"Criei uma academia de ciências para discutir o tema com os jovens"
Nelson Pascarelli Filho é professor de Ciências da EMEF Fábio da Silva Prado, em São Paulo
PorNOVA ESCOLAGabriela Portilho
26/06/2015
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Jornalismo
PorNOVA ESCOLAGabriela Portilho
26/06/2015
"A missão que exerço hoje reflete minha trajetória pessoal e minhas experiências como educador. Desde pequeno sou apaixonado por jogos de experimentos químicos e os livros de ficção científica. Assim como os alunos para os quais leciono, sou um curioso e, na ânsia de compreender os fenômenos do mundo, me formei em Biologia, Psicologia, Filosofia e Pedagogia e me tornei professor de Ciências. Hoje, dou aulas para classes do 6º ao 9º ano na EMEF Fábio da Silva Prado, na capital paulista.
Ao lecionar, fiquei intrigado sobre quanto se falava a respeito das descobertas científicas, mas pouco sobre os pesquisadores responsáveis por elas. Então, em 2008, sugeri para as minhas turmas a criação de um dicionário ilustrado de cientistas brasileiros, a fim de resgatar a biografia de nomes como César Lattes (1924-2005), Emílio Ribas (1862-1925) e Vital Brazil (1865-1950), que raramente aparecem nos materiais didáticos. Nesse processo, nos surpreendeu ainda mais a escassa informação sobre estudiosos negros e mulheres, muitas vezes excluídos dos livros de ciência.
O projeto fez tanto sucesso que, em 2011, fundamos a primeira academia estudantil de ciências, um espaço aberto dentro da escola para o estudo e o debate sobre questões relacionadas à história da ciência. Lá, fazemos a leitura de textos jornalísticos e assistimos a filmes, documentários e programas de TV que tratam do assunto. Em seguida, discutimos a autoria das descobertas e trabalhamos o vocabulário científico. Com esses encontros, que ocorrem uma vez por semana, no contraturno, os jovens começaram a compartilhar o conhecimento adquirido, fazendo os saberes circularem entre todos.
Ainda me emociono quando lembro a alegria de duas alunas ao conhecer a história de Viviane dos Santos Barbosa, uma cientista brasileira negra da área de Nanotecnologia, que ganhou um prêmio na Finlândia em 2010, vencendo cerca de 800 concorrentes. Exemplos como esse mostram caminhos de sucesso que vão além dos estereótipos da mulher dançarina e do negro jogador de futebol, tão presentes entre os estudantes. Por meio das biografias, trabalhamos o combate ao racismo e ao sexismo. Espero que, com esse projeto, meus alunos entendam que todos nós podemos fazer algo para deixar o mundo melhor e que a ciência é um caminho para isso."
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