Plano de aula: Os movimentos das ginásticas em outras práticas corporais

A ginástica geral, como objeto de conhecimento da Educação Física, proporciona uma experiência corporal que auxilia no desenvolvimento motor, cognitivo e sociomoral/socioemocional dos estudantes. Além disso, a percepção dos limites e possibilidades do próprio corpo e do corpo do outro propicia o exercício do autocuidado, do respeito e da empatia. Isso porque, ao se observar, o estudante pode desenvolver ferramentas para perceber a si e também o outro, entendendo que cada pessoa se movimenta de uma forma, e todas elas devem ser igualmente validadas.

Os elementos básicos da ginástica geral são constituídos por movimentos estáticos e dinâmicos que envolvem: saltos, giros, rotações, equilíbrios. Além disso, a ginástica geral presume a valorização da participação de todos e todas.

A BNCC (2018, p. 215) propõe a seguinte definição de ginástica geral para a Educação Física:

A ginástica geral, também conhecida como ginástica para todos, reúne as práticas corporais que têm como elemento organizador a exploração das possibilidades acrobáticas e expressivas do corpo, a interação social, o compartilhamento do aprendizado e a não competitividade. Podem ser constituídas de exercícios no solo, no ar (saltos), em aparelhos (trapézio, corda, fita elástica), de maneira individual ou coletiva, e combinam um conjunto bem variado de piruetas, rolamentos, paradas de mão, pontes, pirâmides humanas etc. Integram também essa prática os denominados jogos de malabar ou malabarismo.

Dessa forma, é fundamental que se entenda o conceito de práticas corporais, para que seja possível relacionar a ginástica geral e outras práticas corporais.

As práticas corporais são manifestações da cultura expressas no movimento humano e estão em constante transformação. Para Neira (2014, p. 16):

Práticas corporais são os produtos da gestualidade sistematizados com características lúdicas, isto é, as brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas. Logo, fazem parte da cultura corporal desde as regras da amarelinha até o desenho tático do futebol, passando pelas técnicas do balé, a história do judô e os nomes dos aparelhos de ginástica. Também compõem esse repertório a noção de esporte como meio de ascensão social [...], a utilização da ginástica como aquisição de uma determinada estética corporal, entre tantos outros significados em circulação.        

Por fim, atentamos também para a importância de se estabelecer as regras e combinados para a segurança de todos e todas na realização das práticas corporais, em especial as ginásticas, em que é preciso atenção e engajamento para que todos se sintam aptos e seguros para a realização da tarefa.  

Bibliografia

BRASIL. Comitê Brasileiro de Ginástica (CBG), 2021. Disponível em: https://www.cbginastica.com.br/faq Acesso em: 20 nov. 2021.

BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 20 nov. 2021.

NEIRA, M. G.? Práticas corporais: brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2014.

Materiais sugeridos

• Folhas de papel A4 ou cartolina.
• Lápis e/ou giz.
• Cola.
• Tesoura sem ponta.
• Revistas e jornais que possam ser recortados.
• Celular e/ou material para registro, se assim for possível.
• 3 objetos das cores: verde, amarelo e vermelho.
• Tatames, colchonetes e/ou colchões.

Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.  

Conversa inicial

Como mobilização dos saberes prévios e convite à aprendizagem de novas possibilidades, peça aos estudantes para fazer um desenho, em folhas de papel A4 ou em seus próprios cadernos, representando uma atividade já realizada na aula de Educação Física, em que foi preciso saltar (aqui, sugerimos o recorte dos saltos, mas o mesmo procedimento pode ser utilizado para a identificação de qualquer elemento gímnico proposto neste plano).

Em seguida, peça para os estudantes observarem os desenhos dos colegas e, em seguida, pergunte à turma: Os desenhos representam as mesmas atividades ou atividades variadas? Existem muitas maneiras de saltar? Quais você conhece? Em quais atividades, como brincar, dançar, jogar, o salto está presente? O que pode acontecer se não respeitarmos o limite do nosso corpo? Como nosso corpo avisa que você está ultrapassando o limite? Explique como realiza os saltos sem se machucar? Quais cuidados devemos ter ao saltar? Quais são os segmentos corporais mais utilizados quando saltamos? Qual atividade que é necessário saltar você mais gostou de executar?

Convide os estudantes a refletirem sobre os demais movimentos das ginásticas relacionados com outras práticas corporais, entendendo os movimentos corporais como constituintes da experiência. Questione-os sobre onde os equilíbrios, as rotações e até as acrobacias podem aparecer.

