Identificar os esportes de marca, precisão, invasão e técnico-combinatórios praticados na sua região.
Analisar as diferenças entre os esportes praticados por lazer e profissionalmente.
Criar possibilidades de vivências no âmbito escolar de esportes na sua região.
Compreender as diferenças entre a prática de esportes no lazer e profissional.
Competências gerais
1. Conhecimento
3. Repertório cultural
4. Comunicação
10. Responsabilidade e cidadania
Desde a caracterização dos esportes na Era Moderna, houve o entendimento de que as práticas esportivas são direito de todas as pessoas. Esse pressuposto rompeu com a perspectiva anterior, que dizia que o esporte era uma prerrogativa apenas dos que tinham talento para tal e eram anatomicamente e fisiologicamente dotados, fazendo com que o esporte saísse da perspectiva única do rendimento para a perspectiva do direito de todos às práticas esportivas. O marco desse novo entendimento do fenômeno esportivo é, sem dúvida, a Carta Internacional de Educação Física e Esporte da Unesco, de 1978 (Tubino, 2010).
Hoje, segundo a BNCC (2018, p. 215), os esportes reúnem
[...] tanto as manifestações mais formais dessa prática quanto as derivadas. O esporte como uma das práticas mais conhecidas da contemporaneidade, por sua grande presença nos meios de comunicação, caracteriza-se por ser orientado pela comparação de um determinado desempenho entre indivíduos ou grupos (adversários), regido por um conjunto de regras formais, institucionalizadas por organizações (associações, federações e confederações esportivas), as quais definem as normas de disputa e promovem o desenvolvimento das modalidades em todos os níveis de competição. No entanto, essas características não possuem um único sentido ou somente um significado entre aqueles que o praticam, especialmente quando o esporte é realizado no contexto do lazer, da educação e da saúde.
No que essa definição dos esportes propõe, as características das modalidades são mantidas, mas são adaptadas às regras formais, como o número de jogadores, os materiais, os espaços de jogo e a intencionalidade, visando à prática dos esportes em diferentes contextos.
Darido (2000) faz a seguinte diferenciação, com base nas dimensões sociais do esporte de Tubino:
Esporte – educação
Focalizado na escola, tem por finalidade democratizar e gerar cultura pelo movimento de expressão do indivíduo em ação, como manifestação social e exercício crítico da cidadania, evitando a exclusão e competitividade exacerbadas.
Esporte – participação
Referenciado pelo princípio do prazer lúdico, ocorre em espaços não comprometidos com o tempo e livres de obrigações da vida cotidiana, apresentando-se como propósito a descontração, a diversão, o desenvolvimento pessoal e a interação social.
Esporte – performance
É também chamado de esporte de alto rendimento e traz consigo os propósitos de novos êxitos e a vitória sobre os adversários.
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular,2018.
DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física na Escola: implicações para a prática pedagógica, 2000. (Grupo Gen-Guanabara Koogan).
TUBINO, M. J. G. Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação / Manoel Tubino. Maringá: Eduem, 2010. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/123456789/130. Acesso em: 09 dez. 2021.
Materiais sugeridos
Cones.
Bolas.
Corda.
Giz.
Apito.
Cronômetro.
Bastões.
Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.
Conversa inicial
Reúna os estudantes em círculo para uma conversa e questione-os sobre o que se lembram acerca da classificação dos esportes. Recorde-os das características dos esportes de marca, de invasão, de precisão e técnico-combinatórios, e, se julgar necessário, utilize o Para saber mais como suporte. Peça a eles que deem exemplos de esportes que se enquadram em cada uma dessas classificações. Importante considerar que os esportes técnico-combinatórios foram introduzidos somente no 6º ano, portanto, pode ser que alguns estudantes desconheçam modalidades relacionadas a essa classificação.
Em seguida, pergunte quem pratica ou já praticou algum desses esportes, se já viram alguém praticando algum desses esportes nas redondezas de onde moram, onde frequentam, ou mesmo próximo à escola. Existe algum lugar apropriado à prática esportiva nesses locais? Nesse sentido, vale alertar sobre a responsabilidade do Estado fornecer possibilidades de lazer e esporte a sua população, pois eles são um direito de todos.
