A proposição deste plano é levar os estudantes a identificar as diferentes formas de preconceitos existentes nas práticas corporais que se manifestam em estereotipagens criadas socialmente. Os estudantes serão desafiados a se posicionar criticamente contra condutas preconceituosas e se sensibilizar com relação à valorização do respeito à diversidade de gênero, etnia, religião, entre outras, se posicionando sobre a importância do respeito à diversidade.
Identificar as diferentes formas de preconceitos existentes nas práticas corporais.
Identificar os estereótipos e posicionar-se criticamente frente a condutas preconceituosas.
Respeitar e valorizar a diversidade de gênero, etnia, dentre outras.
Competências gerais
3. Repertório cultural
4. Comunicação
7. Argumentação
8. Autocontrole e autocuidado
9. Empatia e cooperação
10. Responsabilidade e cidadania
Desconstruir preconceitos nos remete, inicialmente, a compreender que nossa sociedade é plural, diversa e se constrói com base nas relações de poder, familiares, de interesse, ou ligadas à construção cultural de um povo, nos diversos meios. Segundo Alves (2019, p. 42),
[...] essa discussão não se restringe apenas ao Brasil, mas transcende suas fronteiras, emergindo em contextos diversos, conforme a demanda, as causas, os fatores que se apresentam no âmbito social que impõem a discussão sobre o tema [...]
Para Abramowicz, Rodrigues e Cruz (2011, p.87), a “imigração, gênero, sexualidade, raça, etnia, religião e língua são os principais fatores que desencadearam um processo de mobilização e discussão sobre a diversidade”.
A BNCC traz a discussão e o combate aos preconceitos que essa diversidade pode gerar, a partir da contextualização dos temas transversais, apontando a diversidade trabalhada a partir do multiculturalismo e por meio da cidadania e do civismo.
Para contextualizar com os estudantes a desconstrução dos preconceitos tematizados a partir das diversidades, tematizamos o conceito de estereótipos e preconceito definidos pelo dicionário Priberam como:
Estereótipo
Ideia, conceito ou modelo que se estabelece como padrão.
Ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial = PRECONCEITO.
Preconceito
1. Ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial.
2. Opinião desfavorável que não é baseada em dados objetivos = INTOLERÂNCIA.
Os preconceitos manifestos na sociedade são refletidos nas práticas corporais, evidenciando atitudes que segregam, excluem, diminuem as pessoas que fogem ao que é considerado socialmente (erroneamente) como o correto ou padrão.
Os estereótipos, que são estabelecidos pelo senso comum a partir da falta de conhecimento das pessoas, criam e classificam as práticas corporais quanto ao tipo de prática ideal para negros, brancos, homens, mulheres, deficientes, pessoas de religiões diversificadas e afins.
Neste plano os estudantes irão identificar as diferentes formas de preconceitos existentes nas práticas corporais e serão desafiados a se posicionar criticamente contra condutas que os reafirmam.
Por meio da atividade, buscamos sensibilizar os estudantes com relação à valorização do respeito à diversidade de gênero, etnia, religião, entre outras, se posicionando sobre a importância do respeito à diversidade.
ABRAMOWICZ, A.; RODRIGUES, T. C.; CRUZ, A. C. J. da. A diferença e a diversidade na educação contemporânea. Revista de Sociologia da UFSCar, São Carlos, Departamento de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar, 2011, n. 2, p. 85-97. Disponível em: https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:uBH65xVBgGgJ:https://www.contemporanea.ufscar.br/index.php/contemporanea/article/download/38/20+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br. Acesso em: 24 jan. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.
Conversa inicial
Inicie a aula apresentando aos estudantes as sete imagens sugeridas que fazem referência às diversidades nas práticas corporais.
Apresente as imagens em um cartaz ou em algum recurso digital como um slide. Peça que os estudantes visualizem e escrevam em um caderno o que eles observam das imagens: as características, o que lhes chama a atenção, o que vem à mente de maneira espontânea quando eles veem cada imagem.
