Telma Vinha,
Professora de Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Na edição anterior, eu e a pesquisadora espanhola Maria José Díaz-Aguado falamos sobre a violência de alunos contra professores, que muitos de nós já presenciamos - ou sofremos. Por ser um problema complexo, ações pontuais ou apenas de contenção não funcionam. É preciso atuar de maneira sistêmica, ou seja, atacando a questão por vários lados, tanto para prevenir episódios quanto para encaminhá-los da melhor forma. Agora, repetimos a dobradinha e trazemos medidas que, aplicadas em conjunto, têm apresentado resultados eficazes em nossos estudos.
- Planeje aulas interessantes e desafiadoras Quando o aluno é ativo na própria aprendizagem, vê sentido nos conteúdos e tem propostas que o desafiam, ele se interessa mais pela aula. Isso diminui o tédio e o impulso por perturbar ou enfrentar. Evite atividades monótonas e elabore situações para que eles interajam entre si.
- Ajude os alunos a ter destaque positivo Muitos têm dificuldade em encontrar seu espaço na escola, então agridem para se destacar. O caminho é prever situações em que eles possam exercer o protagonismo de forma positiva, como integrando equipes de ajuda na instituição.
- Envolva-os na criação e aplicação de regras Organizar assembleias e convidar os estudantes a elaborar regras para o bom convívio na escola ajuda a desenvolver o senso de comunidade e a sensação de pertencimento àquele local. Com isso, o comportamento agressivo tende a diminuir, pois passa a ser visto não apenas como uma desobediência à autoridade mas também como uma deslealdade com o grupo.
- Surpreenda os agressores Ações de coerção para tentar parar um comportamento inadequado, como suspender e expulsar, já são esperadas pelos alunos e, por isso, não os impedem de continuar. Funciona mais responder com uma conduta que surpreenda o autor, como convidá-lo a participar de um programa de alunos mediadores de conflitos na escola.
- Substitua ações punitivas por educativas Use os conflitos como oportunidades para que o aluno aprenda a resolvê-los de forma mais assertiva. É preciso ensiná-lo a identificar suas emoções e a se expressar verbalmente, sem agredir. Após o confronto, em um momento mais calmo, chame-o para refletir sobre o ocorrido e tentar identificar as causas e consequências. Envolva-o na resolução, auxiliando-o a se colocar no lugar do agredido. Ele deve ajudar a pensar em como reparar o dano e em outros modos de agir. Formar uma equipe de mediadores também ajuda no processo.
- Estude continuamente a questão da convivência e troque informações com colegas Ao estar informado e atento, o professor é capaz de intervir nas atitudes que ferem os princípios morais. O recurso a pesquisas e a troca com educadores auxilia na socialização de boas práticas e apoio mútuo.
Surpreenda os agressores. Em vez de suspender e expulsar, convide-os a participar de um programa de mediação de conflitos na escola.
Pode parecer trabalhoso, mas quando as medidas fazem parte de um trabalho global e contínuo da instituição, tornam-se mais efetivas. Isso requer envolvimento de todos e conhecimento sobre as melhores intervenções. Só assim transformamos a relação com essas crianças e a forma como elas se relacionam com o mundo.
Em coautoria com Maria José Díaz-Aguado, professora de Psicologia pela Universidade Complutense de Madri, na Espanha
Fotografia: Ramón Vasconcelos