Proponha uma pesquisa individual para saberem sobre a ocorrência da prática desses esportes na região onde moram. Para isso, peça a eles que entrevistem os pais, familiares e vizinhos (mínimo três pessoas), perguntando quais esportes eles já puderam observar sendo praticados naquela região, onde isso ocorreu, e em qual contexto se apresentava. Existe lugar específico para a prática perto de onde moram? Quais atividades são oferecidas? De posse dessas respostas, os estudantes devem formar uma lista dos esportes já vistos, classificá-los de acordo com suas características e apresentar o contexto em que eram praticados.
Ex.: Tabela 1
Esportes
Onde praticavam/contexto apresentado
Característica desse tipo de esporte
Classificação
Atletismo (corrida)
Ciclovia/manter a forma (lazer).
Corriam para atingir uma marca (tempo ou distância).
Esporte de marca
Natação
Clube/disputa oficial
(profissional).
Nadavam o mais rápido possível para ganhar.
Esporte de marca
Futebol
Estádio local/campeonato oficial (profissional).
As equipes se apresentavam inicialmente uma em cada campo, tinham estratégias de ataque e defesa para atingir e proteger um alvo comum.
Esportes de invasão
Em seguida, peça aos estudantes que, com base em suas pesquisas, transfiram o que registraram para um espaço maior (papel kraft ou quadro) com os esportes que apareceram em suas pesquisas, formando uma tabela única da turma.
Com base nessa tabela, maior e único da turma, fica fácil visualizar, de uma maneira geral, quais são os esportes mais praticados ou menos praticados nas redondezas onde moram e frequentam. A partir dessa visualização, questione-os sobre os que mais apareceram no quadro e proponha a feitura de uma lista desses esportes.
Dessa forma, crie com os estudantes uma lista com os esportes mais comuns para aquela localidade.
Após a criação da lista de esportes na localidade onde moram, forme grupos para que eles conversem entre si sobre possibilidades para tematizar alguns desses esportes no contexto escolar.
Eles devem propor uma prática o mais próximo possível da sua manifestação profissional e de lazer.
Na atividade a seguir, sugerimos uma prática a partir de um esporte de invasão.
Atividade
Prática de lazer
O termo correto para se definir o esporte realizado em ambiente escolar, no qual são propostas adaptações para que todos os estudantes participem, chama-se esporte-educação.
Nesta atividade propomos que os estudantes simulem uma modalidade esportiva em uma situação de lazer.
Quando estamos no lazer, as atividades que praticamos devem ter uma característica que nos façam sentir bem. Deste modo, é necessário que organizem as atividades adaptando os espaços e as regras a uma das modalidades listadas, de modo que todos possam participar. Além disso, se estiverem com foco no resultado, a derrota pode causar desconforto. Nesse caso é possível sentir prazer somente no ato de jogar?
Veja se é necessária a divisão dos estudantes em grupos. Permita que eles organizem as práticas. Circule pelos grupos e faça intervenções quando julgar necessário. Observe as proposições, os diálogos, as ideias de adaptação. Ao final, peça aos grupos que apresentem a sua proposta. A turma deve votar em uma ou mais práticas criadas e experimentá-las. Após as práticas, veja se é necessário fazer adaptações ou mudanças nas regras da atividade.
Prática profissional
Retome com os estudantes as características do esporte de rendimento. É uma prática competitiva, visa o resultado, portanto, valoriza os mais aptos ou habilidosos, possui regras rígidas aplicadas por um árbitro e o praticante visa uma recompensa maior do que apenas praticar a modalidade.
O esporte de rendimento se divide em duas vertentes.
Amadora ou não profissional: nessa vertente o indivíduo tem liberdade de prática, não há contrato de trabalho, mas tem as características dos esportes formais, como regras rígidas definidas.
Profissional: os participantes têm um contrato de trabalho que define uma determinada remuneração aos praticantes, firmado entre a entidade esportiva e o atleta.
Aqui a ideia é propor uma experiência aos estudantes, que se assemelhe à manifestação dos esportes profissionais. Portanto, propomos uma vivência considerando outras características presentes no esporte profissional que não incluam o contrato formal de trabalho.
Lembramos que, devido à precocidade cada vez mais presente no esporte, não é impossível encontrar estudantes no Ensino Fundamental com contrato profissional com alguma entidade ou que sejam patrocinados, como ocorre, por exemplo, nas práticas corporais de aventura. É importante considerar que, no Brasil, as leis proíbem atletas profissionais com idade menor do que 14 anos.
Após explicar essas diferenças, comente com os estudantes que irão simular uma modalidade de esporte de rendimento. Proponha uma modalidade de esportes de invasão a partir da lista feita pelos estudantes. Aqui sugerimos handebol.