Comente que os desenhos produzidos serão expostos nos espaços próximos à sala de aula para que possam analisar e visualizar com mais facilidade.  

Observe as características da turma e, para eliminar possíveis barreiras, combine outras formas de comunicação.

Atividade

1. Pega-pega avião

Trata-se de um pega-pega comum, com dois pegadores preestabelecidos. Assim, quem for pego deve permanecer no lugar, só que equilibrado como um avião (assim, os estudantes podem escolher como performar o seu avião, sem um modelo preestabelecido sugerido). Para serem salvos, é preciso que dois estudantes congelados no lugar, e, portanto, pegos em proximidade espacial, encostem qualquer parte do corpo entre si, fazendo o que aqui denominamos “ligação corporal”.

Para complexificar a tarefa, depois de um determinado tempo, permita que os estudantes se movimentem pelo espaço à procura de outros estudantes que foram pegos, mas para tal, eles só podem se locomover através de saltos e/ou giros, ainda performando aviões. A sugestão:

• Primeiro momento do jogo: Se for pego, o estudante deve congelar no lugar, em forma de avião; para voltar ao jogo, é preciso fazer uma ligação corporal entre dois estudantes-aviões que foram pegos em proximidade espacial.
• Segundo momento do jogo: Para encontrar outro estudante-avião pelo espaço, o estudante pode saltar e/ou girar, das mais diferentes formas, até encontrar outro estudante-avião, fazer uma ligação corporal, e voltar a ser fugitivo.
• Terceiro momento do jogo: os estudantes podem escolher outras formas de se equilibrar, explorando diferentes possibilidades de apoio no chão (dois apoios, três apoios, quatro apoios). É importante considerar as proposições dos estudantes na escolha da regra deste jogo.

Caso haja possibilidade, peça aos estudantes que sugiram outras formas de locomoção para que possa haver a “ligação corporal”; ou peça para os estudantes escolherem diferentes formas para o pega-pega, explorando outros elementos gímnicos. Lembre-se de trocar os pegadores, para que todos os estudantes possam ter a experiência de ser pegador e fugitivo.

Depois da vivência corporal, dialogue com os estudantes quais foram os movimentos escolhidos para:

1. Representar o avião.
2. Escapar do pegador.
3. Encontrar outro estudante que também era avião para fazer a ligação corporal e voltar a ser fugitivo.

Além disso, pergunte aos estudantes - e peça para que eles respondam corporalmente:

1. Como fizeram para saltar e equilibrar ao mesmo tempo?

2. Como foi equilibrar e girar ao mesmo tempo?

3. Quais foram os movimentos mais fáceis e difíceis de serem executados?

2. Atravessando o bosque

Convide os estudantes para uma travessia no bosque. Organize o espaço com uma fileira de tatames, colchonetes ou colchões, e nomeie elementos do bosque, como troncos, rios, cipós, árvores, arbustos, folhas. A seguir, peça para que os estudantes, um em seguida do outro, atravessem o bosque de uma ponta a outra. A cada vez que os estudantes atravessarem o espaço, solicite uma comanda diferente:

• Como quiser, realizando o movimento gímnico que desejar.
• Apenas saltando (a partir do seu próprio repertório - com um pé, com os dois pés, no plano baixo, no plano alto etc.).
• Apenas girando (a partir do seu próprio repertório - lento, rápido, para a direita, para a esquerda etc.).
• Apenas rolando (a partir do seu próprio repertório - rolando de diferentes formas).
• Realizando o rolamento para frente grupado (nesse momento, é importante dar as dicas de aprendizagem: queixo colado ao peito, mãos como apoio no solo, a cabeça encostada no colchonete primeiro).

Nessa atividade, retome com os estudantes quais são os procedimentos de segurança necessários para que todos possam “atravessar o bosque” em segurança. Analisem conjuntamente o que poderia acontecer se alguém fizesse uma brincadeira enquanto o colega está realizando os movimentos pedidos na aula, como girar ou rolar. Retome que a segurança de todos e todas é uma regra inegociável neste processo.

Aos estudantes que possam ter qualquer dificuldade de locomoção, sugira outras possibilidades de movimento, respeitando seus próprios limites e valorizando suas potencialidades.

3. Mural de imagens

Em posse de revistas e jornais (ou mesmo em sites de buscas virtuais), peça para os estudantes, divididos em grupos menores, pesquisar imagens de pessoas realizando diferentes práticas corporais, como skate, corrida, yoga, futebol, atletismo etc. Depois, reúna as imagens que todos os grupos pesquisaram no centro da roda. Em seguida, peça para que cada um dos grupos escolha um dos elementos constitutivos das ginásticas (1. saltos; 2. giros; 3. equilíbrio; 4. rotações) e confeccionem um mural coletivo com as imagens das práticas corporais pesquisadas. Sugerimos que os estudantes também experimentem os movimentos, mesmo que de maneira simulada, como um movimento de giro sobre o skate ou um rolamento do judô.

