Para começar
Sobre os planos de Educação Financeira
A Educação Financeira integra a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como um dos temas transversais que deve ser explorado e trabalhado concomitante aos demais componentes curriculares. De acordo com a Base, a Educação Financeira não deve se restringir ao ensino cru da Matemática. “Essa unidade temática favorece um estudo interdisciplinar envolvendo as dimensões culturais, sociais, políticas e psicológicas, além da econômica, sobre as questões do consumo, trabalho e dinheiro”. Pretende-se, com os planos de educação financeira, fazer os estudantes refletirem sobre ações individuais e coletivas que podem impactar sua vida e a da sociedade.
As orientações deste plano não devem ser apresentadas aos estudantes, pois elas detalham as ações e trazem mais subsídios para que você, professor, se organize melhor para a realização da aula.
Os planos de Educação Financeira têm como objetivo promover um trabalho inter e transdisciplinar, já que as habilidades destacadas para cada componente curricular se correlacionam com o tema transversal.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018a.
Ação prévia
Antes dessa aula é importante que você já tenha trabalhado com pelo menos uma das habilidades da BNCC indicadas nesta proposta, abrangendo temas como a redemocratização e juros. Caso isso não tenha acontecido, você pode realizar, antes, uma aula sobre a inflação no Brasil entre 1990 e 1994 e também sobre os cálculos de juros.
Para aula sobre inflação você pode usar o plano de aula “A inflação no Brasil e o Plano Real”, disponível no site da Nova Escola: https://planosdeaula.novaescola.org.br/fundamental/9ano/historia/a-inflacao-no-brasil-e-o-plano-real/5682.
Para as aulas sobre os cálculos de juros você pode acessar a sequência de planos sobre juros simples e compostos, disponível no site da Nova Escola: https://planosdeaula.novaescola.org.br/fundamental/9ano/matematica/sequencia/juros-simples-e-compostos/93.
Para se aprofundar
Sobre a poupança dos escravizados, acesse: GRINBERG, K. A poupança: alternativas para a compra da alforria no Brasil (2ª metade do século XIX). Revista de Indias, [S. l.], v. 71, n. 251, p. 137–158, 2011. Disponível em: https://revistadeindias.revistas.csic.es/index.php/revistadeindias/article/view/856 . Acesso em 07 Nov. 2021.
Sobre a hiperinflação nos anos 80, em podcast, acesse: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/acervo/educacao/audio/2019-04/na-trilha-da-historia-hiperinflacao-no-brasil-periodo-em-que-alta-de-precos/.
Sobre a volta da inflação em 2021 e a memória da hiperinflação dos anos 80, acesse: https://agemt.pucsp.br/noticias/alta-do-arroz-por-quem-viveu-os-anos-de-hiperinflacao.
Contexto
Tempo sugerido
10 minutos.
Orientações
Inicie essa etapa perguntando aos estudantes se eles já ouviram a expressão “guardar dinheiro no colchão”. Explique que nesta aula falaremos sobre formas de guardar dinheiro e apresente a reportagem feita pelo programa Globo Repórter sobre o Sr. Valdomiro e o seu dinheiro guardado no colchão.
O que propor?
Projete o vídeo com a reportagem. Inicie a discussão perguntando à turma:
- Vocês já ouviram a expressão “guardar dinheiro no colchão”? Por que o Sr. Valdomiro guarda o dinheiro no colchão?
Alguns estudantes podem recordar da expressão dita por pessoas mais velhas do seu convívio, como os avós, e espera-se que a turma indique a segurança como um dos principais motivos e mencionem também o fato de ele não ter conta em banco.
Informe à turma que algumas pessoas usavam o lugar onde dormiam para manter guardado em segurança o dinheiro resultante do esforço de seu trabalho. As contas bancárias só se tornaram populares e de fácil acesso na década de 1980, e ainda assim eram muito restritas às pessoas do meio urbano. Para as pessoas que viviam afastadas das cidades (uma realidade no Brasil até a década de 1990), havia muita desconfiança em relação a essas instituições. O serviço bancário mais acessível para as camadas populares foi a caderneta de poupança.
Encerre essa etapa perguntando aos estudantes se eles sabem o que é uma caderneta de poupança e convide-os a conhecer um pouco de sua história.
Sugestões de adequação
Caso não seja possível reproduzir o vídeo, forneça as cópias impressas da reportagem para a turma.