Divida a sala em quatro grupos, que devem organizar a sua equipe na lógica do esporte de rendimento.
Devem escolher os melhores estudantes para integrar a equipe. Todos os que participam devem saber as regras da modalidade. Os menos habilidosos não participam.
O objetivo é ganhar o jogo.
Na experimentação, proponha um sorteio entre as quatro equipes. A equipe 1 joga contra a equipe 2. Seja o árbitro do jogo. A equipe que tomar um gol será eliminada.
Proceda da mesma forma com as equipes 3 e 4. Os vencedores fazem uma partida final também com um gol como objetivo.
Momento da reflexao
Depois das práticas, faça alguns questionamentos:
Como foi a sensação de praticar atividades em cada um dos formatos?
De qual gostaram mais?
Qual acharam mais justo?
Qual acharam mais inclusivo?
Qual das duas atividades seria mais indicada para estar mais presente nas aulas de Educação Física?
Qual a sensação de ser excluído no modo de prática de rendimento?
Qual a sensação de ser escolhido no modo de prática rendimento?
Qual a sensação de ganhar os jogos no modo de prática de rendimento? E na de lazer? Foram diferentes?
Qual a sensação de perder o jogo no modo de prática de rendimento? E na de lazer? Foram diferentes?
Por que existem pessoas que preferem o modo de prática de rendimento?
Por que existem pessoas que não gostam do modo de prática de rendimento?
Observe se é necessário utilizar recursos adicionais para que os estudantes participem do diálogo, como vídeos, textos e fotos.
Sistematizacao do conhecimento
Organize com os estudantes o que fizeram e discutiram até aqui.
Comente que o esporte é uma manifestação de grande impacto em nossa sociedade. Inicialmente, o esporte não visava o resultado. O importante era a participação. Com o passar do tempo, o esporte cresceu e se disseminou por todo o mundo. Gradativamente, os meios de comunicação começaram a transmitir competições das modalidades. Isso atraiu investimentos e patrocínios. Os melhores atletas começaram a ser contratados para integrar as equipes ou para divulgar produtos e a profissionalização se instituiu. Ou seja, houve uma evolução de esporte de rendimento amador para profissional.
Com o passar do tempo, surgiram outras denominações para os esportes praticados em outros locais, como na escola ou em momentos de lazer, assemelhando-se ao que se chama de jogo.
Comente que nas aulas de Educação Física devem procurar experimentar as atividades e desenvolver seus conhecimentos e experiências acerca do movimento humano. Essas aprendizagens são direito de todos, independente da sua habilidade.
Aqueles que gostarem e se interessarem, podem se aprofundar procurando locais onde são desenvolvidos treinamentos das modalidades e competições, que, em geral, é o caminho que se segue para chegar à profissionalização. É importante que saibam que é um caminho árduo e que no fim poucos chegam a se tornar profissionais.
Ao praticar modalidades esportivas em momentos de lazer, podemos aprimorar nosso condicionamento físico, desenvolver nossas estruturas corporais, melhorar nossas capacidades físicas e habilidades motoras, ampliar a possibilidade de relacionamento com as pessoas, conhecer e compreender diferentes culturas e desenvolver nossa capacidade de adaptação e relação com o ambiente físico.
Registro e avaliacao
Registro
Peça aos estudantes que escrevam um breve texto sobre as suas impressões das práticas dos esportes tanto na sua simulação da manifestação profissional como de lazer. Esse registro pode ser feito utilizando diferentes linguagens, como um texto escrito, um áudio, um desenho, uma maquete, um cartaz, um panfleto, entre outras.
Avaliação
Utilize os diálogos dos estudantes e as suas observações durante as práticas, além dos registros, como forma de avaliação. Grande parte deste plano de aula tem um componente atitudinal associado. Muitos estudantes gostam de práticas esportivas e alguns até sonham em se tornar profissionais. Observe a sugestão dos desdobramentos desta aula que aprofundam essas questões.
Após a leitura dos registros dos estudantes, observe a necessidade de pontuá-los com feedbacks sobre as suas impressões, especialmente no que se refere à inclusão de todos nas aulas de Educação Física e à percepção de que o esporte pode se manifestar de diferentes maneiras e é possível participar de práticas corporais independente da sua habilidade, desde que o foco não esteja no resultado. Uma vez compreendido isso, os estudantes passam a perceber que o seu desenvolvimento está mais no processo, na participação, no envolvimento com as propostas da aula, do que no saber executar a técnica correta de uma determinada prática corporal.
