Plano de aula: Rodas cantadas - Um espaço para todos!

As danças são práticas corporais que contemplam movimentos rítmicos, executados ao som de uma música. Podem ser realizadas individualmente, em duplas ou em grupos, de maneira livre ou organizada em sequências coreográficas. Elas refletem o universo cultural em que foram produzidas.

Rodas cantadas

As brincadeiras de roda são desenvolvidas em círculo, de modo que as crianças seguram nas mãos umas das outras e cantam todas juntas cantigas de roda (FARIAS, 2001).

Fazem parte da nossa cultura com influência das musicalidades portuguesa, africana, indígena e, em menor proporção, de outros povos.

Elas trazem um vasto repertório de conhecimentos a serem trabalhados no contexto escolar e são capazes de contribuir significativamente para o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes, abordando temas ligados à realidade e ao imaginário. Essas brincadeiras falam sobre a vida dos animais, às vezes, de um objeto que ganha vida, outras vezes de amor ou de alguma história engraçada.

Ao articular as várias linguagens oral, gestual, corporal, musical, favorece o aprender brincando, a socialização, o contato com o meio cultural, o desenvolvimento da afetividade, da motricidade, do cognitivo, colaborando com o processo de alfabetização.

Torre (1989) nos diz que: “os conteúdos dos textos poéticos das cantigas de roda englobam conceitos, ideias, maneiras de pensar, agir, valores e criação abstrata, como idioma, literatura, ciências, filosofia, lei, religião, arte” (TORRE apud MARTINS, 2012, p.21).

As brincadeiras de roda são diferentes em cada região do país, pois sua criação tem um caráter popular e folclórico que representa toda a nossa diversidade cultural.

Espaço - elemento constitutivo da dança

O elemento espaço refere-se ao trajeto do corpo, do início ao fim, cujo limite de abrangência é dado pela extensão ou flexão dos membros superiores e inferiores.

O espaço é explorado pelas direções (cima, baixo, lado, frente, trás e diagonais), pelas dimensões (pequeno, médio e grande), pelos planos (baixo, médio e alto) e pelas extensões (perto, médio e longe).

Ao espaço em torno da pessoa que se movimenta, delimitado pelo alcance dos membros e de outras partes do corpo a partir de determinado ponto de apoio, dá-se o nome de cinesfera (RENGEL, 2015).

Bibliografia

RENGEL, L.; L., A. “Ação corporal labaniana com respeito ao comum”. Anais do IV Congresso da Associação Nacional de Pesquisadores em Dança – ANDA, 2015.

FARIAS, A. S. F. S. A importância das brincadeiras de roda na práxis do professor de Educação Física. 2001. 29 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Psicomotricidade)- Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento, Diretoria de Projetos Especiais, Projeto a Vez do Mestre. Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 2001.

MARTINS, M. A. N. S. Cantigas de roda: o estético e o poético e sua importância para a educação infantil Curitiba, PR: CRV, 2012.

Materiais sugeridos

• Equipamento para reproduzir música.
• Equipamento para reproduzir vídeos (opcional).
• Vídeos, imagens de cantigas de roda da sua região (opcional).

Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.  

Conversa inicial

Inicie a aula com uma roda de conversa sobre brincadeiras cantadas. Pergunte aos estudantes quais eles conhecem? De quais eles mais gostam?

Aborde as rodas cantadas. Explique para os estudantes que são expressões culturais brasileiras, muito presentes nas brincadeiras infantis e que, apesar de serem simples, são muito divertidas e todos podem participar.

Apresente algumas características, utilizando variadas linguagens. Use imagens para facilitar o entendimento de todos.

• São passadas de geração em geração.
• Utilizam músicas, muitas vezes de autoria coletiva ou anônima, equivalentes à cultura local.
• Por serem transmitidas oralmente, é comum as pessoas modificarem algo na letra ao transmitirem para seus amigos, conhecidos e parentes.
• As letras são cativantes e simples, fáceis de memorizar.
• Traduzem o conhecimento popular e como o próprio nome diz são cantadas em roda, de mãos dadas e com a execução de coreografias.
• Podem ser executadas em qualquer espaço físico, como, por exemplo, nas praças, na escola.
• O espaço é um elemento importante nas rodas cantadas, pois ao dançar em grupo é preciso respeitar o espaço do outro. 

