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Jornalismo

Escolas em tempo integral, contingenciamento de verbas, reorganização de escolas. O que esses temas atualíssimos têm em comum? Todos tocam numa das polêmicas mais vivas da Educação: o número de alunos em sala de aula. A questão reaparece sempre que se propõe aumentar o total de estudantes por classe - cogita-se a medida quando há necessidade de reduzir o custo por aluno. Afinal, a partir de que número a qualidade da aula é afetada? O levantamento mais abrangente sobre o tema foi realizado pela OCDE, clube dos países mais desenvolvidos do mundo, com base em resultados do Pisa. O estudo chega a duas conclusões. O total de estudantes por classe - que na maioria dos países fica entre 20 e 35 alunos no Ensino Médio - não influi muito no desempenho em provas. Mas grupos grandes atrapalham a gestão de sala (veja gráfico). Pode ser um problema para nações que precisam dar um salto na Educação. É o caso do Brasil, onde o professor perde preciosos minutos para manter a ordem e tem menos tempo para ensinar.

Em São Paulo, guerra de versões

Estudo da rede de pesquisa Escola Pública e Universidade aponta superlotação de salas e reorganização silenciosa. O governo do estado nega - e a sociedade ainda não sabe quem tem razão:
 

TOTAL DE MATRÍCULAS      

Pesquisadores: de maio de 2015 a maio de 2016, a rede ganhou 24 mil alunos.

Governo: entre abril de 2015 e abrll de 2016, a rede perdeu 107 mil alunos.

TOTAL DE CLASSES

Pesquisadores: de maio de 2015 a maio de 2016, 2,4 mil salas foram fechadas.

Governo: não houve reorganização e, desde fevereiro, foram abertas 666 novas classes.

TOTAL DE ALUNOS

Pesquisadores: 13% das classes estão acima dos limites estaduais (30 alunos no EF1, 35 no EF2, 40 no EM e 45 na EJA).

Governo: 0,5% das classes supera limite.

JUSTIFICATIVAS

Pesquisadores: Dados são do cadastro escolar da SEE-SP.

Governo: não divulga dados brutos e alega que o estudo "apresenta graves inconsistências".

 

 


 

Ensino

"Sem saber Matemática, não dá para ser cidadão"

Provavelmente, você não conhece Marcelo Viana. Normal. Ser matemático não costuma tornar ninguém famoso no Brasil, ainda que a pessoa em questão seja o vencedor do Grande Prêmio Científico Louis D, célebre honraria concedida a cientistas na França. Depois da premiação, Marcelo, que também é diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), tem se engajado em mostrar a importância cotidiana de sua área. Ele acredita que as dificuldades para realizar cálculos simples impedem o pleno exercício da cidadania em ações diárias (veja exemplos abaixo)Evidenciar essas lacunas é fundamental para questionar a ideia de que é natural não levar jeito com números. "Quando as pessoas não entendem um quadro de arte abstrata num museu, elas disfarçam. Com a Matemática, dizemos escancaradamente que não sabemos nada", provoca. A saída seria apostar em ações de popularização. "É preciso apresentar esse universo de um jeito mais interessante para as crianças. A Matemática é um barato", defende.

 


No dia a dia

Quatro desafios com números

JUROS
Não saber calcular os juros previstos naquela compra a prazo com dezenas de parcelas ou o peso do atraso no pagamento do cartão de crédito pode custar caro. Literalmente.

LÓGICA
Matemática também é interpretação de texto, diz Marcelo. "Vi um atendente se recusar a dar um envelope ao destinatário pois a mensagem dizia: 'pode ser retirado pelo próprio ou por seu representante legal'. O rapaz insistia que ?o próprio? se referia ao termo 'representante'."

SOMA E SUBTRAÇÃO
É o exemplo mais dramático de falta de autonomia. Quem não sabe fazer contas básicas precisa contar com a boa fé dos outros na hora de realizar compras e pagamentos cotidianos.

GRANDEZAS
Muita gente não sabe quantas fotos de 200 Mb podem ser salvas num pen drive de 4 Gb. Alguns desconhecem quantos copos americanos de 200 ml são necessários para conter o líquido de uma garrafa de 1 litro. Conhecer unidades de medida é essencial para prever ações concretas.

 


Ilustração: Zansky

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