E se o protesto virar aula?
As ocupações das escolas em 2016 podem abrir caminho para ensinar sobre o papel dos jovens em outros momentos da história
PorWellington SoaresMonise CardosoLucas Freire
04/02/2017
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Jornalismo
PorWellington SoaresMonise CardosoLucas Freire
04/02/2017
Estudantes paulistas protestam contra medidas anunciadas pelo governo federal
Foto: MARLENE BERGAMO/FOLHAPRESS
Ocupações e protestos estudantis foram recorrentes nos últimos dois anos. Enquanto parte da sociedade criticou a mobilização, outra a ovacionou. Muitos chegaram a definir a movimentação dos jovens de Ensino Médio como um episódio único na história do país. Será?
Na verdade, a participação da juventude foi importante em diversos momentos (veja linha do tempo abaixo) e o período após as manifestações é ideal para apresentá-los. "O professor tem abertura para discutir temas que, em outra ocasião, poderiam ser maçantes. E cumpre a missão de falar sobre assuntos duros para o país, como a ditadura militar", conta Gislene Lacerda, professora da Universidade Nove de Julho (Uninove), em São Paulo, que estudou no doutorado os movimentos estudantis.
A proposta de aula pode se basear no estabelecimento de paralelos entre esses dois períodos. Para os alunos que participaram ativamente nos últimos anos, a própria memória serve como fonte. Bons complementos são o livro Escolas de Luta, de Antonia Campos, Jonas Medeiros, Márcio Ribeiro, as publicações da página de Facebook O Mal Educado e o manual elaborado pelos estudantes estrangeiros que inspiraram as ocupações no Brasil. Depois, eles devem se dedicar a conhecer o passado do movimento.
As principais mobilizações
Da fundação às ocupações
As primeiras organizações estudantis surgiram na década de 1930. Desde então, os jovens participaram tanto em reivindicações sobre o cotidiano deles próprios quanto em questões relativas à política nacional. Dois exemplos: a Revolta do Bonde, série de manifestações contra o aumento das passagens de transporte no Rio de Janeiro, em 1956, e os protestos para exigir a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
A atuação mais importante do movimento estudantil aconteceu durante a ditadura militar, época em que a repressão também foi mais intensa. Em novembro de 1964 (sete meses após o golpe), o governo implementou a Lei Suplicy de Lacerda - nome do então ministro da Educação -, que proibia atividades políticas nas organizações estudantis e as colocava sob controle do Estado. Apesar disso, a juventude não parou. Sem liberdade para convocar reuniões, os secundaristas se encontravam em locais secretos. "A comunicação era bastante limitada, as informações iam passando de pessoa para pessoa?, conta Gislene.
Dessa maneira, eles se mantiveram ativos na luta contra o governo instaurado. Segundo o livro O Poder Jovem, do jornalista Arthur Poenner, os mais jovens eram reconhecidos como linha dura pelos universitários: "Eles não padeciam do medo de se ?queimar?, que acometia muitos universitários quando, às vésperas da formatura, começavam a se preocupar com a conquista de um lugar ao sol na sociedade que tanto combateram?.
A morte de um secundarista, inclusive, foi o causador de um dos mais importantes episódios do período. Em 1968, Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, foi assassinado pela polícia durante uma manifestação. Sua morte disparou uma série de protestos que culminou com a Passeata dos 100 Mil, que reuniu mais de 100 mil pessoas nas ruas do Rio de Janeiro em junho daquele ano.
A principal diferença para hoje está na organização. A partir de 1985, os grêmios voltaram a existir e os estudantes puderam se articular. Com novas liberdades, novas formas de protestar. No caso, as ocupações, inspiradas em manifestações chilenas. "Isso dialoga com a abertura. Na ditadura, ocupar um local fechado significava que um grupo reduzido iria lidar com as agressões", explica Luis Fernando Cerri, professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Nos debates em sala, a mediação é essencial. Quando a discussão esquentar, vale intervir e questionar: "Como a história nos ajuda a entender o tema?" Assim, a discussão ganha profundidade e os alunos colocam em ação as aprendizagens recém-conquistadas.
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