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Troca-troca is very efficient

Alternar os idiomas português e inglês já é comum na sua aula? Don't worry, use a língua materna para impulsionar o aprendizado

PorMaggi KrausePatrick CassimiroMonise Cardoso

12/03/2017

Catilcia: as duas línguas convivem em harmonia até em frases simples

"Keep calm que as mina pira." A frase criativa na camiseta de um aluno escracha a combinação de dois idiomas. Já a mistura da língua materna com aquela que se quer ensinar é uma realidade que, quando bem dosada, surte efeito positivo na aprendizagem. Atualmente, vale olhar com cuidado para dois extremos: quem fala English o tempo inteiro em sala pode privar os alunos de entenderem bem a aula. Já quem usa só o português impede que a turma esteja mais tempo em contato com o segundo idioma. Você acha difícil equilibrar os dois na hora de ensinar? Don't worry, pois o assunto já foi estudado e acontece na prática dos melhores professores.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a língua materna tem papel fundamental. "É por meio dela que nos formamos como sujeitos, e aprendemos o que as coisas significam", explica Lauren Couto, selecionadora de Língua Estrangeira do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita. O trunfo é usá-la para impulsionar o aprendizado da segunda língua. Essa temática vem sendo analisada por especialistas como Vivian James Cook, professor emérito da Universidade de Newcastle, na Inglaterra. Para ele, a palavra-chave é eficiência. Cook recomenda o uso da língua-mãe sempre que houver algum ganho. Ele pode ser de aprendizagem, de naturalidade, de relevância ou até de tempo. Por exemplo, em vez de gastar minutos preciosos dando instruções em inglês, sem garantia de ser compreendido, explique rapidamente em português e passe para a atividade com os alunos (veja abaixo outras situações em que vale usar a língua materna).

"Dentro da sua realidade, o professor pode escolher se vai se comunicar mais ou menos na segunda língua, mas precisa garantir que ela seja utilizada, de fato, pela turma", defende Margarete Schlatter, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que assessorou versões da Base Nacional Comum Curricular em Língua Estrangeira. Ela explica que é preciso levar em conta as expectativas de cada instituição. Em uma escola de idiomas, o intuito é tornar o estudante fluente, em um ambiente que incentiva a imersão. A escola regular não dá tanto valor à performance. "O objetivo é formar cidadãos. Saber inglês e conhecer seus usos permite ao aluno se situar no mundo", diz Margarete.

Take care and foca na realidade

Seria positivo expor a turma o máximo possível ao idioma, mas nem sempre é viável. "Os alunos têm níveis diferentes, um possui vocabulário rico e o outro é retraído por saber menos", explica Bianca Sgai Franco Medeiros, professora de inglês da Escola Santi, em São Paulo. Por isso, alternar os idiomas pode ajudar até os mais inibidos a mostrar o que sabem. Catilcia Lange, professora da EMEF Prof. Anísio Teixeira II, em Porto Alegre, considera as experiências dos jovens e trabalha para aumentar seu repertório. "Quero que compreendam a estampa da camiseta que compram, para poderem fazer escolhas conscientes."

Ativar o uso de conhecimentos prévios é parte essencial no processo de aprendizagem. "O estudante aprende a captar palavras que ele entende, para deduzir o que está sendo dito. E esse exercício deve ser constante", explica Bianca. Em comum, as línguas têm papel comunicacional e alguns gestos vocais são universais. "A entonação distingue uma pergunta de uma afirmação, por exemplo. Com determinado tom, mesmo que não se entenda a frase, você sabe que o outro está esperando uma resposta?, esclarece Sandra Durazzo, supervisora de Língua Estrangeira da Escola da Vila, na capital paulista.

 

Um som familiar feels good

Em situações em que é necessário estabelecer vínculos, a língua-mãe assume o papel principal. "Quando o aluno está triste por um problema pessoal, é preciso estabelecer uma conexão forte", explica Lauren. Como fala ao coração, o português também pode ser usado para elogiar ou criticar. Soa mais autêntico, o aluno sente que a bronca é mesmo com ele! Recorrer à língua materna para questões de disciplina costuma surtir efeito. Mas cada caso é único. Rosa Back, professora de inglês na rede de Porto Alegre, conta que para chamar a atenção "Dizer 'Hey, guys' é mais eficiente do que 'Turma, foco!'". Para ela, o que importa é que os estudantes deem conta de entender o inglês do universo deles: no Facebook, no videogame, no computador.

A língua materna também costuma facilitar discussões que exigem vocabulário complexo em trabalhos de grupo. Outra prática da professora Bianca é ler um texto em inglês e pedir para os alunos detalharem o que foi dito em português. "Isso não é tradução, é explicação", diferencia a professora. Essa ressalva é importante: apesar de ter um lugar valioso nas aulas, a língua portuguesa não pode se tornar uma ferramenta de tradução, o que passa longe da maneira como as línguas são utilizadas. Fazer isso o tempo inteiro passa para o aluno a ideia de que ele não precisa se esforçar para compreender. "No mundo real, um americano nunca vai fazer uma pergunta para ele e logo depois traduzir", observa Bianca.

 


Foto: Marcelo Curia.
Ilustração: Estúdio Rúfus

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