Barreiras
Barreiras
Deixar de oportunizar aos estudantes que adaptem as práticas.
Exigir que o estudante realize apenas o registro das atividades por escrito.
Apresentar apenas uma forma de orientação das atividades a serem realizadas.
Sugestões para eliminar ou reduzir as barreiras
Possibilitar as adaptações necessárias para que todos os estudantes participem das atividades, realizando as atividades dentro das suas condições físicas e cognitivas.
Possibilitar o registro da atividade da maneira como o estudante se considerar mais à vontade.
Utilizar diferentes formas para as orientações, explorando os recursos verbais, de demonstração e visuais.
Desdobramentos
Sugerimos que proceda nas aulas subsequentes apresentando aos estudantes um vídeo sobre o que é ser atleta profissional, conforme sugerido a seguir:
Após assistirem ao vídeo, peça aos estudantes que analisem a diferença entre a perspectiva dos esportes praticados por lazer e em âmbito profissional, e que completem o campo referente a esse assunto na Tabela 1, sugerida na Conversa inicial.
Qual é a diferença entre os esportes de alto rendimento e os esportes de participação, lazer/comunitário ou escolar?
Qual a relação dos esportes com a saúde? Podemos afirmar que qualquer prática esportiva proporciona saúde ou bem-estar?
O que é necessário para se tornar um profissional de uma modalidade esportiva?
Todos podem se tornar profissionais?
O que é necessário para se tornar um atleta profissional ou um engenheiro, um professor, um médico ou um advogado?
Observe as respostas dos estudantes. Possibilite que todos tenham a vez de falar. Observe o que respondem acerca das relações profissionais do esporte. Os caminhos para se tornar um atleta profissional são povoados por equívocos que magnetizam crianças e jovens em todo o mundo. Existe uma ideia de que os atletas profissionais são bem remunerados e vivem uma vida bastante confortável financeiramente. Além disso, para aqueles que gostam, praticar um esporte é bem mais atraente do que a formação escolar.
Sugerimos também que leia trechos do livro A infância entra em campo, cujo link segue disponível abaixo. Nele são discutidas as oportunidades e os problemas com a formação de crianças para serem jogadores de futebol.
Na página 37 encontram-se descritos os principais riscos encontrados no dia a dia das crianças:
- O afastamento do ensino regular e a profissionalização precoce, que concorrem com a formação escolar.
- A exploração e o abuso sexual, mencionados por quase todos os adultos entrevistados como uma ameaça real e recorrente.
- A ameaça à integridade física, decorrente de uma prática esportiva de alto impacto e esforço.
- O distanciamento da convivência familiar, que facilita o acesso de aliciadores de todo tipo a jovens que vivem longe da proteção de suas famílias.
Outra sugestão seria convidar um atleta ou ex-atleta para um diálogo com os estudantes sobre como é ou era a sua rotina em substituição ao vídeo proposto.
Para o ensino remoto utilize integralmente o desenvolvimento proposto na Conversa inicial. Para as práticas, sugerimos que utilize os jogos eletrônicos como atividade. Pergunte aos estudantes se conhecem jogos eletrônicos das modalidades pesquisadas. Existem inúmeros sites de acesso grátis para isso. Proponha que joguem da mesma maneira das atividades do plano: na sua perspectiva de lazer e em uma profissional, como seleção dos melhores e exclusão dos menos aptos. Pode-se promover um breve torneio on-line para isso e se definir quem seriam os melhores e quem ficaria de fora das equipes.
Proceda da mesma forma nas reflexões e na sistematização do conhecimento. Os jogos eletrônicos começaram como forma de lazer, se popularizaram e, hoje, são praticados profissionalmente.
Proceda com as reflexões dos desdobramentos. A profissionalização do esporte, muitas vezes, leva as pessoas a se dedicarem e serem iludidas pelo que assistem na TV. O glamour, o sucesso, a riqueza não se estendem a todos os praticantes. Procure entrar em contato com algum atleta ou ex-atleta que os estudantes conhecem ou por meio de redes sociais, solicitando que participe de um diálogo com os estudantes sobre a sua rotina.
Este plano de atividade foi elaborado pelo time de autores NOVA ESCOLA.
Autor: Mauro Fernando da Costa Souza
Mentor: Edison de Jesus Manoel
Especialista da área: Luis Henrique Martins Vasquinho