Prepare, antecipadamente, uma caixa que servirá de espaço para os estudantes colocarem o papel da atividade. Sugerimos que essa caixa seja chamada de caixa anônima.
Ressalte com os estudantes que se trata de texto que não é para ser identificado, ou seja, eles não precisam colocar o nome, pois a intenção é fazer um levantamento sobre as características de cada imagem apresentada, identificando as formas como os estudantes enxergam cada uma das pessoas que se apresentam nas imagens.
Observe se na turma existe a necessidade de adaptar a dinâmica para incluir todos. Caso seja necessário, divida a turma em duplas para uma melhor visualização das imagens e da escrita no papel.
Após todos os estudantes terem preenchido e colocado os papéis na caixa, faça uma roda de conversa com o grupo para a leitura do que foi escrito. Fique atento às características que são estabelecidas a partir das práticas corporais e dos estereótipos socialmente criados. Algumas respostas podem aparecer, como:
Futebol não é esporte de mulher.
Futebol de mulher não é coisa séria.
As mulheres que jogam futebol escolhem outra orientação sexual.
Balé não é dança para homem.
Corrida de carro é uma atividade masculina, mulher no volante, perigo constante.
Luta é coisa de homem e não de mulher.
Não se deveria usar turbante para jogar vôlei.
Como pode uma pessoa dançar com um cadeirante? Um cadeirante pode dançar?
Patinação no gelo é coisa de mulher.
Esses são exemplos de falas socialmente utilizadas e que são carregadas de preconceitos que acabam criando estereótipos acerca das diversidades nas práticas corporais. As respostas dos estudantes podem vir semelhantes a essas ou trazendo outras observações, o importante é a forma como será conduzida a fala a partir das respostas.
Ao terminar de ler as respostas dos estudantes, pergunte ao grupo o que é um estereótipo, como ele se constrói na sociedade e como ele se manifesta em situações cotidianas.
Ouça e contextualize as respostas dos estudantes trazendo ao grupo o significado de estereótipo e como ele está ligado à construção de preconceitos. Traga a definição, de acordo com o texto do dicionário Priberam (definição no Para saber mais), e complemente que ambos os conceitos são resultado da criação de um julgamento prévio de algo, ou alguém, carregado de uma atitude discriminatória que leva consigo uma fala ou um posicionamento que ridicularize ou estabeleça juízo de valor acerca de certos grupos e etnias. Ressalte que opiniões, mesmo que individuais, também podem ser preconceituosas.
Evidencie que, infelizmente, falas como as citadas acima são recorrentes nas situações cotidianas das práticas corporais, mas essas falas, apesar de comuns, não são corretas e devem ser combatidas por meio de uma desconstrução desses conceitos equivocados.
Atividade
Sugerimos como atividade a experimentação de uma dança que será realizada de maneira espontânea pelo grupo.
Desafie os estudantes a se movimentarem espontaneamente utilizando os elementos constitutivos das danças, ritmo, espaço e gestos, acompanhando a música que será tocada.
Explique aos estudantes que não há um jeito certo ou errado de dançar, mas que a atividade é para que experimentem se movimentar por meio da música do jeito que puderem. Informe aos estudantes que eles podem dançar em duplas ou sozinhos.
Utilize o áudio do vídeo a seguir entre os 36’’ e 2’39’’:
Durante a atividade observe a atitude dos estudantes: se participaram, se respeitaram os colegas, se sentiram vergonha, se soltaram, se exploraram os espaços, se realizaram a proposta em pares ou individualmente, se riram dos colegas que dançavam ou se permitiram vivenciar a atividade.
Momento da reflexao
Após terem realizado a dança, chame os estudantes em uma roda de conversa e apresente o seguinte vídeo que contextualiza a mesma música da atividade:
Utilize o vídeo e o áudio entre os 36’’ e 2’39’’:
Ao final do vídeo, faça algumas perguntas aos estudantes:
Vocês tinham visto homens e mulheres dançando essa música da maneira como assistiram no vídeo? Por quê?
