Plano de aula: Exercícios físicos: reconhecendo as possibilidades!

Esta é a primeira aula de uma sequência didática composta de cinco aulas que introduzirá o tema ginástica de condicionamento.

Sendo assim, primeiramente, devemos resgatar a definição de alguns conceitos já trabalhados anteriormente, como: atividade física e exercício físico.

A atividade física é definida como um comportamento voluntário, que envolve os movimentos do corpo e na qual se tem gasto energético acima do nível de repouso, podendo promover interações sociais e com o ambiente, sendo realizado nos mais diversos espaços e tarefas, ou seja, no deslocamento, no trabalho ou estudo e nas tarefas domésticas (BRASIL, 2021).

Muito importante saber distinguir exercício físico de atividade física. Pode-se dizer que exercício físico é uma atividade física planejada, estruturada, com uma constância e cujo objetivo é desenvolver ou manter os componentes da aptidão física (BRASIL 2021).

Para este plano devemos nos apropriar do conceito de saúde, que perpassa o simples fato da ausência de doença. A saúde hoje está intimamente relacionada ao completo bem-estar do indivíduo em todas as áreas: física, emocional, social, financeira, amorosa, espiritual, dentre outras. Podemos dizer, então, que saúde está bem próxima do conceito de qualidade de vida, em que o ser humano é indissociável e deve ser visto de forma holística nas suas esferas biopsicossociais.  

Nesta aula, teremos a introdução do conceito de aptidão física e seus componentes, que podem ser voltados para a saúde ou para o desempenho esportivo. Os componentes para a saúde estão relacionados aos fatores de manutenção, desenvolvimento e proteção do organismo como um todo, e incluem a força muscular, a resistência muscular, a resistência cardiorrespiratória, a flexibilidade e a composição corporal (GUEDES, 1996). Os componentes da aptidão física para o desempenho esportivo incluem também: o equilíbrio, a coordenação motora, a velocidade, a potência muscular e a agilidade (BRASIL, 2021). Importante ressaltar que as finalidades do exercício para a aptidão física definem a intensidade a que os praticantes devem ser submetidos. Na aptidão física para o desempenho esportivo o corpo é sempre levado ao limite máximo, pois aqui a competição prevalece. Na aptidão física para a saúde, os exercícios devem ser adequados aos limites iniciais dos praticantes e fornecer ganhos de condicionamento físico sem a intenção de se atingir o limite máximo de cada um.

Avaliando as variáveis

Sugerimos o uso da bateria de testes do projeto esporte Brasil, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Nele, há uma descrição detalhada, inclusive em vídeo, de cada teste. O link segue na Bibliografia.

Como iremos propor aprendizagens relacionadas a programas de exercício físico em grupo e em sua maioria nossas turmas apresentam uma população heterogênea, é importante ensinar os estudantes a perceber sobre o esforço que estão realizando durante os exercícios, pois a intensidade é subjetiva. Para isso, explique-lhes o que é percepção subjetiva de esforço. Ela se baseia em quais sensações ele experimentou durante a prática e o nível de cansaço associado a elas, e pode ser verificada pela escala de Borg, pela qual quem está executando o exercício pode informar o quão cansado está naquele momento. É uma opção para o controle da intensidade individual dentro de uma aula coletiva.

Quadro 1. Sugestão para criação com os estudantes de uma escala de Borg adaptada

Fonte: adaptado de Borg (2001).

Tabela de referência dos termos

Fonte: adaptado de Guedes (1996).

Materiais sugeridos

• Aros.
• Caderno dos estudantes ou folha de papel A4.
• Caneta ou lápis.
• Cordas.
• Bancos.
• Cones.
• Pneus.
• Escadas
• Cadeiras.
• Colchões.
• Plintos.
• Banco sueco.
• Bolas de peso.

Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.

Conversa inicial

Numa roda de conversa, retome com os estudantes os conceitos de exercício físico e atividade física. Pergunte-lhes se praticam algum tipo de exercício físico fora da escola, questionando-os o que fazem e por que fazem. A partir das respostas, proponha um debate sobre tipos de treinamento.

Organize o repertório prévio dos estudantes à medida que respondem às perguntas. Possibilite-lhes fazer as suas considerações, exercitando a oralidade, a fluência oral, além da comunicação e da argumentação.

A seguir, comente que a prática de exercícios físicos está relacionada à melhora da aptidão física.

Utilize a definição de aptidão física da seção Para saber mais e explique o termo aos estudantes.  Comente que a melhora da aptidão física pode ter como objetivos a saúde ou o desempenho esportivo. Para isso, são propostas intensidades específicas para cada objetivo.

