Plano de aula: Jogo não é sinônimo de esporte!

Em geral, muitas pessoas utilizam as palavras jogo e esporte para se referir a mesma prática corporal. Uma partida de futebol profissional ou um bate-bola com os colegas na praia recebem a mesma definição. Entretanto, são fenômenos diferentes da cultura humana.  

O jogo caracteriza-se por espontaneidade, flexibilidade, descompromisso, criatividade, fantasia e expressividade, representadas de diversas formas, próprias de cada cultura (BRUHNS, 1996). Já o esporte, é considerado uma prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal, projetando-se numa dimensão complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que o cria e o pratica (COLETIVO DE AUTORES, 2012, p. 69-70).

Huizinga define jogo como: “uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana” (HUIZINGA, 2007, p. 33).

O esporte tem regras definidas pelos órgãos oficiais que regulamentam cada modalidade esportiva, como as ligas, as federações, as confederações ou os comitês olímpicos.

“O jogo e o esporte apresentam-se como importantes conteu?dos da Educac?a?o Fi?sica escolar, sendo possi?vel, inclusive, estabelecer interfaces entre eles. Determinados tipos de jogo, por exemplo, podem ser utilizados como instrumentos pedago?gicos para o ensino de modalidades esportivas. E? por isso que diversos autores os consideram como “jogos pre?-desportivos”. E? importante salientar que, durante a vive?ncia e a experimentac?a?o de um esporte nas aulas de Educac?a?o Fi?sica, raramente voce? tera? de lidar com todas as regras oficiais, sendo pedagogicamente mais apropriada a realizac?a?o de jogos cuja aprendizagem seja mais fa?cil. Entretanto, e? essencial que os alunos compreendam as diferenc?as entre essas duas categorias de pra?ticas corporais para que tenham conscie?ncia do tipo de atividade realizada, bem como sejam capazes de identificar essas manifestac?o?es em locais pu?blicos, em clubes e nas mi?dias, entre outras possibilidades. Para que um jogo seja considerado esporte, ele precisa estar atrelado a alguma instituic?a?o (associac?a?o, federac?a?o ou confederac?a?o), a qual e? responsa?vel por estruturar uma normatizac?a?o para sua pra?tica, estabelecer regulamentos e definir regras que devem ser va?lidas para competic?o?es realizadas em qualquer lugar do mundo. Deixe claro para os alunos que, diferentemente dos esportes, nos jogos na?o ha? padronizac?a?o de formas, estruturas ou regras, podendo tudo ser alterado de acordo com os interesses dos participantes da atividade. A distinc?a?o entre jogo e esporte pode ser resumida do seguinte modo: o primeiro possui flexibilidade de regras e o segundo conta com regras universais, ou seja, enquanto o jogo de queimada, por exemplo, praticado na escola de um bairro pode ter regras diferentes do realizado na escola do bairro vizinho, o esporte handebol tem as mesmas regras quando jogado no Brasil, na China ou no Egito. E? importante destacar que a modificac?a?o das regras de um esporte no contexto escolar constitui uma ferramenta dida?tica para que os alunos tenham acesso ao jogo como estrate?gia de aprendizagem e ao esporte como representac?a?o social, imbricados em uma mesma manifestac?a?o” (DARIDO et al., 2017).

Percebe-se que podem ser traçadas algumas relações entre jogo e esporte, entretanto eles não devem ser confundidos. O primeiro pode se transformar no segundo, bem como o segundo também pode vir a ser um jogo, considerando determinadas condições, como: relaxamento de regras, menor organização, ausência da busca incessante pela alta performance e vitória, conforme aponta Bruhns (1996).

Indica-se ainda, no intuito de subsidiar suas aulas, que assista ao vídeo “Diferença entre o Jogo e o Esporte”, o qual foi produzido pelo professor Matheus Almeida e explica brevemente os conceitos básicos sobre os elementos históricos do jogo e do esporte.

Bibliografia

BRUHNS, Heloísa. O jogo nas diferentes perspectivas teóricas. Motrivivência, São Paulo, VIII (9), p. 27-43, dez. 1996. Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/5654/20446. Acesso em 19/01/2022

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez Autores Associados, 2012.

DARIDO, Suraya Cristina et al. Práticas Corporais: educação física: 3º e 5º anos: manual do professor. São Paulo, SP: Moderna, 2017. p. 44-45.

HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2007. p. 33.

Materiais sugeridos

• Equipamento de áudio.
• Equipamento de vídeo.
• Imagens impressas.
• Fita adesiva.
• Bambolê.
• Balde.
• Arco.
• Giz.
• Cordão ou barbante.
• Bola de diferentes pesos e tamanhos.
• Bola de basquete.
• Caderno de registro.

Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.  

Conversa inicial

Com os estudantes em roda de conversa, apresente os objetivos de aprendizagens previstos para esta aula. Aproveite para discutir e relembrá-los sobre as semelhanças e diferenças existentes entre jogo e esporte. Para isso, questione-os sobre os conceitos dessas manifestações.

