Quando as tartarugas incentivam a ler
A curiosidade dos pequenos sobre os répteis serviu de estímulo à alfabetização
PorMaggi KrausePaula PeresAlice Vasconcellos
05/10/2016
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Jornalismo
PorMaggi KrausePaula PeresAlice Vasconcellos
05/10/2016
A paradisíaca Praia do Forte, no município baiano de Mata de São João, abriga uma das bases do projeto Tamar, famosa ONG de preservação de tartarugas marinhas. Entre os animados grupos de visita, um chama a atenção por
estar mais atento às placas distribuídas no espaço do que aos répteis nos tanques. Tipos de espécies, hábitat dos animais, dados de alimentação... Nada escapa aos olhinhos atentos do 2º ano da EM João Francisco dos Santos. Débora Gomes Gonçalves, professora da turma, desenvolveu atividades que relacionavam o tema das tartarugas marinhas, tão presente no cotidiano dos pequenos, com textos informativos. Foi uma ousadia trabalhar com um gênero textual "de adulto". "As crianças achavam esse tipo de texto chato e tinham dificuldade de entender sua estrutura. Ao escrever, sempre começavam com 'era uma vez...'", conta Débora.
Os textos - uma nota informativa, tirinhas de quadrinhos e até um infográfico - previam objetivos específicos de acordo com a hipótese de escrita em que os alunos se encontravam. A primeira leitura era em conjunto. Na segunda, enquanto os com escrita alfabética liam sozinhos, os com silábica e silábico-alfabética tinham o apoio da professora. Para esses últimos, o pedido era que grifassem alguns trechos. "Minha intenção era que compreendessem qual o tema das passagens grifadas: era a alimentação das tartarugas? O nome de alguma delas?" Já os com escrita silábica tinham o desafio de começar a ler palavras. Então, Débora pediu que eles identificassem onde estavam as espécies. "Para localizá-las, as crianças pensavam sobre letras iniciais, letras finais ou precisavam analisar a parte interna da palavra", diz.
Já nas atividades de escrita, o desafio era questionar, individualmente, as escolhas de cada pequeno. "Muitas vezes, a criança percebia que já não bastava uma única letra para escrever a sílaba e refletia sobre sua hipótese", conta. Para Ana Paula Dini, pesquisadora de Educação e Linguagem pela Universidade de São Paulo (USP), esse cuidado individual faz diferença. Outro aspecto elogiável do trabalho foi evitar as correções canetadas - apontando todos os erros de uma escrita ainda não alfabética. Esse tipo de correção passa a mensagem de que é preciso alcançar uma determinada escrita, o que deixa a criança com medo de tentar. A turma de Mata de São João, ao contrário, se sentiu à vontade para arriscar.
Fotografia: Fernando Vivas
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