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Jornalismo

A importância do nome de cada um

Chamar alguém pelo nome parece banal. Mas é um jeito de dizer "você é único" ao interlocutor

PorNOVA ESCOLA

16/09/2017

Rodrigo Ratier,

Rodrigo Ratier,
editor executivo de NOVA ESCOLA e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP)

Certa vez - a única, na verdade -, fui convidado para dar uma entrevista na TV. Fiquei envaidecido e topei na hora. Mal começou o bate-papo e a apresentadora soltou o seguinte: "Conosco, hoje, o jornalista RICARDO Ratier"...

Como indica o crédito acima, meu nome é RODRIGO. Por sorte, Ricardo não pegou. A audiência da emissora era tão baixa quanto a popularidade do Temer e segui sendo Rodrigo. Me lembrei do episódio ao ler o livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas (não me julgue). Dale Carnegie, o autor desse guia clássico de relacionamento (a primeira edição é de 1937), defende que o nome de uma pessoa é para ela o som mais doce e importante que existe em qualquer idioma.

A autoajuda contribuiu para criar uma espécie de mitologia sobre o poder do nome, atribuindo a ele propriedades mágicas. Ouvi de Lair Ribeiro que devemos dizer três vezes o nome do interlocutor se quisermos sua simpatia. Carnegie sugere caminhos para a decoreba: repetir mentalmente o nome, associar a algum aspecto da aparência física. E pronto, ele estará impresso na memória.

Há um bocado de misticismo e também alguma verdade. Chamar alguém pelo nome parece banal. Mas é, no fundo, uma homenagem ao interlocutor. Aos ouvidos de quem nos escuta, significa nada menos do que "você é único".

Quem quer presentear o outro com esse reconhecimento sabe que precisa se esforçar. Gravar nomes exige tempo. Professores que o digam. Na faculdade, leciono para quatro turmas. São quase 200 alunos a quem vejo apenas uma vez por semana. Você pode imaginar que associar tantos rostos a nomes é uma tarefa inglória. Mas eles e elas merecem. Não apenas tiram dúvidas, mas pedem orientação sobre a carreira, elogiam ou criticam minhas propostas, contam coisas particulares. Imagine alguém confidenciando uma inquietação sobre o futuro e você respondendo com um "olha, cara", "veja bem, moça"... O contato sem nome parece uma interação superficial. Pessoas que nos confiam informações merecem ser tratadas de forma personalizada. Nesse sentido, o nome é uma forma de humanização.

Como fazê-lo? Poderia apelar para o recurso ousado de um amigo meu. Diante de alguém familiar, ele balbucia algo como "Oi, nanana" se for mulher ou "nanano" se for homem. Desconheço a taxa de sucesso, mas sei que a estratégia é popular. De minha parte, prefiro não arriscar. Se recebo ou faço uma ligação, começo o contato anotando o nome de quem está do outro lado da linha. Numa reunião, desenho pessoas em volta da mesa e atribuo os nomes de cada uma. E, nas aulas, tenho confiado constantemente no apoio de um velho amigo: o carômetro.

Quem dera eu tivesse dito essas coisas à apresentadora que me chamou de Ricardo. Na hora, não tive sequer coragem para corrigi-la. Aliás... Qual era mesmo o nome dela?

Ilustração: ADRIANA KOMURA

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