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Jornalismo

Educação inclusiva é pleonasmo

Ela é para todos por definição, pois cada um aprende de um jeito. Marcos, Karina, eu e você

PorLeandro Beguoci

02/08/2016

Leandro Beguoci,

Leandro Beguoci,
Leandro Beguoci, Diretor editorial e de produtos

"Posso descer lá pra baixo, na quadra? Lembro da bronca a meio sorriso da professora Gislaine quando soltei esse pleonasmo, lá nos idos da antiga 8ª série, ansioso para jogar um futebolzinho com os meninos. Descer é sempre para baixo, Leandro. Cuidado. E cuidado com esse joelho também! Essa imagem nunca mais saiu da minha memória. Virou meu remédio particular contra redundâncias e afins. A professora continua me educando décadas após aquele momento, como numa espécie de ensino a distância transmitido via túnel do tempo.

Muitos anos depois, vivi um momento semelhante com o Rodrigo Mendes, diretor do instituto que leva o nome dele. Rodrigo define seu papel de uma maneira bem simples: garantir que "toda pessoa com deficiência tenha uma educação de qualidade na escola comum". Durante um evento sobre Educação inclusiva para professores, organizado pela Nova Escola, Fundação Lemann, Fundação Vivo Telefônica, Centro Ruth Cardoso e festival Assim Vivemos, Rodrigo disse uma daquelas frases definitivas: "Educação inclusiva é pleonasmo. Educação é inclusiva por definição. As pessoas aprendem de jeitos diferentes, em ritmos diferentes. Quando o professor abraça isso, ele educa melhor porque vai querer incluir todos os seus alunos, independentemente das deficiências". Bingo. É isso. Daqui a muitos anos, ainda estarei sendo educado pelo Rodrigo.

Esta edição, que você está lendo no conforto da sua casa, na sala dos professores, no ônibus, não importa, se inspira nessa declaração de Rodrigo. Fomos até Roraima acompanhar o caso de Marcos, um menino que adora música e também tem microcefalia. É uma história poderosa em vários aspectos. Primeiro, porque revela o drama que milhares de famílias vivem e vão viver nos próximos anos por causa do vírus da zika. Não é fácil cuidar de pessoas como Marcos, e isso precisa ficar bem claro. Mas o outro lado da história mostra que, sim, é possível fazer isso. Boa Vista, a capital de Roraima, tem um programa exemplar e consegue, com continuidade política e foco, garantir que Marcos tenha uma escola para chamar de sua.

Nossa repórter, Karina Padial, voltou emocionada da cidade. Isso acontece em muitas das histórias que contamos em NOVA ESCOLA. "Os problemas da Educação brasileira são grandes, parecem difíceis de superar. Aí, quando você encontra um caso como o do Marcos, no extremo norte do país, numa rede que pouca gente tinha ouvido falar, é incrível. Fiquei com essa história na cabeça durante dias", conta Karina.

Tenho certeza de que Marcos vai continuar educando Karina por muitos anos, até ela ficar velhinha vendo Olimpíadas na TV. E espero que a história dele também te ajude a melhorar a sua escola, a sua rede. Educação inclusiva é pleonasmo. Educação para todos também.

 

 

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