Materiais sugeridos
Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.
Conversa inicial
Faça uma roda e converse sobre o que conhecem a respeito da sua região de origem, particularmente suas danças. Caso julgue necessário, se perceber que os estudantes não têm esse conhecimento prévio, selecione antecipadamente algum material da sua região, tais como imagens, áudios ou vídeos de danças. Lembre-se de escolher os recursos de sensibilização de acordo com as características da sua turma, superando possíveis barreiras sensoriais, cognitivas ou motoras, e valorizando quaisquer possibilidades de expressão.
Explicite para todos, os objetivos da aprendizagem das danças brasileiras do Sul do país, que culminará no produto final deste processo: uma apresentação de coreografia para a turma ou até mesmo para a comunidade escolar.
Conte um pouco sobre a história e a geografia dessa região, as missões jesuíticas, as fazendas de criação de gado, o pampa internacional e a serra rio-grandense, com sua colonização europeia, e, por fim, sobre a influência açoriana (portuguesa) no litoral. Isso é valioso para garantir uma paisagem cultural na qual seja possível praticar as danças propostas. É importante que já tenha assistido aos vídeos com as informações necessárias para a condução a seguir, sempre lembrando de que o protagonismo das ações cabe aos estudantes. Se necessário, reproduza os áudios ou apresente algumas imagens da cultura regional. Isso é importante para que, independentemente das limitações individuais, o acesso à sensibilização se complete, incluindo toda a turma. Explique algumas características das danças, como, por exemplo, o desafio de movimentos das duplas da chula. Pergunte se conhecem alguma referência cultural desse tipo. Pode ser que reconheçam ou não a semelhança com as “batalhas” de break dance. De qualquer maneira, é bastante positivo desenvolver essa proximidade, informando aos estudantes que as danças urbanas são parte do currículo futuro, no qual esse tema será tratado com a merecida profundidade. Aqui, vale apenas como citação.
Atividade
- Sensibilização
Peça aos estudantes que encontrem uma posição confortável, fechem os olhos e aprofundem e acalmem sua respiração. Em seguida, solicite-lhes imaginar que estão cavalgando em uma extensa planície, com vegetação bem baixa e colinas levemente onduladas. O vento, frio e suave, lembra que estamos no Sul do Brasil. Está anoitecendo e, ao longe, todos observam uma pequena luz, vinda de um lugar chamado “invernada”. Explique-lhes que é um ponto de encontro, descanso e diversão do viajante das planícies. Todos sentem o cheiro da fogueira e ouvem, em lenta aproximação, uma música, tocada por uma gaita (sanfona/acordeão), instrumento típico da região. Todos apeiam dos seus cavalos e preparam-se para entrar na festa gaúcha. Como procedimento de preparação, deixe a execução da música em modo “loop”. É um instrumental curto, com poucas variações e que deverá ser o fundo permanente para a prática a seguir. Construa, se necessário e com antecipação, um ambiente sensorial no qual todos e todas se sintam incluídos em suas capacidades e possibilidades perceptivas.
- Prática de desafios em círculo
Todos abrem os olhos. Faça um círculo e peça para que eles batam palmas e pés no ritmo e no pulso da música. Quaisquer formas de movimentos são bem-vindas nesse momento. Valorize as possibilidades de participação de todos, envolvendo-os no clima sulino, de todas as maneiras possíveis, facilitando esse percurso. Caso haja alguma barreira para algum participante, convide a turma para encontrar soluções coletivas para removê-la. O pulso é a qualidade sonora que nos faz bater palmas, pés ou fazer movimentos a partir de uma tônica forte. No caso da chula, essa marcação é bem forte e explícita. Um conceito importante é a presença do “tempo forte” da música, a ser explorado com os movimentos. Investigue, com os estudantes, as possibilidades de improviso, utilizando saltos, sapateados e giros, em evoluções de ida e volta até o centro do círculo, que pode ser individual ou coletivamente. Brinque de “siga o mestre”, solicitando que os estudantes improvisem movimentos que os outros devem repetir. Explore movimentos nos planos alto, médio e baixo, nomeando-os.