Dessa forma, cada um dos grupos, sabendo a categoria do movimento gímnico escolhido e em posse do seu material (cartolina/papel kraft, giz, lápis de cor, tesoura sem ponta, cola), deve selecionar, dentre imagens reunidas no centro da roda, aquelas em que é preciso saltar ou girar ou rotacionar ou equilibrar para realizar aquela prática. Cada grupo poderá expor, no próprio espaço destinado às aulas de Educação Física, a sua produção.

Momento da reflexao

Proponha o jogo do farol, em que cada estudante deve ter em posse três objetos: um vermelho, um amarelo e outro verde (pode ser lápis de cor, cartões coloridos, tampinhas de garrafa ou qualquer objeto que os estudantes tenham na própria mochila e selecionem como adequados para o jogo).

Cada um dos objetos, a depender da sua cor, representa:

VERDE: SIM

AMARELO: MAIS OU MENOS

VERMELHO: NÃO

Ao professor realizar uma pergunta, o estudante deve escolher qual a cor do objeto representa suas atitudes nesta aula, refletindo sobre o próprio engajamento. Depois dos estudantes levantarem, ao mesmo tempo, o objeto escolhido de acordo com a cor estabelecida, o professor pode aprofundar as perguntas, indagando-os sobre a justificativa da escolha.

Sugerimos as seguintes perguntas:

• Você gostou de participar do pega-pega avião?
• Você participou do pega-pega avião?
• Você conseguiu fazer uma ligação corporal no pega-pega avião?
• Você conseguiu fazer um rolamento para frente?

Pensando nas atividades realizadas nessa aula:

• Você já usou o equilíbrio em outras atividades da aula de Educação Física?
• Você já usou os saltos em outras atividades da aula de Educação Física?
• Você já usou os giros em outras atividades da aula de Educação Física?
• Você sentiu muita dificuldade em algum exercício da aula?
• Você sentiu muita facilidade em algum exercício da aula?
• Você colaborou com os procedimentos de segurança exigidos nessa aula?
• Você encontrou imagens durante a sua pesquisa?
• Você colaborou na construção do cartaz?
• Você olhou/apreciou os cartazes dos outros grupos?
• Você considera que todos na turma têm o mesmo desempenho ao realizar uma tarefa?

Entre cada uma das perguntas, questione os estudantes sobre como foi feito isso, ou peça para que justifiquem suas escolhas (exemplo: Você colaborou na construção do cartaz? Quem levantou o verde poderia me dar um exemplo de como fez isso? Quem levantou o amarelo poderia explicar o que faltou para colaborar mais? Quem levantou o vermelho, por que isso aconteceu?).

Escute os estudantes sobre suas reflexões e entendimentos. O jogo do farol é um disparador para que os estudantes se impliquem na reflexão do processo, mas seus entendimentos e opiniões devem ser acolhidos como importantes construções.

Aos estudantes que tenham qualquer barreira visual, combine outra gramática de sinalização, usando diferentes objetos ou sons ao invés das cores.  

Sistematizacao do conhecimento

Retome com os estudantes que os elementos constituintes das ginásticas também compõem outras práticas corporais, por isso, são movimentos que poderão ser experienciados ao longo de toda a escolaridade e também ao longo da vida em diferentes situações no lazer, nas atividades do cotidiano, na escola e até no trabalho.

A partir dos desenhos representados no mural de imagens que fizeram durante a aula, aproveite para confirmar a identificação de outras práticas corporais em que saltar, girar, rolar, equilibrar são movimentos amplamente utilizados. Peça que, inclusive, eles analisem os desenhos produzidos na Conversa inicial comparando com estes. Confirme as hipóteses sobre as possibilidades de utilização dos elementos da ginástica nas brincadeiras, nos jogos e em outras práticas. É importante que os estudantes percebam que, nas brincadeiras experienciadas, utilizam-se elementos gímnicos, inclusive explorados anteriormente. Situe que jogos e brincadeiras são práticas corporais e no pega-pega os movimentos das ginásticas, como equilíbrio, saltos e giros, fizeram parte das regras do jogo, assim como ao “atravessar o bosque” os estudantes tiveram de encontrar estratégias para fazê-lo a partir dos desafios propostos pelo professor.

