Os perigos da reprovação
A cultura da punição ainda está arraigada, mas estudos contestam a eficácia da medida
PorNOVA ESCOLABeatriz Vichessi
12/05/2017
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Jornalismo
PorNOVA ESCOLABeatriz Vichessi
12/05/2017
Responsável pela coordenação de desenvolvimento de pesquisas do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), em São Paulo
ANTÔNIO Uma das poucas evidências seguras reveladas em pesquisas educacionais é que a reprovação tem efeitos negativos na aprendizagem dos alunos e provoca mais reprovações. Os docentes seguem apegados à prática pela ideia de mérito, talento e dom. Para muitos, é justo reprovar quem não se encaixa nesse perfil. Mérito e esforço são importantes, mas sabemos que há estudantes que não alcançam o que se espera deles por causa de sua origem social. Sendo assim, o que os professores pensam e fazem está muito distante do que as evidências apontam.
É comum a ideia de que quanto mais cedo um estudante for reprovado, melhor para ele mesmo. Nessa concepção, a reprovação tem efeito moral, seria importante para formar o caráter da turma. A prática funcionaria como um alerta e ao mesmo tempo como um castigo, que mostra ser preciso se esforçar mais. Isso ocorre não porque os professores são malvados, mas como resultado de uma formação deficitária, que não discute a questão com base em evidências científicas. Reprovar é encarado como um poder docente. Porém, quanto mais expostos a pesquisas sobre reprovação, menos professores acreditam que reprovar é eficaz para aprendizagem.
Sim. É responsabilidade pessoal e uma questão de ética do professor estar atento ao desenvolvimento de cada aluno no dia a dia, ainda que as avaliações externas pressionem todos a seguir no mesmo ritmo. O docente precisa se concentrar nos estudantes que ficam para trás, e não puni-los. Na prática, implica analisar as manifestações da turma, o que é conversado em sala, as interações, as perguntas feitas por cada aluno. O planejamento das aulas tem de levar em consideração tudo isso. Não adianta ficar somente de olho na nota das provas, em quem se saiu bem ou mal.
A avaliação não pode mais ser encarada como algo que vai definir a vida de alguém. Seu verdadeiro papel é de diagnóstico do desenvolvimento do aluno. Ao analisar uma prova, o professor deve ir em busca de sinais, não simplesmente contar acertos e atribuir nota. Tem de refletir se as estratégias de ensino usadas por ele para trabalhar os conteúdos cobrados na prova funcionaram e analisar como os alunos manifestaram o que sabem e o que não sabem, entre outras questões. Com base nisso, o docente precisa revisar a própria prática e criar outras formas de intervenção. Hoje, a prova joga contra a Educação. É comum pensarmos que ela só manifesta o que os estudantes aprenderam e não aprenderam. Mas ela também é um diagnóstico do trabalho do professor.
Foto: Divulgação/CENPEC
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