- Desafios em duplas ou trios
Peça para que formem duplas ou trios para realizar um desafio que será feito da seguinte maneira: a) traçar no chão, com giz, uma linha de aproximadamente três metros para cada dupla ou trio; b) seguindo o ritmo da música, um dos estudantes realiza movimentos com alternância de saltos e saltitos; o outro faz o mesmo; c) troca-se de executante; d) trocam-se as duplas ou trios.
Mais uma vez, é importante lembrar-se de que um dos pressupostos da prática coletiva é seu indispensável caráter inclusivo. Incentive o protagonismo dos estudantes nessa construção.
Momento da reflexao
Peça para que todos se sentem e formem um círculo. Diga-lhes para fechar os olhos e, de novo, acalmar sua respiração e voltar ao plano imaginário. Cada qual remonta seu cavalo e, retornando ao local de partida, “desapeiam”.
Como em um relato de viagem, cada qual diz o que sentiu durante a visualização e prática dos movimentos. As declarações espontâneas sobre as sensações corporais promovidas pelas danças, compartilhadas, enriquecem o cenário de aprendizagem. Faça algumas perguntas para a turma: o que você viu, sentiu ou ouviu durante a viagem? Que diferenças você vê entre as músicas e danças da nossa região em relação às da região Sul do Brasil? Sentiu dificuldade ou facilidade para criar movimentos com o ritmo dessa dança? Sentiu-se apoiado pelos participantes neste percurso? De que maneira cada qual pode exercer esse apoio?
Sistematizacao do conhecimento
Retome com os estudantes os conceitos que talvez fossem desconhecidos até aqui, tais como “desafio de movimentos”.
Revise o contexto de origem das danças com os passos desenvolvidos, tais como o uso da lança no lugar da marcação de giz. Nesse contexto, o que seria uma arma é utilizado como elemento de uma dança.
Retome elementos nomeados da dança, tais como pulso, planos alto, médio e baixo, e contagem do tempo rítmico (“tempo forte”). Se estiver em outra região, compare por semelhanças ou diferenças os elementos das danças nas culturas de origem com as do Sul, tendo como critérios os elementos: pulso, indumentária, adereços, instrumentos e contexto cultural.
Converse com os estudantes sobre as barreiras que foram superadas pela turma, para que todos pudessem compartilhar a riqueza presente na diversidade dos elementos das danças, o que também permite amplas possibilidades de acesso e de participação.
Comente sobre as aprendizagens advindas dessa experiência, evidenciando elementos importantes das competências, como o autoconhecimento, o respeito à diversidade, a ampliação do seu repertório cultural, a aprendizagem de elementos simbólicos presentes nas danças, a aquisição e o aprimoramento de habilidades motoras, entre outros.
Registro e avaliacao
O uso de um passaporte cultural, ou caderno de viagem individual, pode ser sugerido para que sejam anotados os pontos fundamentais abordados neste plano. Recursos digitais, tais como Padlet ou Google Sala de Aula, podem ser usados como forma de dinamizar o registro das atividades. No entanto, com simples cadernos e lápis pode se obter resultados semelhantes.
Nos dois casos, é importante observar os seguintes tópicos a serem registrados: nome do estudante e tipos de movimentos realizados na sua improvisação e desafios. Um espaço deve ser reservado para desenhos sobre a atividade, com ênfase nos movimentos expressivos da dança. Faça uma tabela com esses dados e comente seus resultados.
Se houver a possibilidade, registre a experiência em imagens e vídeos, que poderão ser utilizados como recurso pedagógico avaliativo, para se voltar, com olhar crítico, sobre aquilo que foi aprendido como conceito, atitude e procedimento. A ampliação de utilização de recursos avaliativos torna este momento mais inclusivo.