Pergunte aos estudantes quais rodas cantadas eles conhecem? E entre as citadas, peça-lhes que escolham uma para experimentar. Dê preferência àquela que possibilita a participação de todos os estudantes.

Atividade

O nosso corpo é o mais importante ponto de referência, um instrumento de medida do entorno. O espaço é sempre experienciado a partir do corpo. Portanto, nas atividades serão trabalhadas as direções (direita e esquerda, frente e trás), os planos (alto, médio e baixo), o relacionamento com o outro e com o contexto no qual se está inserido, por meio das rodas cantadas.

Aqui o objetivo não é a execução de movimentos corretos e perfeitos, mas a experimentação e exploração de movimentos como uma forma de expressão e comunicação dos estudantes, cada um a sua maneira, a partir de suas potencialidades.

Conhecendo a cantiga:

Inicie trabalhando a letra da música de roda cantada escolhida. Recite com clareza e comente seu conteúdo, suas origens e história. Se tiver palavras que não fazem parte do repertório dos estudantes, explique-as e apresente a forma correta de pronunciá-las.

Para ensinar a melodia, cante e peça a todos para acompanhar cantarolando suavemente.

Explorando o espaço:

Antes de experimentar a roda cantada escolhida, explore o elemento espaço com os estudantes e proponha que experimentem.

Dançar sozinho:

• Fazer movimentos de estender e flexionar braços, pernas e tronco e perceber o espaço que ocupam (até onde o corpo alcança).
• Fazer movimentos com pés, mãos, cabeça e ombros e perceber como se movem e ocupam o espaço.
• Fazer movimentos no chão.

Dançar com o outro:

• Em duplas, um de frente para o outro, solicite que façam o mesmo movimento com os braços.
• Em duplas, um de costas para o outro, solicite que levantem a perna direita para o lado direito e percebam como ocupam o espaço entorno da dupla. Se possível, desenhe a dupla e faça um círculo para mostrar todo o espaço que conseguirão alcançar.  

Dançar pelo ambiente físico:

• Separe a turma em pequenos grupos e peça a cada grupo que realize movimentos ocupando um espaço específico no ambiente.

Caso na turma tenha algum estudante com mobilidade reduzida ou cadeirante, acompanhe-o durante a realização da atividade.

Solicite que, ao seu sinal, os estudantes formem:

1. Uma fila (um atrás do outro).
2. Uma coluna (um ao lado do outro).
3. Uma grande roda, com todos.

Assim que os estudantes estiverem em roda, peça-lhes que deem as mãos e conduza-os a realizar um movimento básico das rodas cantadas, girar para a direita e depois para a esquerda.

Posteriormente, inclua movimentações pelo espaço: dentro e fora, abrir e fechar o círculo.

Desafie-os a realizar movimentos nos planos baixo (sentados ou agachados), médio (com movimentação do quadril) e alto (na ponta dos pés e com os braços estendidos acima da cabeça).

Trabalhando a criatividade e a interação:

Separe os estudantes em pequenos grupos e peça-lhes para, em roda, criar três variações para a movimentação em círculo.

Para finalizar, eles devem construir uma coreografia coletiva com as variações criadas nos pequenos grupos.

Momento da reflexao

Aproveite esse momento para oportunizar reflexões sobre as experimentações e os desafios propostos. Converse com os estudantes sobre suas percepções:

• Atividades vivenciadas (Como foi experimentar uma roda cantada com os colegas? Foi fácil criar novos movimentos para a roda cantada?).
• Espaço enquanto elemento constitutivo da dança (Conseguiram se movimentar em diversas direções?).
• Trabalho em grupo e a importância de respeitar as diferenças (Foi fácil trabalhar em grupo? O que deu certo e o que não deu?).
• Importância de todos terem a oportunidade de participar. (Todos participaram? Podemos fazer algo para ajudar todos a participarem? Meninos também brincam de cantigas de roda?).

Pergunte à turma se foi uma experiência prazerosa para todos. Se não, por quê?

