantes cenas dos dançantes do jongo em ação. Peça, em seguida, que formem duplas para “jongar”. Uma sugestão é que sejam feitos círculos com giz, nos quais cada dupla deve manter-se no seu interior, enquanto dança. Isso favorece aos estudantes um maior domínio dos passos na relação com o espaço da dança. Essa marcação poderá ser feita com uma corda, no caso de ser interessante uma delimitação tátil. Peça que troquem de parcerias e, ao trocar, percebam as diferenças entre os seus movimentos e os dos outros. Uma estratégia que permite valorizar esse encontro é pedir para que os parceiros encontrem um ponto no qual os dois consigam realizar o movimento. O desafio é sincronizar os movimentos e não competir na sua realização. Corponegociação.
Círculo final
Faça um grande círculo, com todos batendo palmas e improvisando no lugar. Peça às duplas que apresentem a sequência que desenvolveram durante a aula, locomovendo-se, cada qual a sua maneira, com ou sem ajuda dos colegas, ao centro alternadamente. Valorize a movimentação expressiva e sincronizada das duplas e o uso dos passos aprendidos durante a aula.
Momento da reflexao
Ao terminarem as exibições da roda final da dança, peça que todos se sentem em duplas ou em pequenos grupos e troquem, entre si, as sensações, sentimentos e percepções da viagem. Ninguém deve ficar sozinho. Depois disso, faça uma grande roda na qual um representante de cada dupla ou pequeno grupo relata o que foi conversado nesse momento. As declarações espontâneas sobre as sensações corporais promovidas pelas danças, compartilhadas, enriquecem o cenário de aprendizagem. No entanto, pode-se fazer algumas perguntas para a turma: O que você viu, sentiu ou ouviu durante a viagem? Quais diferenças você vê entre as músicas e danças da nossa região em relação às da região Sudeste do Brasil? Sentiu dificuldade ou facilidade para criar movimentos com o ritmo dessa dança? Quais? Qual tipo de apoio você recebeu? Conseguiu apoiar aos colegas nessa proposta?
Sistematizacao do conhecimento
Nomeie, juntamente com a turma, as partes dos pés: dorso, planta, calcanhar, lateral interna e externa e ponta.
Retome com os estudantes os conceitos: pulso, contagem de tempo rítmico, intensidade de movimento (forte/fraco). Acrescente, sob forma de conteste, o conceito dos planos de movimento (alto/médio/baixo). Faça o mesmo em relação às formações (círculo e fileira) propostas nas danças.
Se estiver em outra região, compare por semelhanças ou diferenças os elementos das danças nas culturas de origem com as do Sudeste, tendo como critérios os elementos: pulso, indumentária, adereços, instrumentos e contexto cultural.
Converse com os estudantes sobre as barreiras que foram superadas pela turma, para que todos pudessem compartilhar a riqueza presente na diversidade dos elementos das danças, o que também permite amplas possibilidades de acesso e de participação.
Registro e avaliacao
O uso de um passaporte cultural, ou caderno de viagem individual, pode ser sugerido para que sejam anotados os pontos fundamentais abordados neste plano. Recursos digitais, Padlet ou Google Sala de Aula, podem ser usados como forma de dinamizar o registro das atividades. No entanto, com simples cadernos e lápis pode-se obter resultados semelhantes.
Nos dois casos, é importante observar os seguintes tópicos a serem registrados: nome do estudante e tipos de movimentos realizados (“passos”). Um espaço deve ser reservado para desenhos sobre a atividade, com ênfase nos movimentos expressivos da dança. Faça uma tabela com esses dados e comente seus resultados.
Se houver a possibilidade, registre a experiência em imagens e vídeos, que poderão ser utilizados como recurso pedagógico avaliativo, para se voltar, com olhar crítico, sobre aquilo que foi aprendido como conceito, atitude e procedimento.
A avaliação pode ser feita solicitando aos estudantes que relatem, pelos meios disponíveis, desde postagens em um Padlet, quais tipos de passos, gestos, indumentárias e instrumentos estão presentes nas danças. Nessas postagens, podem ser solicitados áudios, desenhos, textos e, até mesmo, registros em vídeo dos próprios estudantes, a partir do apoio de um adulto.
Da mesma maneira, um livreto, feito a partir de folhas de papel A4, pode motivar os estudantes a responder às mesmas questões, com os registros gráficos possíveis, como desenhos e textos escritos. Em ambos os casos, as expressões sobre sensações diversas contribuem para o ambiente de aprendizagem.