A avaliação desse passaporte pode ser feita solicitando aos estudantes que relatem, pelos meios disponíveis, desde postagens em um Padlet, quais tipos de passos, gestos, indumentárias e instrumentos estão presentes nas danças. Nessas postagens, podem ser solicitados áudios, desenhos, textos e, até mesmo, registros em vídeo dos próprios estudantes, a partir do apoio de um adulto. Da mesma maneira, um livreto, feito a partir de folhas A4, pode motivar os estudantes a responder às mesmas questões com os registros gráficos como desenhos e textos escritos. Em ambos os casos, as expressões sobre sensações diversas contribuem no ambiente de aprendizagem.
Peça-lhes para trocar seus registros ou apresentá-los à turma. É importante que a possibilidade dessa apreciação seja combinada, desde o início do uso do passaporte cultural. A exposição desses registros à comunidade escolar, seja um Padlet ou Flipchart coletivo, na apresentação das danças, também pode ser uma boa motivação para sua realização durante as etapas deste plano.
Barreiras
Barreiras
- Restringir as formas dos estudantes viverem as experiências que possibilitem identificar os elementos constitutivos das danças.
- Delimitar somente uma forma de registro por parte dos estudantes.
- Exigir movimentos e coreografias específicas relacionadas às danças vivenciadas.
Sugestões para eliminar ou reduzir as barreiras
- Ampliar as experiências dos estudantes de modo que consigam identificar os elementos constitutivos das danças.
- Possibilitar a utilização de diversas formas de linguagem para os registros dos estudantes.
- Possibilitar aos estudantes a adaptação dos movimentos, conforme as suas capacidades.
Desdobramentos
O primeiro desdobramento a ser sugerido é a utilização de outros materiais para compor os desafios de movimento da chula, tais como bastões, cabos de vassoura, aros de ginástica, entre outros, abertos à criação.
Peça aos estudantes para realizar movimentos, utilizando esses materiais, criando possibilidades novas de ação e, em seguida, trocar os espaços e materiais.
Leve os estudantes de volta à viagem e, da mesma maneira, apresente-lhes a rancheira de carreirinha. Explique a origem europeia da tradição da dança em pares masculino/feminino. É possível que se apresentem algumas resistências a essa formação, o que é bastante natural nessa faixa etária. Aponte a possibilidade de formação de pares livres, com movimentos específicos utilizando volteio com chapéu e palmas (masculino) e movimento de saias rodadas e palmas (feminino), mesmo que esses adereços sejam imaginários.
Estruture uma coreografia em fileiras, ajudando os estudantes a formar os pares. Combine os movimentos em duplas com a turma, resguardando o momento da “carreirinha” como coletivo.
Explore ao máximo o potencial de envolvimento presente na dança, encontrando soluções coletivas para a participação de todos. Indique possibilidades de formação de pares mistos ou não. Nesse caso, os participantes executam os gestuais de uso do chapéu e mãos para trás no masculino, e os movimentos das saias rodadas do feminino.
Prepare uma pequena apresentação de desafios de chula e/ou evolução coreográfica da rancheira de carreirinha. Explique que, como se trata de coreografias, sua realização são “desenhos em grupo” feitos no espaço da dança. Peça para cada estudante escolher uma das danças estudadas para compor a apresentação final, que será dividida em duas, uma para cada grupo de dança.
A evolução da rancheira de carreirinha é feita em fileiras que se deslocam, conforme a música. Observe que há tempos distintos na música, que podem ser explorados com volteios dos pares, giros e trocas de lugar, todos feitos de maneira organizada e dentro de uma lógica coletiva. Motive os estudantes a encontrar soluções de movimentos, acolhendo e valorizando suas sugestões. Nomeie as partes da coreografia (início, saudações entre pares, carreirinha, volteio) para que esses momentos sejam percebidos com maior facilidade.
Já a chula é um desafio em duplas. Para motivar essa expressão, peça que inscrevam duplas de desafio, que podem combinar os movimentos de maneira livre e independente das aulas. Explique-lhes que não é uma competição, e, sim, uma demonstração de habilidades.
Solicite aos estudantes que encontrem soluções coletivas para eliminar barreiras para a participação de todos. Existem muitos estímulos sensoriais (visuais, auditivos, motores e proprioceptivos) que podem ser explorados, garantindo, assim, a plena participação. Valorize essas soluções como conquistas da turma.