Problematização
Tempo sugerido
15 minutos.
Orientações
Organize a turma em quatro grupos e entregue a cada um dos grupos um dos materiais de análise.
O que propor?
Cada grupo receberá um tema relacionado à história da poupança para análise. Informe que cada grupo tem uma informação diferente e que deverá fazer a leitura e compartilhar com os demais grupos, de forma que ao final da atividade todos tenham acesso às mesmas informações. No quadro desenhe quatro colunas identificadas com os títulos dos grupos e informe aos estudantes que eles devem listar os principais pontos de seus textos para que sejam anotados no quadro:
Grupo 1 As origens da poupança no Brasil | Grupo 2 A poupança dos escravizados | Grupo 3 O Brasil da hiperinflação | Grupo 4 O Plano Collor
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Oriente que os grupos façam essa leitura e organizem a apresentação em sete minutos.
Circule pela sala e auxilie-os com o vocabulário e a organização da apresentação, reforçando que é importante que eles contem aos colegas qual era o assunto principal do documento e os detalhes que julgarem importantes.
Ao final do tempo, organize para que os grupos compartilhem suas análises e registrem no quadro os pontos destacados.
Espera-se que todos os grupos apresentem um resumo da leitura.
No grupo 1 é importante que os estudantes destaquem que a criação da poupança está relacionada com a possibilidade de que as camadas pobres guardassem suas economias, seja para reserva de emergência, seja para uma espécie de aposentadoria (explique à turma que não existiam aposentadorias e que, para poder se sustentar sem trabalhar, as pessoas precisariam ter algum dinheiro guardado). Guardar dinheiro era um hábito das pessoas, mas havia o risco de perdas e roubos.
No grupo 2 é importante que os estudantes percebam que a poupança foi utilizada como uma estratégia das pessoas escravizadas para juntar dinheiro e comprar suas alforrias (cartas de liberdade), uma forma de proteger o dinheiro dos seus senhores, que podiam confiscar os valores, se quisessem. Ressalte aos estudantes que, mesmo que a poupança tenha sido criada em 1861, somente uma década depois, em 1871, com a Lei do Ventre Livre, a maioria das pessoas do país, os escravizados, puderam ter acesso a esse serviço, o que acabou tornando-o popular. A exclusão de parte considerável da população de uma ação do governo ajuda a entender a desconfiança do Sr. Valdomiro (citado na seção Contexto) com relação aos bancos.
No grupo 3 é importante que os estudantes percebam que as sucessivas políticas de governo que acabavam gerando inflação, alta de preços, desvalorização e até troca de moedas geravam grande desconfiança por parte da população em relação às ações do governo. As práticas de estocar alimentos e guardar algum dinheiro na poupança se tornaram uma alternativa.
No grupo 4 os estudantes terão contato com o relato de mais uma política econômica de governo que gerou grandes impactos na vida cotidiana das pessoas, e é importante que eles percebam que o Plano Collor não só não combateu a inflação como reteve as economias de boa parte da população que usava a poupança como forma de proteger seu dinheiro. Ressalte que o confisco teve impacto na economia das famílias por ser a poupança um investimento conhecido, popular entre os trabalhadores das camadas mais pobres, que, mesmo sem ter relacionamento com bancos (na década de 1980 não era fácil ter uma conta em banco como é agora), muitas vezes escolhiam a poupança como forma de juntar e proteger algum dinheiro, assim como faziam os escravizados no século 19.
Ao final das apresentações faça a leitura dos pontos destacados pelos grupos e busque relacioná-los cronologicamente, explicando que a caderneta de poupança teve sua trajetória muito relacionada à capacidade de poupar das camadas populares e com a proteção dos rendimentos para investimentos futuros. É possível que alguns estudantes identifiquem a poupança como um serviço utilizado na família ou até por eles mesmos, por isso encerre essa etapa convidando-os a imaginar como seria o impacto de uma medida como a do Plano Collor atualmente na próxima etapa.
Sugestões de adequação
Caso você precise dividir a turma em mais grupos, faça em múltiplos de quatro para manter a sequência da atividade.
Sistematização
Tempo sugerido
15 minutos.
Orientações
Para finalizar essa aula, os estudantes irão calcular os prejuízos que um confisco numa caderneta de poupança poderia oferecer atualmente. Use o quadro para apresentar o problema.
O que propor?