Com o intuito de estimular a discussão/debate sobre o tema, realize um levantamento acerca do conhecimento prévio dos estudantes. Para isso, reproduza por meio de um equipamento de vídeo algumas imagens previamente selecionadas e indague os estudantes sobre quais delas se referem a jogos e quais a esportes. Peça-lhes para justificar suas respostas. Caso não haja equipamento disponível, apresente-as impressas e afixe-as no quadro ou utilize outro dispositivo disponível em sua escola.

Questione os estudantes que uma das manifestações corporais (jogo ou esporte) precisa possuir regras fixas e institucionalizadas, como o número oficial de participantes em cada equipe, o local de realização, o tempo de duração, o modo de pontuação, a arbitragem profissional, por exemplo, enquanto a outra não. Esclareça aos estudantes que é bastante comum as pessoas confundirem a prática de algum tipo de jogo a de esporte.

Oriente-os a formarem duplas para a realização da primeira atividade da aula. Com as duplas formadas, reproduza no quadro as imagens indicadas para subsidiar a reflexão e realize os seguintes questionamentos:

Jogo e esporte são as mesmas atividades? Justifique.

No seu cotidiano você costuma praticar jogo e/ou esporte? Qual(is)?

Quais imagens podem representar um jogo e quais podem representar um esporte? Por quê?

Como o jogo (em situações comunitárias e de lazer) e o esporte (profissional) se manifestam em nossa sociedade?

Após esse momento de diálogo entre os estudantes em suas respectivas duplas, solicite-lhes que socializem suas considerações. Garanta que todos possam se expressar e também ouvir os colegas. Essas práticas são importantes para o desenvolvimento da oralidade e da escuta. A partir do levantamento prévio obtido com as falas dos estudantes, relembre-os sobre os conceitos de jogo e de esporte.

Imagens para reprodução e reflexão:

• Futebol (pelada):

• Futebol de campo:

• Queimada:

• Handebol:

Atividade

Atividade 1: Arremesso da bola ao alvo

Organize os estudantes em grupos de seis integrantes e entregue a cada equipe uma bola e um bambolê (arco ou balde). Coloque o bambolê no chão. Diga aos estudantes que em suas equipes eles devem decidir, em conjunto, como irão se organizar com os recursos materiais disponibilizados pelo professor para realizar a atividade de lançamento da bola no alvo. É interessante combinar a distância da “cesta”. Conforme verificar que os grupos têm um grande número de acertos, incentive-os a aumentarem a distância.  Incentive-os a explorar o arremesso de diferentes formas: mão esquerda, mão direita, duas mãos, por baixo da cabeça, por cima da cabeça.

Se possível, substitua a bola com outros pesos e tamanhos.

Atividade 2: Arremessando a bola mais alto

Fixe um balde (bambolê ou arco) no alto de alguma estrutura (trave, poste, alambrado da quadra ou árvore) e solicite aos estudantes que arremessem a bola na direção do balde. É importante flexibilizar a distância dos arremessos e a altura do balde. Conforme verificar que os grupos têm um grande número de acertos, incentive-os a aumentarem a altura. Incentive-os a explorar o arremesso de diferentes formas: mão esquerda, mão direita, duas mãos, por baixo da cabeça, por cima da cabeça. Se possível, substitua a bola com outros pesos e tamanhos.

Atividade 3: Simulação de jogo

Aproveite o equipamento montado para propor um jogo, peça aos estudantes que formem trios, organize-os em duas equipes e explique-lhes que deverão tentar fazer a cesta no balde (bambolê ou arco) e, no intuito de efetivar esse objetivo, além do arremesso, os participantes podem realizar os movimentos do passe e do drible. Possibilite aos estudantes que escolham a bola mais interessante.  

Atividade 4: Mini basquete

Peça aos estudantes que se reorganizem em quintetos. O espaço do jogo será a quadra, use a bola de basquete e os cestos da tabela de basquete. Promova um revezamento entre os grupos para a realização do jogo. Para isso, marque um tempo de duração do jogo considerando o tempo de aula ainda disponível. Simplifique as regras oficiais da modalidade esportiva de basquete. Caso não possua em sua escola a quadra e a cesta, continue com a estratégia utilizada nas atividades anteriores. Peça a alguns estudantes para demarcarem o espaço da área de jogo traçando linhas com giz, enquanto outros devem acertar a altura das cestas.

Momento da reflexao

Em roda, converse com os estudantes sobre as atividades realizadas, de modo que expressem o que sentiram durante suas participações. Questione-os sobre as impressões acerca das atividades, como foi realizar diferentes tipos de arremesso, as dificuldades, as facilidades e as diferenças para colocar em prática o jogo.

Pergunte aos estudantes sobre as características das atividades:

Nós praticamos um jogo ou um esporte? Justifique.