Comente as estratégias utilizadas para a execução dos movimentos da ginástica nas atividades práticas. Elogie formas criativas que os estudantes lançaram mão para resolução de problemas, usando elementos corporais aos quais já estão familiarizados, podendo expressar-se não por meio de um padrão preestabelecido pelo professor, mas entendendo que existem diversas formas para se equilibrar, girar ou saltar, e todas elas são igualmente válidas no espaço escolar.

Retome com os estudantes os procedimentos de segurança exigidos para que a prática aconteça com os devidos cuidados, relembrando-os de que a responsabilidade pela própria segurança e a segurança do outro é fundamental para que todos possam experimentar os movimentos propostos.

Converse e conscientize-os também sobre a importância de respeitar os limites do próprio corpo e também os movimentos executados pelos colegas; é importante que busquem estratégias para encontrar soluções para as questões propostas em aula, mas que entendam que não existe apenas uma maneira de resolver os problemas. Isso tornou-se evidente na vivência do pega-pega avião. Existem inúmeras maneiras de ser avião ou de fazer uma “ligação corporal”, e todas elas são válidas, desde que estejam fundamentadas nos princípios de respeito e segurança.

Registro e avaliacao

Como registro, tanto os desenhos feitos no início de conversa quanto os cartazes construídos pelos estudantes no percurso da aula podem ser expostos no próprio espaço da aula, compartilhando o processo com todos da turma.

Ao final deste bloco, é importante dar um feedback aos estudantes, considerando os seus registros como parte do aprendizado, retomando o que foi feito e relacionando com o que foi aprendido. Pontue sobre os avanços da turma e estimule-os a encontrar alternativas para se desenvolverem cada vez mais.

Como verificação das aprendizagens, proponha uma autoavaliação, em que o estudante deve colorir, com as mesmas cores utilizadas no jogo do farol, a opção que o representa:

A depender da resposta dos estudantes, converse individualmente a fim de entender a percepção do estudante sobre si e, se necessário, propiciar uma nova perspectiva.

Para diagnosticar o que os estudantes aprenderam nas aulas, peça que respondam as questões - poderão ser feitas tanto em sala de aula quanto como tarefa de casa:

• Cite os movimentos que aprendeu nas aulas sobre ginásticas.
• Escolha um movimento da ginástica e explique como pode estar presente em outras atividades.
• Explique o que fez para respeitar os limites do seu próprio corpo.

Barreiras

Barreiras

• Excluir os estudantes das atividades em nome de uma suposta segurança.
• Valorizar a performance de uma única técnica de movimentos propostos nas vivências.
• Considerar as produções pelo seu resultado final e não pelo processo.

Sugestões para eliminar ou reduzir as barreiras

• Incentivar os estudantes para que descubram a sua forma de expressar-se pelo movimento.
• Possibilitar que realizem os movimentos a partir das suas potencialidades e reconhecendo os seus limites.
• Valorizar o processo da construção do conhecimento, sem que o foco seja exclusivamente o produto final.

Desdobramentos

Sugerimos que nos desdobramentos deste plano retome com os estudantes outras unidades temáticas e outros objetos de conhecimento já vivenciados anteriormente, relacionando aos movimentos das ginásticas estudados neste bloco com os conteúdos específicos referentes a outras práticas corporais.

Por exemplo, na unidade temática esportes e considerando o objeto de conhecimento “esportes de marca”, retome os conhecimentos sobre essa unidade temática e relacione com a prática corporal do atletismo. Pode-se associar os saltos vivenciados nas ginásticas às modalidades esportivas salto em altura e salto em distância, reconhecendo os elementos que constituem (para saltar o mais distante possível o que é preciso fazer? para saltar o mais alto possível, o que é preciso fazer?), relacionando suas semelhanças e diferenças.

Dessa forma, é possível propor uma vivência corporal em pequenos grupos, onde os estudantes deverão explorar as modalidades que compõem a prática corporal atletismo, identificando em quais dessas práticas é necessário saltar e como deverão realizar esses saltos para chegar ao objetivo da prática. Assim, exploram diferentes espaços e diferentes práticas, associando o que já aprenderam com o que estão aprendendo. Os pequenos grupos devem compartilhar as hipóteses e investigações que fizeram ao encontrar as semelhanças e as diferenças experimentadas.

Pode-se proceder do mesmo modo explorando outras unidades temáticas com as quais os estudantes tiveram contato.

Essa é uma possibilidade de retomar os conhecimentos de modo espiral: complexificando e expandindo o que outrora foi experimentado, atribuindo novos sentidos e significados.