O desafio do tudo junto e misturado
Quando crianças de diferentes idades trabalham integradas, a convivência impulsiona a aprendizagem de todas
PorWellington SoaresAlice VasconcellosNairim Bernardo
07/12/2016
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Jornalismo
PorWellington SoaresAlice VasconcellosNairim Bernardo
07/12/2016
TODOS COM A MÃO NA MASSA
Nas primeiras atividades com melecas, é comum que algumas crianças tenham resistência a se sujar ou a entrar em contato com algumas texturas. Quando os mais velhos - mais acostumados ao trabalho - dão o exemplo, os pequenos se sentem confortáveis para também explorar o material.
No Berçário e Escola de Educação Infantil Caxinguelê, na zona sul da capital paulista, uma vez por semana, as crianças de 1 a 6 anos têm a oportunidade de brincar e aprender juntas. O projeto começou há pouco mais de um ano, por iniciativa de algumas professoras. No início do ano letivo, formam-se três grandes grupos com idades mistas, que passam a se encontrar todas as terças-feiras. O exemplo da escola pode ser enriquecido ao aumentar, gradativamente, essas situações de convivência, com a intervenção dos educadores (como a criação de projetos em que as turmas também trabalhem juntas) ou sem, como nos intervalos.
As atividades são dividas em três eixos: artes, contação de histórias e interação com o espaço. Cada grupo realiza um dos eixos a cada encontro. Ao final de uma rodada de três semanas, depois que todos passaram por todas as atividades, novas propostas são criadas. É nessa situação também que as professoras do projeto trocam de área. A rotação permite que as educadoras interajam com todos os pequenos. "O vínculo entre crianças e professoras aumentou muito. Antes, cada turma tinha apenas uma professora como referência. Agora, todos se conhecem", conta Camilla Marcia Gallo, coordenadora pedagógica da instituição.
DISPUTAS ARTÍSTICAS
Por maior que sejam os papéis e por maior que seja a quantidade de materiais disponível para as tarefas de arte, é comum que surjam disputas. Inicialmente, deixe que eles tentem resolver o conflito sozinhos. Caso não encontrem uma solução, pode-se intervir pedindo que eles proponham saídas para o impasse.
O principal objetivo do trabalho é promover a convivência. Ao interagir com colegas mais novos e mais velhos e com quem eles não estão tão habituados, os pequenos estão expostos a uma diversidade de personalidades e conhecimentos muito maiores do que os existentes numa única sala. Eles descobrem as necessidades, facilidades e dificuldades de trabalhar em grupo e as melhores formas de convencer e ouvir o outro. E, ao perceberem que também são capazes de aprender com colegas, rompe-se a estrutura hierarquizada em que o adulto é o único que pode ensinar.
As crianças menores podem ser estimuladas pelas maiores a enfrentar novos desafios. Já as mais velhas aprendem a cuidar das mais novas. Do ponto de vista cognitivo, os ganhos também são muitos. "Elas precisam conseguir detalhar e interpretar coisas para o outro, desde um convite até a explicação de uma atividade. Isso colabora para o desenvolvimento do raciocínio e da linguagem oral", explica Cisele Ortiz, professora da pós-graduação do ISE Vera Cruz, na capital paulista.
O APRENDER A CUIDAR
Na Educação Infantil, é fundamental que os pequenos desenvolvam habilidades sobre o cuidar de si mesmo e do outro. Ao interagir com os mais novos, os mais velhos precisam considerar as necessidades dos colegas, reconhecer suas fragilidades e se dispor a fazer concessões e a auxiliá-los
Por isso, as atividades são pensadas para que haja a maior interação possível entre a meninada. São situações de pintura e desenho livre ou trabalho em que pequenos grupos têm a autonomia para conduzir a própria experimentação. Ainda assim, a aprendizagem é focalizada, seja na exploração de materiais diversos nas aulas de arte, em que as perspectivas sobre desenho são compartilhadas, ou nas oficinas de leitura, em que o comportamento leitor é ensinado não só pelo professor mas também por um colega mais experiente.
Apesar de não ser necessário que as professoras conduzam todos os detalhes das atividades, elas devem estar atentas a como cada um participa. "O trabalho intergrupos exige uma Observação mais apurada. O educador precisa ter tempo e disponibilidade para observar cada um. Por isso, quanto menor o grupo, mais fácil", explica Cisele. Recomenda-se o máximo de 15 crianças por adulto.
Para avaliar o trabalho, as professoras se reúnem constantemente e trocam impressões sobre o andamento do projeto. "Cada grupo responde de modo muito diferente às propostas", conta Camilla. Por vezes, uma atividade que desperta o interesse e a curiosidade de um conjunto de crianças, parece tediosa para outro. Também pode acontecer de alguns alunos preferirem trabalhar sozinhos e depois compartilhar com os colegas.Tudo isso entra em discussão na avaliação da atividade. "Quando percebemos que a proposta realmente não funciona, é hora de alterá-la."
Nem tudo é perfeito, e o conflito também está constantemente presente. Não é raro que as crianças briguem por espaço e materiais. Aos olhos de um adulto, pode parecer uma situação desagradável. Mas, para os pequenos, é um aprendizado fundamental. Quando isso acontece, as crianças podem tentar resolver os conflitos sozinhas ou contar com a mediação dos educadores. Quanto mais essa troca ocorre, mais elas aprendem.
Fotos: Verônica Macin e Mariana Pekin
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