Faça uma breve pesquisa entre os estudantes: Quais seriam os seus objetivos com a atividade física? Para a saúde ou para o desempenho? Como saber o seu estado atual relacionado às variáveis da aptidão física para saúde e para o desempenho esportivo? Mesmo aqueles que não estão engajados em atividades físicas regulares respondem hipoteticamente.

Comente que nesta aula irão experimentar duas capacidades físicas relacionadas tanto à saúde quanto ao desempenho esportivo: a força e a resistência muscular.

Esta conversa inicial pode ser feita solicitando aos estudantes que dialoguem entre eles para retomar os conceitos anteriormente aprendidos. Além disso, outras estratégias podem ser criadas com o intuito de se avaliar os conhecimentos prévios de todos: utilização de cartazes, retomada de cadernos ou produtos anteriores elaborados pelos estudantes, que podem ter sido feitos em diferentes linguagens, leitura e apresentação de textos com reportagens, vídeos, entre outros.

Peça aos estudantes para organizar em grupos de 3 ou 4 como preparo para a atividade.

Como sugestão, pode-se criar um quadro da escala de Borg adaptada disponibilizada na seção Para saber mais (ou utilizar o exemplo a seguir) e pedir que ao longo da aula os estudantes anotem a percepção de esforço em determinados momentos. Pode-se também sugerir que eles criem um diário individual de sensações para as atividades físicas que executam fora da escola. Lembramos que atividades físicas incluem atividades do cotidiano, como caminhar, subir escadas, varrer o chão etc.

Dica: Utilize momentos específicos da atividade (início, final e 1 ou 2 minutos após o final).

Importante que a escala seja adaptada às características dos estudantes.  Pode ser necessário que algum deles tenha que ler para o outro as variáveis da coluna, registrando as suas sensações.

Atividade

Atividade 1: Avaliando a força e a resistência muscular

Quando não há equipamentos disponíveis, são utilizados os testes que avaliam tanto a força muscular quanto a resistência muscular simultaneamente. Esse teste pode ser de flexão de braços, suspensão na barra fixa, suspensão na barra fixa adaptado para membros superiores, ou então agachamentos para membros inferiores.

Observe a disponibilidade de materiais na sua escola, bem como as características da turma. O teste de barra fixa pode ser feito solicitando ao estudante que se pendure em uma barra e verificando quanto tempo ele consegue ficar até soltar o corpo. Para o teste de flexão de braços, pode-se utilizar o apoio dos joelhos e medir a quantidade de movimentos que consegue fazer em 30 segundos ou 1 minuto. O mesmo procedimento pode ser adotado para o teste de agachamentos.

Peça aos estudantes que avaliem como foi a intensidade do esforço na tabela.

Atividade 2: Teste de flexibilidade

Utilize o modelo sugerido pelo Projeto Esporte na Escola disponibilizado no link da bibliografia.

Peça aos estudantes para avaliar como foi a intensidade do esforço na tabela.

É importante que eles sejam motivados durante a prática e, caso se sintam muito cansados, façam ajustes como diminuir a velocidade de execução a fim de não parar de modo abrupto.

Após cada teste, observe se todos os estudantes conseguiram participar. Veja se é necessário adaptar os testes, visando a inclusão de todos. Os testes podem ser limitantes especialmente para quem tem alguma limitação física. Por exemplo, cadeirantes podem fazer um supino com um cabo de vassoura e duas mochilas penduradas, uma de cada lado, simulando um exercício de supino.  

Momento da reflexao

Divida a turma em pequenos grupos e faça as seguintes perguntas:

• Como foi realizar as atividades?
• Quais sentimentos e sensações foram gerados durante e após a realização dos exercícios?
• Qual a principal diferença entre os exercícios realizados?
• Conhecem alguma atividade que demanda essas capacidades físicas?
• É uma prática que pode ser realizada por qualquer pessoa?
• Conseguiram identificar o esforço individual realizado?
• Se esses são componentes para a saúde, acham que precisam aprimorá-los?

Peça a alguns estudantes que mostrem o nível de esforço de cada atividade. Questione-os: Se a percepção de  esforço foi diferente para cada um, um programa de exercícios pode ser orientado da mesma forma e com a mesma intensidade para todos? Se o meu objetivo é melhorar o meu desempenho esportivo, devo tomar cuidado com a intensidade do exercício?

Se na turma houver alguma pessoa com deficiência, lembre-se de que o desempenho esportivo também é importante para esse público, pois existem as modalidades esportivas adaptadas de acordo com as características dos estudantes. Veja de quais modalidades eles poderiam participar e quais são as respectivas necessidades físicas para a prática.