Os gestos dos dançarinos homens parecem exagerados?
Como foi para vocês dançar a mesma música? Gostaram?
Por que eles estão dançando desse jeito? É lazer? É descontração? É ritual? É competição?
A competição faz com que dancem desse jeito?
Por que existem esportes que são muito pouco praticados por mulheres, como o automobilismo ou as lutas?
E em relação aos homens? Quais práticas corporais são consideradas femininas e que quando homens a praticam ficam envoltos em alguns estereótipos?
Existe esporte de branco e esporte de negro?
Existe esporte de gordo e esporte de magro?
Por que existem práticas corporais que sofrem preconceito quanto à modalidade?
Na dança, o break é dominado pelos homens e não existe preconceito contra eles. Já no balé ocorre o oposto.
Por que, em alguns campeonatos, os homens recebem maior premiação do que as mulheres?
Algumas religiões não deveriam permitir que seus adeptos pratiquem esportes (homens e mulheres)?
Existem práticas corporais que não devem ser praticadas por pessoas com deficiência?
De acordo com a sua realidade, proponha estratégias complementares para incluir todos na reflexão. Utilize recursos para que os estudantes respondam as perguntas como a caixa anônima para colocar as respostas, um cartaz para preencherem com as respostas, ou peça que respondam espontaneamente no quadro da sala. Conecte as respostas dos estudantes à Sistematização do conhecimento.
Sistematizacao do conhecimento
Sistematize as aprendizagens discutindo com os estudantes sobre os estereótipos e preconceitos relativos às práticas corporais.
Comente com os estudantes que as práticas corporais foram criadas originalmente a partir de um grupo comum, seja gênero, etnia ou características, e, com o passar do tempo e a evolução da história, diferentes gêneros, etnias e características desenvolveram as possibilidades de diversos modos de experienciar essas práticas corporais, seja por lazer, para se divertir, para exercitar o corpo ou para competir de modo profissional.
Evidencie com os estudantes que não existe, nas práticas corporais, uma segregação, separação ou classificação por gênero, cor, raça, orientação sexual, deficiência ou religião. As práticas corporais de movimento são para todos que desejarem praticar, sem distinção.
Contextualize que, no vídeo da prática de dança, os movimentos dos dançarinos e a forma como cada um dos pares expressa os gestos, diz respeito ao contexto do modo de prática, não significando que as características pessoais de cada um dos dançarinos seja evidenciada pelo gesto no momento da dança, mas que a forma como ali se expressam está atravessada pelo contexto.
Reforce com o grupo a necessidade de respeitar, valorizar e multiplicar com outras pessoas um comportamento valorativo e empático com as diversidades de gênero, raça, cor, orientação sexual, religião ou características.
Registro e avaliacao
Sugerimos como registro e avaliação um segundo momento da caixa anônima.
Para esse momento de registro, traga novamente as imagens da Conversa inicial e peça que os estudantes possam, olhando para cada uma das imagens, escrever três conceitos valorativos sobre cada imagem e coloquem novamente na caixa anônima.
A ideia é reforçar a necessidade do desenvolvimento de um olhar empático, acolhedor e respeitoso a cada uma das diversidades. Adjetivos podem ser usados para atribuir valores às características dos personagens das imagens.
Novamente, fique atento às diversidades do grupo, e, caso haja necessidade, adapte essa atividade para ser feita em dupla a fim de possibilitar uma melhor visualização e escrita.
Ao final do tempo que julgar necessário para essa construção, faça uma roda de conversa com a turma e leia com o grupo o que escreveram.
Para enfatizar um comportamento valorativo, anote no quadro as palavras-chave que aparecem, atribuindo valores aos personagens das imagens. Destaque com o grupo a necessidade de estender esse olhar às pessoas comuns que estão ao nosso lado no dia a dia, seja no espaço de uma prática corporal, na sala de aula, na comunidade escolar, na vizinhança, ou nos espaços em que estivermos inseridos, a fim de cultivar um comportamento que venha desconstruir esses preconceitos.
