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Jornalismo

Quando o balé chega à quadra da escola

O contato com a modalidade na Educação Física mostra que ela não é exclusividade da aula de Arte - muito menos "coisa de menina"

PorCamila CamiloJacqueline Hamine

11/05/2017

Na EMEF Raimundo Correia, os alunos criam seus próprios passos de balé

Esqueça a saia rodada e a sapatilha de cetim. Nas aulas de Educação Física, o objetivo com o balé não é formar bailarinos, mas experimentar uma manifestação pouco explorada. "É uma prática cultural que deve ser vivida e compreendida pelas crianças, assim como o futebol ou a bolinha de gude", diz Marcos Neira, coordenador do grupo de pesquisas em Educação Física Escolar da Universidade de São Paulo (USP). O desenvolvimento do equilíbrio, da tonicidade muscular, da coordenação motora e da noção espacial são outros ganhos, além da possibilidade de trabalhar em equipe, segundo Joyce Moura José Pin, bailarina e professora de Educação Física do Colégio Termomecanica, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo.

Nas escolas, a modalidade raramente está nas aulas de Educação Física. "Até uns dez anos atrás, as faculdades não trabalhavam a cultura corporal e ignoravam a dança", conta Marcos Mourão, da Escola da Vila. E frequentemente está em atividades extracurriculares oferecidas só para meninas com base na ideia de que elas são delicadas e naturalmente mais aptas. Para quebrar esse estereótipo, Neira sugere explicar que no seu surgimento a dança era praticada apenas por homens. Só com o tempo, ela foi associada ao feminino. Vale reforçar com os alunos que a atividade pode oferecer benefícios para qualquer um. "Toda vez que eles dizem que algo é de menina ou de menino, é preciso conversar", defende o especialista.

Com base nas conversas e na apreciação por meio de vídeos de companhias de dança ou filmes como Billy Elliot (que conta a história de um garoto apaixonado pelo balé a contragosto do pai), as crianças darão outro significado ao que já conhecem. Na experimentação, não se deve exigir que elas repliquem a gestualidade dos profissionais. É possível inventar maneiras próprias de saltar ou flexionar o corpo, por exemplo.

Foi com isso em mente que o professor Luiz Alberto dos Santos levou o balé para seus alunos do 1º ano da EMEF Raimundo Correia, na capital paulista. As crianças discutiram os estereótipos, assistiram a vídeos, conheceram bailarinos e até se apresentaram. No final, o balé entrou na vida delas sem preconceitos. Confira as principais etapas na sequência didática abaixo.

CINCO PASSOS PARA CONHECER O BALÉ

1. Mapeie o que os alunos sabem

Para se programar e entender o que a sala conhece, pergunte o que acham que é Educação Física e peça que desenhem. Na experiência de Luiz, as crianças citaram faz de conta, futebol, vôlei, basquete, patins, skate, balé, dança e jiu-jítsu. Confira se elas incluíram o balé e por quê.

2. Converse e apresente exemplos

É provável que as crianças comentem que balé não é para meninos. Não desvie da polêmica. Explique que, no início, só homens dançavam, a prática não tem gênero e há vários bailarinos exemplares. Mostre materiais, como vídeos e fotos, com homens e mulheres dançando. Outra sugestão: entrevistar um bailarino.

3. Bote a turma para dançar

Estimule os alunos a criar gestos a partir do que viram até esse momento. Se alguém dançou antes, pode mostrar movimentos que conhece. Deixe que os outros imitem, adaptando ao próprio corpo, sem a exigência do "certo".

4. Proponha uma apresentação

Durante a experimentação, a coreografia pode ser uma junção de movimentos que as crianças criaram ou observaram nos vídeos. Organize um momento para compartilhar o aprendizado com o resto da escola. Para driblar a vergonha, Luiz sugere fazer a apresentação para a própria sala primeiro. Ou, então, criar um livro com imagens ou um vídeo para ser compartilhado com pais e outras classes.

5. Registre os aprendizados

Para você avaliar o impacto do projeto, pergunte às crianças o que elas podem dizer sobre balé ao final e se gostariam de ver e dançar em outras oportunidades.

Consultoria: Luiz Alberto dos Santos, professor da rede municipal de São Paulo


Fotos: Verônica Mancini

 

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