O que falta para chegarmos ao esporte basquete?

Quem precisa seguir as regras oficiais desse esporte?

É importante incentivar os estudantes a se expressarem, permitindo o livre apontamento do que experienciaram e não se preocupando com respostas certas ou erradas. Realize observações a partir das falas dos estudantes. Mencione possíveis situações em que houve conflitos e exclusões e ainda aquelas em que os estudantes apresentaram condutas positivas e não positivas, conduzindo reflexões sobre a importância de todos participarem das atividades e valorizando ações em prol do desenvolvimento coletivo.

Sistematizacao do conhecimento

Questione os estudantes sobre o que eles aprenderam nesta aula. A partir das reflexões trazidas pelos estudantes na roda de conversa, reforce as características dos jogos e esportes, suas semelhanças e diferenças.

Confirme as hipóteses das discussões sobre as transformações do jogo durante as quatro vivências com os estudantes, incluindo a incorporação de novos movimentos (passe e drible) e a utilização do material adequado (bola, aro e cesta de basquete), aproximando-os das características do esporte. Faça  perguntas estratégicas para verificar se os estudantes compreenderam a diferença entre jogo e esporte. Após esse diálogo, converse com eles que é mais interessante aprender a modalidade esportiva do basquete flexibilizando as regras oficiais do que cumpri-las com total rigor, como se fossem atletas profissionais.

Promova ainda discussões no sentido da aquisição de determinados produtos e marcas para a prática do esporte: não é preciso investir, por exemplo, na compra de bolas oficiais utilizadas nas grandes partidas como NBA ou do mesmo modelo/marca de tênis dos jogadores de basquete.

Registro e avaliacao

Para incentivar o registro escrito dos estudantes, você pode confeccionar um quadro geral numa cartolina, que pode ficar exposta em sala de aula. Nesse quadro os estudantes poderão escrever suas opiniões acerca das diferenças que mais se destacaram a partir da percepção deles. Além disso, o quadro geral pode ser utilizado em aulas posteriores, nas quais serão aprofundados os conceitos e características de jogo e esporte e como ambos se manifestam em nossa sociedade.

Para avaliar a aprendizagem dos estudantes, dite ou copie no quadro as questões e peça-lhes para responder como tarefa de casa as seguintes questões no caderno de registro:

O que é um jogo?

O que é um esporte?

Qual a diferença entre jogo e esporte?

As atividades que realizamos na prática são um jogo ou esporte?

O que aprendi na aula?

Combine com os estudantes que poderão responder às questões em casa e deverão trazê-las respondidas na próxima aula.

Lembre-se de dar-lhes um feedback sobre as questões apresentadas, verificando os acertos e erros e procurando conversar com eles sobre o que os levaram a tais conclusões.

Barreiras

Barreiras

• Utilizar estratégias de retomada dos conceitos que não alcancem todos os estudantes.
• Exigir movimentos específicos das modalidades ou propor regras rígidas.
• Excluir estudantes de determinadas atividades práticas que julguem difíceis ou perigosas.

Sugestões para eliminar ou reduzir as barreiras

• Ampliar as estratégias de retomada de conceitos utilizando diferentes tipos de textos (escritos, orais, audiovisuais etc.).
• Flexibilizar as regras e adaptar as práticas de acordo com os potenciais de movimentação dos estudantes.
• Estabelecer propostas de inclusão ou solicitar aos estudantes que elaborem e testem entre si a partir das características dos colegas.

Desdobramentos

Aqui são sugeridos alguns desdobramentos para as aulas seguintes. Tendo em vista que o jogo e o esporte são importantes conteúdos da Educação Física Escolar e considerando que alguns jogos têm condição de colaborar no processo de ensino de modalidades esportivas, sugere-se para as aulas seguintes um aprofundamento acerca dos conceitos de jogo e esporte solicitando aos estudantes que realizem uma pesquisa sobre os benefícios proporcionados pela prática de jogos e esportes para a saúde de quem os pratica.

Poderão ser preparadas perguntas de pesquisa, como, por exemplo: Será que o esporte é saúde?

Sugere-se ainda que, considerando que muitos jogos passaram pelo processo de esportivização, o professor aborde com os estudantes a “Transformação do jogo em esporte”, promovendo atividades de jogos que aludem aos esportes voleibol e futebol, em que devem ser deixadas de lado as regras oficiais para que os estudantes sejam inseridos nessas práticas desportivas.

Outro desdobramento pode ser solicitar aos estudantes que, em grupos com cinco componentes, criem novos jogos reduzidos tomando por base alguma modalidade esportiva. Após a idealização dessa atividade, os estudantes devem apresentá-la aos colegas para que todos a experimentem.

Os estudantes podem se reunir em sala durante a aula para pesquisar, discutir e criar os seus jogos, devendo explicar primeiramente a sua dinâmica e, em seguida, experienciá-los na prática.