Organize a turma, forneça os dados para o cálculo e apresente a questão:
Você iniciou uma caderneta de poupança em março de 2021, com um depósito no valor de R$ 100,00. Em setembro de 2022 um novo Plano Collor foi lançado e todos os depósitos foram confiscados! Qual foi o valor confiscado de sua conta poupança?
Oriente que a turma use seus cadernos para esse registro.
Para resolver a questão estudantes precisam ter os seguintes dados (você pode apresentar utilizando o quadro ou fornecer a ficha impressa):
Remuneração dos depósitos de poupança
De acordo com a legislação atual (*), a remuneração dos depósitos de poupança é composta de duas parcelas:
I - a remuneração básica, dada pela Taxa Referencial - TR, e
II - a remuneração adicional, correspondente a:
a) 0,5% ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano for superior a 8,5%; ou
70% da meta da taxa Selic ao ano, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento, enquanto a meta da taxa Selic ao ano for igual ou inferior a 8,5%.
A remuneração dos depósitos de poupança é calculada sobre o menor saldo de cada período de rendimento. O período de rendimento é o mês corrido, a partir da data de aniversário da conta de depósito de poupança, para os depósitos de pessoas físicas e de entidades sem fins lucrativos. Para os demais depósitos, o período de rendimento é o trimestre corrido, também contado a partir da data de aniversário da conta.
A data de aniversário da conta de depósito de poupança é o dia do mês de sua abertura. Considera-se a data de aniversário das contas abertas nos dias 29, 30 e 31 como o dia 1° do mês seguinte.
A remuneração dos depósitos de poupança é creditada ao final de cada período de rendimento, ou seja:
I - mensalmente, na data de aniversário da conta, para os depósitos de pessoa física e de entidades sem fins lucrativos; e
II - trimestralmente, na data de aniversário no último mês do trimestre, para os demais depósitos.
Após a orientação, circule pela sala e auxilie a turma na resolução do problema. Caso julgue necessário, você pode organizar os estudantes em duplas para debater a questão, mas mantenha a orientação de que cada um realize os cálculos em seu caderno.
Solução para a questão:
Cálculo da remuneração total (Rt) se a taxa Selic fosse superior a 8,5%:
Rt = Rb + 0,5%.Rb
Rt = 100%.Rb + 0,5%.Rb
Rt = 1,005.Rb (a cada mês)
No outro mês, essa remuneração total passa a ser considerada a remuneração básica para os cálculos. Daí, de março de 2021 até setembro de 2022, temos 18 meses e a remuneração total se calcularia:
Rt = (1,005)^18.Rb"
Cálculo da remuneração total (Rt) com a taxa Selic igual ou inferior a 8,5% (conforme tem acontecido desde maio de 2021 e apresentado pelo site: https://www.bcb.gov.br/estatisticas/remuneradepositospoupanca):
Rt1 = Rb + 0,3575.Rb (de março até novembro de 2021)
No outro mês, essa remuneração total passa a ser considerada a remuneração básica para os cálculos. Daí, de março de 2021 até novembro de 2021, temos 8 meses e a remuneração total se calcularia:
Rt1 = (1,003575)^8.Rb
Mas, Rt2 = Rt1 + 0,4412.Rt1 (de dezembro de 2021 até setembro de 2022)
Pois no outro mês essa remuneração total passa a ser considerada a remuneração básica para os cálculos. Daí, de dezembro de 2021 até setembro de 2022, temos 10 meses e a remuneração total se calcularia:
Rt2 = (1,004412)^10.Rt1 (em setembro de 2022)
Sugestões de adequação
O que aprendemos?
Tempo sugerido
10 minutos.
Orientações
Finalizados os cálculos sobre o prejuízo do confisco, organize a turma em duplas e peça que discutam a questão e depois elaborem individualmente um pequeno texto para responder a ela.
O que propor?
Em duplas, os estudantes debatem:
Podemos afirmar que a caderneta de poupança, mesmo sendo uma forma de guardar pequenas quantias de dinheiro, é uma estratégia importante para as camadas populares? Explique.
Após conversarem sobre a questão, oriente que cada um dos estudantes sistematize a sua resposta por escrito.
Espera-se que identifiquem a caderneta de poupança como uma forma de os trabalhadores reservarem algum recurso para emergências ou aposentadoria, e mencionem em seus argumentos alguns dados e fatos que foram apresentados na problematização.
Sugestões de adequação
Você pode organizar para que os estudantes compartilhem suas reflexões oralmente.