A ginástica é uma prática que existe há muito tempo, manifestando-se de diversas formas, mas começou a ser sistematizada na Europa a partir do século XIX (AYOUB, 1998). Já a ginástica geral, aqui chamada de ginástica em grupos (GG) ou ginástica para todos (GPT) é uma prática abrangente que reúne elementos básicos do ato de se movimentar, utilizando diferentes capacidades físicas, que dão subsídios para a realização de atividades corporais acrobáticas e expressivas, favorecendo a interação social e o compartilhamento da aprendizagem sem fins competitivos (BNCC, 2018). Segundo o mesmo documento, fazem parte dessa prática elementos como “exercícios no solo, no ar (saltos), em aparelhos (trapézio, corda, fita elástica), de maneira individual ou coletiva, e combinam um conjunto bem variado de piruetas, rolamentos, paradas de mão, pontes, pirâmides humanas etc.” (BNCC, 2018, p. 2017).
Por meio da ginástica geral é possível trabalhar a criatividade, espontaneidade, socialização, comunicação, identificação social: elementos fundamentais para o desenvolvimento dos estudantes (OLIVEIRA; LOURDES, 2004). A ginástica possibilita trabalhar muitas habilidades de forma lúdica e inclusiva, utilizando equipamentos oficiais e/ou alternativos, o que permite sua implementação em diversos contextos escolares, até mesmo naqueles com poucos recursos oferecidos. Mesmo a ginástica sendo a prática corporal que deu origem à Educação Física no Brasil, e com tantas possibilidades e benefícios de implantação, ela ainda não é tão abordada no contexto escolar brasileiro, que acaba privilegiando os esportes considerados tradicionais (COSTA; GOMES, 2020).
A ginástica geral está diretamente ligada a questões educacionais e de lazer, evitando a seletividade e a competitividade (OLIVEIRA; LOURDES, 2004), porém, é importante salientar que existem práticas da ginástica mais voltadas à competição, como a ginástica artística e a ginástica rítmica. De todo modo, há outras possibilidades de explorar outros recursos da ginástica, como os citados por Paoliello (2014), como danças, encenações, jogos e atividades circenses.
E como trabalhar a ginástica na escola? Essa pergunta não pode ser respondida de maneira única: a ginástica geral é um produto cultural que reproduz as manifestações do cotidiano, ou seja, conhecer o contexto dos estudantes é fundamental. Há alguns princípios fundamentais na implementação da ginástica, como (OLIVEIRA; LOURDES, 2004):
- Prezar pela ludicidade e pela participação coletiva.
- Promover a criatividade.
- Estabelecer regras flexíveis.
- Estimular a amplitude e a diversidade.
- Enaltecer o caráter de espetáculo (fruição).
Uma das formas de trabalhar a ginástica em grupos é usar alguns fundamentos da ginástica acrobática (GACRO) como a construção de pirâmides. A ginástica acrobática possui alguns fundamentos básicos: formação de figuras ou pirâmides humanas; acrobacias; uso de capacidades físicas como força, equilíbrio, flexibilidade; composição de coreografias com elementos de danças, saltos e piruetas ginásticas (MERIDA; NISTA-PICCOLO; MERIDA, 2008). Dentre as suas vantagens estão a “aquisição de noções espaço-temporais, da esquematização corporal, do controle motor, da flexibilidade, da coordenação estática, da coordenação coletiva, do equilíbrio, da força e da resistência muscular localizada, da cooperação, da autonomia, do prazer e da autoconfiança” (MERIDA; NISTA-PICCOLO; MERIDA, 2008, p. 161).
Esses benefícios são importantes para serem trabalhados, pois podem ajudar no desenvolvimento dos estudantes, visto que a faixa etária está em constantes evoluções.
Com base nesses benefícios, há a necessidade de saber como apropriar-se dessa prática em suas aulas. Para isso, os autores Merida; Nista-Piccolo; Merida (2008) auxiliam na elaboração de um planejamento básico, vejamos:
- Funções definidas de acordo com a estrutura e as capacidades físicas.
- Agrupar pessoas parecidas biologicamente, mas que também consigam estabelecer uma boa relação pessoal, pois o processo exige segurança.
- A base das pirâmides deve ser composta pelos mais velhos, pesados e fortes.
- Os volantes (participantes dos andares de cima) devem ser os mais ágeis, flexíveis e que também não tenham medo de altura.
- Os intermediários ficam entre a base e os volantes, devem ser fortes e mais leves que os da base, com capacidades que mesclem as demais funções.
- Cuidar da diferença de peso entre os estudantes, para não sobrecarregar ou lesioná-los.
- As atividades podem ser realizadas em duplas, trios ou grupos, e a base deve ser maior que as partes superiores.
- Existem níveis de dificuldade, devendo começar pelas menos complexas.
- As pirâmides podem ser divididas de acordo com sua altitude (pirâmides de solo, de meia altura, de primeira altura, de uma altura e meia, de duas alturas e de duas alturas e meia).
- Iniciar com pirâmides de posições baixas e de apoios centrais.
- Passar para posições altas e de apoios centrais.
- Passar para posições baixas e de apoios nas extremidades.
- Passar para posições altas e de apoios nas extremidades.
Diante das possibilidades que a ginástica proporciona, espera-se que, por meio dessa sequência didática, o estudante seja capaz de utilizar os recursos trabalhados em diferentes contextos, expandindo as possibilidades e refletindo sobre os elementos constituintes.
Bibliografia
AYOUB, E. A ginástica geral na sociedade contemporânea: respectivas para a Educação Física escolar. 1998. 187f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, SP.
COSTA, A. R.; GOMES, C. P. Ginástica geral na BNCC: Percepção de alunos de licenciatura em educação física. Corpoconsciência, p. 142-152, 2020.
MERIDA, F.; NISTA-PICCOLO, V. L.; MERIDA, M. Redescobrindo a ginástica acrobática. Movimento (ESEFID/UFRGS), v. 14, n. 2, p. 155-180, 2008.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base>. Acesso em: 6 out. 2021.
OLIVEIRA, N. R. C. de; LOURDES, L. F. C. de Ginástica geral na escola: uma proposta metodológica. Pensar a Prática, v. 7, n. 2, p. 221-230, 2004.
PAOLIELLO, E. et al. Grupo Ginástico Unicamp 25 anos. Campinas, SP: Unicamp, 2014.