Formação que transforma a escola
A diretora Adriane Gallo focou no pedagógico e mostrou que, com formação, dá para mudar a escola sem trocar de endereço
PorMaggi KrauseCamila CamiloPatrick Cassimiro
12/10/2017
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Jornalismo
PorMaggi KrauseCamila CamiloPatrick Cassimiro
12/10/2017
Q uando Adriane Gallo assumiu a EMEIF Coraly Júlia Gonçalves Carneiro, em Assis (SP), ela se deparou com problemas que soam como clichês, de tão repetidos quando se fala de escola pública. Mas, infelizmente, eles ainda acontecem pelo Brasil afora. Estava tudo lá: desmotivação generalizada, professores isolados, gestores mais focados em "apagar incêndios" do que em aprendizagem e reuniões pouco produtivas. A situação desanimava a equipe e repercutia nas salas de aula. Para virar o jogo, Adriane fortaleceu os laços com suas principais parceiras - as vice-diretoras e as coordenadoras pedagógicas de cada segmento - e reinventou a formação em serviço. Seu plano era valorizar os professores, potencializar o trabalho deles e, com isso, melhorar o aprendizado dos alunos da Educação Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental.
"Sentei com a coordenação pedagógica, avaliamos a situação e repensamos as estratégias de formação. Como não tínhamos muito dinheiro, a saída foi fortalecer o nosso trabalho e buscar parcerias", conta a diretora. O primeiro passo foi ouvir os professores: as dificuldades que eles tinham, como estavam ensinando e do que precisavam. Mesmo o que eles não diziam, mas indicavam, era levado em conta. Algumas constatações surpreenderam. "A cultura de avaliação era subjetiva. Não havia critérios claros para as notas. O professor podia dar 4 para um aluno mesmo se ele tirasse 5 na prova, só com base na disciplina, por exemplo", relata Adriane.
As horas de estudo, dedicadas à formação em seviço e ao planejamento de aulas, foram redefinidas: as coordenadoras recolhem comentários e pedidos dos professores em atendimentos individuais, em seguida, buscam textos acadêmicos, estudos de caso e exemplos. Além disso, um encontro semanal com os docentes é organizado por segmento e tem pauta definida pelas gestoras. Os materiais pesquisados estimulam todos a rever as práticas docentes. O grupo do Ensino Fundamental, que tinha problemas com avaliação, formulou um critério válido para todos. Desde então, os professores têm uma planilha padronizada para as atividades e um modelo de relatório por aluno.
Duas vezes por semestre acontece um evento de formação e planejamento que dura dois dias, o Estabelecendo Parcerias e Compartilhando Ideias (Epacis). Ele é organizado na escola para todos os educadores e conta com interlocutores de fora, como professores das redes vizinhas que apresentam sequências didáticas e trocam experiências. Adriane já conhecia o trabalho de uma educadora do município de Bernardino de Campos com contação de histórias, e a convidou a apresentar seu projeto às equipes da Educação Infantil. A discussão mudou o trabalho da professora Leise Cecília, responsável por uma turma de pré-escola no período da manhã e outra com bebês de 2 anos à tarde. "Para mim, era difícil abrir o armário e deixar pegarem os livros. Eu tinha medo que eles rasgassem se mexessem sozinhos. Depois que a professora mostrou como ela fazia a contação de histórias, eu fiz combinados e deixei as crianças manusearem. Para minha surpresa, hoje elas se envolvem mais com a história e até cuidam do material!", conta.
No Epacis existem momentos de planejamento, em que se anotam em uma tabela estratégias para minimizar as dificuldades encontradas na escola. Tudo é definido coletivamente. Por fim, os professores também fazem uma autoavaliação e analisam a formação que receberam das gestoras. "O novo modelo fortaleceu a parceria e amadureceu o trabalho", conta Sandra Regina, coordenadora pedagógica da Educação Infantil.
O reflexo disso nos resultados dos alunos ainda não é evidente, pois a implantação do projeto é recente, tem menos de um ano. Para a selecionadora do Prêmio Educador Nota 10 Maura Barbosa, o grande mérito de Adriane foi priorizar a gestão da aprendizagem e revitalizar o trabalho dos professores junto com a equipe gestora. "É comum o diretor mergulhar na rotina e não se preocupar com a formação em serviço, porque já existe a da secretaria ou porque acha que essa é tarefa do coordenador. Mas isso é um jeito limitado de ver a função", afirma. Maura ressalta que a formação feita na escola, em conjunto com a própria equipe, é mais eficiente.
Outra proposta de Adriane foi convidar especialistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) para palestras. Leise se beneficiou com a fala da professora Elianeth Dias Kanthack Hernandes, que destacou a importância do contato com a leitura desde cedo e mostrou vídeos com os pequenos folheando os livros. A especialista em formação de gestores Cláudia Zuppini, da Elos Educacional, diz que a parceria com a universidade vale se for bem pensada. "O que observamos é que não basta a academia estar presente na escola. Para auxiliar, ela precisa responder demandas reais da instituição", aponta.
De outro modo, o argumento ressurge no livro Profissão Professor, quando António Nóvoa defende o trabalho coletivo para romper a solidão docente e aperfeiçoar o ensino: "A escola dedica-se pouco ao trabalho de pensar o seu trabalho". Não é o que acontece na de Adriane. Ao colocar a instituição para refletir sobre si mesma, a diretora criou colaboração e mudou o jeito dos professores se enxergarem. Embora no mesmo endereço, a EMEIF Coraly agora é outra escola.
Fotos: FOTOS FABIO HENRY
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