Para o diretor | Observação de sala de aula
Ao ver o cenário do entorno da EEF Miguel Antonio de Lemos, com ruas de terra batida, crianças e adolescentes chegando para estudar no pau de arara e a paisagem árida típica do sertão cearense, não dá para imaginar o tamanho dos resultados que ela consegue alcançar. “Nosso ideb dos anos iniciais do Ensino Fundamental vem crescendo a cada avaliação e foi de 8,9 em 2013 para 9,5 em 2015”, diz o diretor Amaral Barbosa. Ele conta que houve uma queda no índice dos anos finais, que passou de 6,2 para 5,1 no mesmo período, por causa da ausência de um dos alunos, que estava de mudança de cidade. Ainda assim, o índice está acima da média nacional de 4,5.
Os números derrubam a ideia de que as condições socioeconômicas e a Educação dos pais determinam a aprendizagem dos filhos. A escola de cerca de 130 alunos fica na zona rural de Pedra Branca, a 18 quilômetros do centro da cidade – que, por sua vez, está a 260 quilômetros de Fortaleza. Os moradores vivem da agricultura de subsistência e mais de um terço das pessoas com idade acima de 18 anos são analfabetas no município, de acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil.
O gestor atribui as conquistas a uma equipe comprometida – composta em sua maioria por ex-alunos na escola –, ao envolvimento da comunidade nas questões escolares e ao acompanhamento pedagógico, que inclui a observação que ele faz pessoalmente das salas de aula. “Não adianta termos uma infraestrutura boa se a aula não tem excelência”, afirma Amaral. Segundo o gestor, as observações de sala de aula têm melhorado as práticas pedagógicas não somente pelas sugestões que ele faz aos professores, mas porque isso os incentiva a ter uma cultura de pesquisa e planejamento constantes de formas mais eficientes e interessantes de ensinar.
SERÁ QUE QUEREM ME FISCALIZAR?
• É comum alguns professores se sentirem inseguros em ter as aulas assistidas pela direção. Na escola de Amaral, a ideia surgiu em uma reunião com os docentes. Mesmo assim, antes de iniciar a prática, ele conversou com cada um para tranquilizar e esclarecer que a ideia não era criticá-los, mas contribuir para a aprendizagem dos alunos.
• É fundamental compartilhar com os docentes tudo o que será observado. Isso diminui as desconfianças, além de apontar o que é relevante na hora de ensinar. Nada é imposto, mas acordado entre todos.
• A prática sistemática da observação faz com que os professores assumam uma postura crítica e investigativa sobre o próprio trabalho. Todo mês, Amaral dedica um tempo da rotina para passar nas salas, sem dizer aos docentes quando vai ser. São 14 professores e dez turmas. Em média, ele consegue ir em quatro salas em um dia.
MAIS UM NA TURMA
• Em classe, o diretor senta-se em uma carteira ao fundo. Caso haja uma dinâmica em grupos, ele entra em um deles para participar. Com a rotina de observações, os alunos já não estranham Amaral, e essa proximidade ajuda a identificar a receptividade deles à proposta.
• Amaral tem um roteiro de observação que o ajuda a levantar indicadores claros sobre o que pode ser aprimorado. Alguns itens essenciais são: objetivos da aula, relação dos alunos com o professor, ambiente em sala, valorização do saber da garotada e avaliações.
HORA DA DEVOLUTIVA
• Amaral reserva 20 minutos logo depois da aula para conversar com o professor sobre suas observações. Essa etapa é fundamental para dar sentido à prática. Sem um retorno claro e objetivo, os professores se sentem vigiados e as oportunidades de melhora nas estratégias didáticas não se materializam.>
• Na devolutiva, ele começa destacando os pontos positivos do que foi feito pelo docente. Em seguida, coloca os problemas já sugerindo soluções.
OUVIR TAMBÉM É IMPORTANTE
• Amaral criou um canal de comunicação para que ele também seja avaliado pela equipe. Um momento é reservado para isso durante as reuniões bimestrais de análise das propostas desenvolvidas. “Estabelecemos, assim, um elo de confiança”, finaliza o diretor.