Peça que troquem seus registros ou apresente-os à turma. É importante que a possibilidade dessa apreciação seja combinada, desde o início do uso do passaporte cultural. A exposição desses registros à comunidade escolar, seja um Padlet ou flip chart coletivo, na apresentação das danças, também pode ser uma boa motivação para sua realização durante os passos deste plano.
Barreiras
Barreiras
Barreira 1 - “Recriar as danças populares do Sudeste do Brasil: jongo e catira por meio de exercícios de improvisação”. Há um conhecimento prévio necessário para realização de improvisos.
Eliminar barreiras 1 - Perceba se a sua turma possui esse conhecimento prévio, perguntando quais movimentos eles conhecem que podem ser emprestados à dança. Saber como os passos são realizados tradicionalmente pode oferecer sugestões de novas locomoções, acessíveis a todos, com ou sem apoio individual. Lembre-se de que o improviso é uma descoberta e a busca por soluções coletivas pode trazer elementos inovadores a sua prática.
Barreira 2 - “Utilizar movimentos nos planos: alto, médio e baixo presentes nas danças brasileiras da região Sudeste”. Os planos de movimento são espaços possíveis de ação, porém, podem significar barreiras para alguns estudantes.
Eliminar barreiras 2 - O alcance de cada qual nesse espaço pode ser ressignificado. Utilize os fatores peso (leve/para cima, pesado/para baixo), fluência ou fluxo (continuidade da ação, onde para e como continua), tempo (pulso, compassos e permanência/mudança do movimento) e espaço (atenção e aproximação do movimento em relação ao ambiente), para criar variações que permitam uma exploração significativa nos planos de movimento. Antes de começar esse conteúdo, levante o conhecimento prévio dos estudantes sobre esses termos e peça que deem exemplos. Provoque-os a encontrar soluções que permitam apoiar-se mutuamente.
Barreira 3 - “Elaborar sequências coreográficas simples das danças brasileiras da região Sudeste”. O momento da aula é uma oportunidade para que todos possam se expressar e aprender. Cada qual tem um potencial que deve ser respeitado e considerado ponto de partida para novas aprendizagens.
Eliminar barreiras: Permitir que os estudantes organizem as práticas de acordo com as suas potencialidades.
Desdobramentos
Como desdobramento, retome os conceitos que talvez fossem desconhecidos até aqui, como os tipos de passos do jongo e da catira, sua história e cultura. Revise o contexto de origem do jongo (“amassa café”, “mancador” e “passo principal”) e da catira (“bate-pés”, “bate mãos” e “escova”). Contextualizar o uso dos pés descalços e a presença dos cultos afro-brasileiros na ritmação, e as danças circulares e a percussão dos pés e das mãos dos povos originários. Para a tematização da catira, a viagem agora é para alguma fazenda no interior de Minas Gerais ou de São Paulo, na qual há uma festa com muita música e um tablado. Dessa vez, os pés receberão a mesma massagem, porém para serem usados de outra forma: como instrumento de percussão. Uma chapa de madeira e um calçado adequado podem ser utilizados como demonstrativo desse uso. O “bate-pés” é um desses passos que acompanham o ritmo da catira, juntamente com o“bate-mãos” (palmas) e a “escova”, que, como o nome sugere, é o passo no qual os pés friccionam o tablado produzindo um som característico. Os passos são conteúdos conceituais que se traduzem em procedimentos e atitudes específicas para sua prática.
A sugestão de se trabalhar em duplas, com improvisos de sequências de passos, pode ser ampliada para trios, quartetos ou, o que é desejável e importante, outras formações maiores. Solicite que se organizem para isso e valorize as ações coletivas e cooperativas contidas na elaboração das coreografias.
Elabore uma agenda de ações visando uma apresentação para a turma ou até mesmo a comunidade escolar. Esse compartilhamento pode ser ampliado à comunidade. O jongo e a catira são, por si só, formas de expressão integradoras e que implicam a participação de muitas pessoas.
O convite para dançar é amplo e constrói uma rede de afetos que agrega valor estético e sentimento às ações educacionais. A interdisciplinaridade é fundamental para a compreensão global de um tema, portanto, a elaboração conjunta de práticas sociais, como a dança, implica a presença de várias linguagens, como a Língua Portuguesa, a Música, as Artes Visuais, traduzidas em cores e indumentárias que, associados à riqueza dos movimentos, compõem o quadro completo da cultura na ação pedagógica.
Praia e tablado são dois ambientes que propõem dinâmicas diferentes. Converse com eles sobre a relação da dança com o meio em que se vive. Peça que imaginem a catira sendo dançada descalça, tentando percutir o tablado, ou o jongo feito botas, na areia da praia.