"Eu era estagiária. A professora sumiu. Assumi a classe com 111 alunos angolanos"
PorNOVA ESCOLA
01/06/2015
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Jornalismo
PorNOVA ESCOLA
01/06/2015
Ainda na graduação, Sheila liderou uma turma com 111 estudantes em Angola. (Crédito: Arquivo Pessoal/Sheila Perina)
Depoimento a Wellington Soares
"Dez minutos para o início da aula. Estou num banco do pátio, rezando para que a professora da turma da 1ª classe - o nosso 1º ano - apareça. Sou aluna de Pedagogia na Universidade de São Paulo (USP). Estou em Angola. Vim para um estágio de observação para minha pesquisa de iniciação científica, sobre alfabetização. Já é o quarto dia que vou à escola, na cidade de Dundo. Nos três primeiros, a docente não deu as caras. Se ela não aparecer, minha pesquisa está comprometida. Mando um e-mail para meu orientador no Brasil. Fico emocionada com a resposta: 'Entre na sala, ensine e aprenda com essas crianças. Elas têm direito a ter uma professora'.
Toca o sinal. Crianças de outras turmas entram nas salas. Nada da responsável pela 1ª classe. Tomo coragem e vou falar com o coordenador pedagógico. Peço para dar aula. Ele comemora e sinaliza aos pequenos: ‘Vamos para a sala!’. Os 111 alunos - isso mesmo, CENTO E ONZE - correm. A professora da 2ª classe entra comigo, me apresenta e vai embora. Sozinha, penso: ‘O que fazer com essas crianças que esperam que eu ensine alguma coisa para elas?’.
Foi assim que começou minha vida docente. A primeira aula foi um improviso total. Comecei me apresentando, o que, por sorte, tomou algum tempo, já que os pequenos ficaram curiosos para saber onde era o Brasil. Achei que brincar de forca seria uma boa maneira de saber se eles já conheciam as letras do alfabeto e até algumas palavras. Não deu certo: um aluno sempre soprava e, logo em seguida, todos respondiam em uníssono! Fizemos um intervalo, depois uma atividade do livro didático e - ufa! - fim da aula.
Nos dias seguintes, pude me planejar melhor. Fiz uma nova sondagem e percebi que a maioria não conseguia escrever o próprio nome. Para estruturar as atividades, tive muito apoio das professoras da escola e das colegas de universidade que viajaram comigo. Estar à frente de uma classe com 111 alunos foi, sim, muito desafiante. Facilitou o fato de a turma ser extremamente disciplinada. Foram três meses que me transformaram como educadora, pesquisadora e mulher negra. O mais empolgante foi ver, pela primeira vez na minha vida, as crianças avançando em seus conhecimentos. No meio das despedidas, um dos estudantes veio até mim e disse: ‘Olha só, professora’. Pegou um giz e escreveu seu nome na lousa."
Sheila Perina é aluna do 4º ano de Pedagogia da Universidade de São Paulo (USP)
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