Sem plateia, o bullying não sobrevive na escola
Com capacitação, os espectadores ganham força para impedir as agressões
PorLuciene TognettaRafael Daud
13/09/2016
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Jornalismo
PorLuciene TognettaRafael Daud
13/09/2016
Telma Vinha,
professora de Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Você já viu um episódio de bullying na infância ou adolescência? Como agiu diante da situação? Esse tipo de agressão tem algumas particularidades. Evidentemente, sempre há um autor e uma vítima pode ser um colega ou um grupo que se transforma em alvo ao sofrer ataques intencionais e repetidos. Quase sempre, porém, existe um terceiro elemento: a plateia.
Muitas vezes, ela é desconsiderada por quem analisa o problema. É uma oportunidade perdida. Agir sobre os espectadores é essencial para combater o bullying. Isso porque as agressões ocorrem às escondidas dos adultos, mas não dos outros alunos. A escola deve atuar com esse público, já que ele consegue identificar os ataques no estágio inicial e intervir para reprimi-los.
Antes de tudo, é preciso entender o comportamento dos espectadores. Em geral, há dois tipos de testemunhas de agressões. Há as que riem da cena, alimentando a ideia de que aquilo é divertido, e acabam incentivando o bullying. A maior parte, porém, fica calada e não faz nada. Quem age assim também compactua com a violência, pois legitima o poder do agressor.
O receio de quem presencia a agressão tem explicação. Principalmente na adolescência, há uma excessiva preocupação com a própria imagem perante os outros e o medo de não ser aceito. Quem ri mostra que está com os fortes ou ao menos não está no grupo dos perdedores. Os que silenciam não querem se tornar vítimas.
A verdade é que grande parte da plateia ainda não sabe o que fazer ou não desenvolveu valores para se colocar no lugar do outro. A escola precisa trabalhar para construir um programa antibullying que discuta essas características e transforme a necessidade de se destacar diante dos pares em uma função positiva. Isso requer formar alunos para ajudar na resolução de conflitos. Entre as ações está a organização de sistemas de apoio entre os estudantes, como as equipes de ajuda. São grupos que recebem acompanhamento de professores para acolher e se colocar a serviço de colegas que sofrem com o bullying. Esses alunos são formados com base em valores morais, como o de não aceitar a violência, ser tolerantes e justos. Também aprendem a identificar atos abusivos, o que fazer diante deles e a quem pedir apoio.
Por exemplo, quando veem um colega isolado no recreio, podem se aproximar, tentar identificar como ele se sente e dar força para resolver o problema. Quando veem uma agressão, esses ajudantes também podem se impor e, juntos, pedir ao agressor que pare com a violência.
Ao envolver as testemunhas na resolução do problema, a escola transforma os alunos em protagonistas de ações positivas e demonstra que se preocupa com o bem-estar de todos. Os estudantes aprendem a cooperar e se fortalecem, agindo em conjunto para criar um ambiente de respeito, confiança e sem bullying.
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