Sistematizacao do conhecimento

Reveja o que foi trabalhado na aula e quais aprendizagens foram construídas, ressaltando as competências trabalhadas: o conhecimento, o senso estético, a valorização dos saberes historicamente construídos, a comunicação ao apresentar aos colegas o resultado de sua pesquisa, a empatia no momento do trabalho de criação coletiva e a importância dessas competências não só para a realização das atividades, mas também para a vida.

Aborde a utilização do espaço nas cantigas de roda, os diferentes planos em que nos movimentamos, as possibilidades de locomoção experimentadas, as questões culturais do contexto de sua escola, os preconceitos relacionados às brincadeiras com música e dança e seus praticantes.

Comente que, apesar de nem todos gostarem de dançar, de alguns sentirem vergonha, de não gostarem muito de ficar de mãos dadas, ou, ainda, de terem dificuldade de acompanhar o ritmo, é importante participarem e se envolverem nas atividades. Em atividades como essas eles podem aprender novos movimentos, explorar o espaço e perceber as capacidades do próprio corpo e do colegas, além de ser uma maneira de interagir e se divertir.

Registro e avaliacao

A avaliação processual busca verificar qualitativamente a aprendizagem dos estudantes, portanto, é importante coletar evidências de aprendizagem continuamente e por meio de variadas estratégias.

Nessa faixa etária, os estudantes estão em processo de alfabetização, por isso é necessário assumir o papel de escriba. Monte uma planilha de acompanhamento, na qual você irá registrar as respostas dos estudantes.

Obs.: Se perceber que algum estudante precisa de uma maior orientação para responder as perguntas, ajude-o. Relembre com ele das atividades que foram experimentadas, pergunte de maneira clara e objetiva, favorecendo o seu entendimento.

Planilha de acompanhamento

Barreiras

Barreiras

• Não observar possíveis barreiras sociais como o preconceito de gênero nas danças.

• Deixar de avaliar possíveis barreiras físicas e arquitetônicas que poderiam dificultar ou até mesmo impedir a participação de alguns estudantes.

• Utilizar linguagens inacessíveis a alguns estudantes durante a conversa inicial, a reflexão e a sistematização.

Sugestões para eliminar ou reduzir a barreira

• Problematizar com os estudantes as possibilidades de meninos e meninas participarem de atividades com música e dança.

• Apresentar imagens e/ou vídeos com homens e mulheres dançando variados estilos.

• Adaptar o ambiente onde será realizada a prática, bem como o acesso ao local.

Desdobramentos

Peça aos estudantes que pesquisem com seus familiares quais eram as rodas cantadas que costumavam brincar quando crianças e apresentem aos colegas. Auxilie a turma a encontrar similaridades e diferenças entre o que for apresentado.

Solicite aos estudantes que preencham essa tabela juntamente com suas famílias:

Na próxima aula explore com a turma:

O que as rodas cantadas descritas na pesquisa com as famílias têm em comum?

Quais diferenças existem entre elas?

Os estudantes conhecem alguma roda cantada da época dos avós?

Espaço: Onde o corpo se move? E com quem se move?

1. Desenhe no chão com um giz ou marque com fita crepe uma letra “V”. Peça aos estudantes que se movimentem pelo espaço e, ao seu sinal, se posicionem sobre a letra. A seguir utilize a letra “U”. Esses dois formatos de letra são formações comumente utilizadas em várias danças.

A partir dessa atividade trabalhe com variadas letras, potencializando também o processo de alfabetização de seus estudantes.

2. Organize os estudantes em dois círculos, um menor e um maior. O círculo menor deve ficar dentro do círculo menor.

Inicie solicitando que os dois círculos girem para o mesmo lado, posteriormente peça que um círculo gire para a direita e o outro para a esquerda. Depois inverta a direção.

A partir daí, vá criando movimentações pelo espaço, com diferentes deslocamentos (saltito, quatro passos para a direita, quatro para a esquerda).

3. Solicite a um grupo que fique de costas para o outro, peça que troquem de lugar (o grupo que estava no círculo de fora deve ir para o círculo de dentro e vice-versa).

Caso seja preciso, adapte a atividade, propondo outros movimentos, reduzindo o espaço ou auxiliando algum estudante que necessite.