Sistematizacao do conhecimento

Utilize o quadro da escala subjetiva de esforço (Borg) para organizar e sistematizar o que foi realizado na aula, discutindo sobre as individualidades e a subjetividade, pois o que pode ser intenso para um indivíduo para o outro pode não ser.

Lembre-se de que a escala deve ser utilizada, se necessário, adaptando-a às possibilidades do estudante para manifestar as suas sensações. Verifique se necessitam de uma leitura ou de uma explicação prévia da escala para então utilizá-la.

Comente que os exercícios causam diferentes sensações e a partir delas vínculos positivos ou não são criados com a atividade física. Faça essa discussão com os estudantes sobre os sentimentos e as sensações vivenciados durante a aula e reforce a individualidade, bem como a relação dos sentimentos com o nível de aptidão física de cada um.

Reforce a diferença entre os componentes da aptidão física vinculados à saúde e ao desempenho, identificando-os em cada programa de exercício.  

Esse momento é importante para evidenciar elementos das competências gerais como o autoconhecimento, reconhecimento das próprias emoções e emoções dos colegas, a empatia, a colaboração, o trabalho coletivo, a investigação, a análise e a utilização do conhecimento.

Registro e avaliacao

Utilize o quadro da percepção subjetiva de esforço (Borg) como evidência dos registros realizados durante a aula. Peça aos estudantes que escrevam um breve relato sobre o que experimentaram e aprenderam em aula, o que irá auxiliar na sua avaliação final.  O relato pode ter outras linguagens além da escrita, de acordo com as características dos estudantes. Escreva algumas palavras para ajudá-los a discorrer sobre o assunto:

Aptidão física

Saúde

Desempenho esportivo

Sensações corporais

Para a sua avaliação, sugerimos que sejam feitas em grupos. A seguir sugerimos um modelo:

Uma vez preenchido o quadro de autoavaliação do grupo, faça a mediação com os estudantes sobre aspectos que podem ser melhorados, valorizando os seus avanços. Evidencie características que podem evoluir, incentivando-os nos elementos que compõem a avaliação.

Barreiras

Barreiras

• Apenas uma forma (visual, verbal, cinestésica) de ministrar a instrução (comandos) para a realização das atividades físicas.
• Propor exercícios complexos, com nível de exigência não adequado à realidade de cada estudante.
• Exigir que as avaliações sejam utilizadas igualmente por todos os estudantes, independente das suas características.

Sugestões para eliminar ou reduzir as barreiras

• Apresentar o conteúdo de diversas formas (verbal, visual e cinestésica).
• Adequar os exercícios físicos à individualidade dos estudantes, sempre respeitando seus limites.
• Adequar as avaliações às características dos estudantes.

Desdobramentos

Para dar continuidade a essa sequência didática, planejando as demais aulas, sugerimos que desenvolva com os estudantes as outras capacidades físicas para a aptidão física relacionadas à saúde e também ao desempenho esportivo.

Os estudantes podem pesquisar sobre os programas de exercícios físicos que existem para desenvolver determinadas capacidades de acordo com a sua preferência, registrando o seu histórico, sua evolução, principais movimentos, locais de prática, adaptações para a cultura local. Eles podem também pesquisar no entorno da escola ou na sua comunidade se existem locais específicos onde possam praticar as atividades ou adaptá-las.

Proponha reflexões sobre as necessidades de cada um e os programas de exercícios que entram e saem de moda. Muitas vezes são programas voltados ao desempenho esportivo e propõem intensidades muito altas aos praticantes. Além disso, é necessário investimento financeiro para praticá-los.

Pode-se chamar um professor de Educação Física que trabalhe com uma dessas modalidades para uma palestra ou apresentação na escola. Podem fazer perguntas sobre as capacidades físicas envolvidas, a intensidade, a postura corporal durante a prática, se podem ser realizadas por pessoas de diferentes níveis de condicionamento, a utilização desses programas de exercícios para o desenvolvimento da saúde e para o desempenho atlético.

Observe com os estudantes se seria possível adaptar as práticas para garantir a segurança de todos em outros locais não pagos, levando em consideração as principais estruturas corporais solicitadas, como músculos, ossos e articulações de várias regiões corporais, e os cuidados que devem ter para evitar acidentes.

Peça aos estudantes que observem e registrem locais disponíveis para a prática de exercícios próximos de onde moram e da escola. Pode-se discutir com eles sobre questões socioeconômicas relacionados a práticas corporais, propondo reflexões sobre o acesso da população a programas de exercício físico.