Se julgar necessário, peça para que componham um breve texto sobre outras situações que observam em práticas corporais ou em situações do dia a dia e sobre de que modo poderiam ser combatidas ou transformadas.
Barreiras
Barreiras
Apresentar apenas uma forma de visualização das imagens da Conversa inicial.
Possibilitar apenas uma forma de registro por parte dos estudantes.
Exigir movimentos complexos ou elaborados durante as atividades.
Sugestões para eliminar ou reduzir as barreiras
Dividir a turma em duplas para socialização e conversa sobre as imagens.
Propor alternativas para registro por meio de múltiplas linguagens como áudio ou desenho.
Possibilitar pequenas pausas na apresentação do vídeo e explicação do que está acontecendo para que seja compartilhado com todo o grupo o que está sendo apresentado.
Desdobramentos
Sugerimos para as aulas subsequentes vivências de práticas corporais diversificadas, a fim de possibilitar a experimentação e desconstrução de paradigmas sociais criados que estabelecem conceitos equivocados frente às diversidades.
Sugerimos também como reflexão das ações uma atividade para ser compartilhada com a comunidade escolar, a fim de possibilitar a desconstrução de preconceitos socialmente estabelecidos. A atividade consistirá em uma “Mostra da Diversidade nas Práticas Corporais”, onde podem ser compartilhadas, em todos os espaços escolares, imagens que evidenciem as diversidades nas práticas corporais com palavras-chave que atribuem valores chamando a atenção para a reflexão e mudança de paradigmas. Essa atividade pode ser feita em parceria com os professores de outros componentes curriculares, como Língua Portuguesa, Produção de texto, Artes, dentre outros.
Inicie apresentando o que vai ser trabalhado no próximo bloco de aulas: os preconceitos nas práticas corporais. Pergunte aos estudantes o que eles entendem por preconceito e por estereótipo. Proceda como na Conversa inicial com as devidas adaptações em razão de a aula ser remota. Apresente aos estudantes as imagens sugeridas e peça aos estudantes que visualizem e exponham suas observações sobre o que lhes chama a atenção nas imagens.
Leve os estudantes a refletirem sobre os estereótipos que estão presentes nas imagens. Traga a definição de estereótipo e preconceito, de acordo com o texto do dicionário Priberam (definição no Para saber mais) e complemente que ambos os conceitos são resultados da criação de um julgamento prévio de algo, ou alguém, carregado de uma atitude discriminatória que leva consigo uma fala ou um posicionamento que ridicularize ou estabeleça juízo de valor acerca de certos grupos e etnias. Ressalte que opiniões, mesmo que individuais, também podem ser preconceituosas.
Solicite aos estudantes que pesquisem ou relatem práticas corporais que já presenciaram, carregadas de preconceitos. Peça a eles que escrevam no caderno suas observações e que, posteriormente, exponham para a classe. Acrescente às observações dos estudantes que há necessidade de respeitar, valorizar e multiplicar com outras pessoas um comportamento valorativo e empático com as diversidades, sejam de gênero, raça, cor, orientação sexual, religião ou característica. Diga que, apesar de comuns, não é correta essa maneira preconceituosa de lidar com as práticas corporais e deve ser combatida por meio de uma desconstrução desses conceitos equivocados.
Para complementação dos conhecimentos desenvolvidos nas aulas, apresente o vídeo do Momento de reflexão e explore as questões inerentes a este momento da atividade. Sinta-se à vontade para incluir mais perguntas, de acordo com o que os estudantes expuseram e falaram a respeito do preconceito nas práticas corporais.
Este plano de atividade foi elaborado pelo time de autores NOVA ESCOLA.
Autor: Anansa Campos
Coautor: Laércio de Moura Jorge
Mentor: Edison de Jesus Manoel
Especialista da área: Luis Henrique Martins Vasquinho