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Jornalismo

Uma definição resumida de História diria que ela é a ação humana no desenrolar dos tempo. Para representar essa noção de modo prático, dez entre dez professores recorrem à mesma estratégia: desenhar no quadro uma linha dividida por anos ou eras. O recurso tem seu valor, mas para que os alunos relacionem fatos que aconteceram ao mesmo tempo em lugares diferentes ou para que analisem o que antecede um episódio marcante, ele não é suficiente.

A origem da linha do tempo é antiga. Ela nasce dos iluministas do século 18, que dividiram a história da humanidade em quatro: Idade Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. A partir daí, construiu-se a ideia de tempo histórico muito ligada a sucessão de grandes fatos. Faz sentido, afinal o que diferencia a ciência histórica das outras é justamente os marcadores de espaço e tempo. "O problema é que o conceito de tempo histórico vai além da baliza cronológica. Ele tem a ver com a forma como os sujeitos se relacionam entre si e com sua época. É fundamental saber que determinados processos provocam mudanças, mas há estruturas que permanecem", diz Juliano Custódio Sobrinho, da Universidade Nove de Julho (Uninove), em São Paulo.

Os alunos podem achar, por exemplo, que em 12 de maio de 1888, véspera da promulgação da Lei Áurea, o Brasil era escravista e, no dia seguinte, deixou de sê-lo. A escravidão foi extinta pela norma, mas suas consequências, como a exclusão social dos negros, continuam. Por isso, focar só nas datas restringe a análise de um acontecimento, o que pode empobrecer as aulas a respeito.

Outro equívoco é reduzir a História somente aos grandes acontecimentos políticos, abandonando aspectos econômicos, culturais e até mesmo a vida cotidiana. Esses itens não são delimitados pelo calendário e podem se repetir em diferentes períodos. Mais uma vez, o fenômeno da escravidão é um exemplo útil: há, sim, grandes marcos. Mas para entender seu fim, é preciso ligar a abolição com as ideias circulantes na Europa pós-Revolução Francesa, com a Revolução Industrial e com as revoltas de negros que pressionaram pela libertação dos escravizados.

Reconhecer que a linha do tempo convencional deixa tudo isso de fora não significa que ela deve ser abolida - pelo contrário. A ferramenta gera oportunidades de pesquisa e análise. "O importante é que ela seja construída com a turma, contemplando diferentes acontecimentos e cruzando informações", aconselha Nucia Oliveira, especialista em ensino de História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os alunos podem não só colaborar na pesquisa de datas e acontecimentos importantes como também propor alternativas de divisão ou modelos.

Para inspirar você, NOVA ESCOLA escolheu o fim da escravidão no Brasil - tema comum nos currículos e que deve ser estudado em todo o país - para mostrar como é possível desdobrá-lo e apresentar sua complexidade usando a linha do tempo. Abaixo está a linha que você já usou muitas vezes. Em seguida, ela está revigorada para mostrar como a abolição se relaciona com outros marcos e ideias cuja existência atravessa o calendário. Leia mais e descubra.

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