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Jornalismo

Em razão dos Jogos Olímpicos de 2016, estão sendo realizadas mudanças estruturais, produzidas músicas e escritos textos. O Rio de Janeiro está em movimento. A cidade, capital brasileira de 1763 a 1960, sofreu muitas transformações ao longo do tempo. Todas contribuíram para formar a organização social que vem sendo retratada pela literatura. Pensando nisso, Heloisa Ramos, consultora de NOVA ESCOLA, elaborou uma sequência didática para analisar a sociedade da capital fluminense com a leitura de O Cortiço, de Aluísio Azevedo (1857-1913), publicado em 1890, e Fiel, de Jessé Andarilho, lançado em 2014. Para se preparar, o professor pode ler o texto sobre a história das favelas cariocas que está disponível no site abr.ai/favelas-rio e o livro Letramento Literário: Teoria e Prática (Rildo Cosson, 144 págs., Ed. Contexto, tel. 11/3832-5838, 29,90 reais). 

Comece a aula expondo aos estudantes a relevância histórica do Rio de Janeiro e a importância de sediar os Jogos. Depois, divida-os em quartetos e peça que analisem um mapa da cidade e levantem hipóteses sobre como a população ocupa os espaços, refletindo sobre quem vive e trabalha em cada local. Solicite que registrem as ideias no caderno para comparar às conclusões finais. Esclareça que, além de mapas e noticiários, a literatura é uma ótima ferramenta para compreender estruturas sociais e siga as etapas a seguir para viajarcom a turma para a Cidade Maravilhosa.

 

As favelas em dois tempos

Apresente e contextualize as duas obras. O clássico de Aluísio Azevedo nasceu em um momento de grandes mudanças no país. A abolição da escravatura e a Proclamação da República eram tão recentes que não havia clareza de como as coisas se organizariam. O Cortiço narra a história de João Romão, português ambicioso que constrói casinhas para alugar a pessoas marginalizadas. O livro conta como era a vida delas. Já Fiel fala sobre a vida em um morro carioca hoje em dia, por meio do olhar de alguém que viveu ali.
A narrativa baseia-se em experiências reais do autor, seus amigos e conhecidos e mostra a rápida ascensão e queda de um menino de 16 anos no tráfico de drogas.
Na sequência, inicie a apreciação das duas obras. Nos mesmos grupos em que trabalharam anteriormente, os estudantes devem inspecionar os livros. "Observar ficha catalográfica, nome do autor, editora e ano de edição, apresentação, prefácio, orelha e capa ajuda a compreender o contexto da obra e a prever o que será encontrado no miolo", explica Heloisa. Acompanhe a discussão e auxilie os alunos a fazer a leitura desses elementos. Depois, peça que compartilhem as descobertas entre si e sintetizem-nas no caderno.

Em casa, o momento de uma leitura fiel

Agora, a turma mergulhará nas páginas dos dois livros. Combine com todos que leiam Fiel em casa, seis capítulos por semana. Como O Cortiço é um clássico da Língua Portuguesa do século 19, ainda complexo para essa faixa etária, serão lidos apenas alguns trechos (indicados a seguir) em voz alta na sala. Depois de cada leitura, estimule a análise dos detalhes sobre os tempos pelos quais a cidade passou. Além disso, encoraje os alunos a compreender o significado do texto em sua complexidade. Para avaliar a compreensão da turma, proponha rodas de conversa sobre os temas destacados a seguir e discuta a realidade relatada no livro e a dos dias de hoje.

 

 


Na aula, por dentro do cortiço

Inicie a leitura coletiva com o fragmento do primeiro capítulo de O Cortiço, que começa em "João Romão não saía nunca a passeio" e termina em "(...) à proporção que o conquistava, reproduziam-se os quartos e o número de moradores". Esse trecho permite que a turma conheça a história da construção desse tipo de moradia e serve de introdução para as discussões dos temas indicados abaixo.

 - Protagonistas Compare o primeiro capítulo de Fiel aos dois primeiros parágrafos de O Cortiço e questione as semelhanças e diferenças entre João e Felipe. Discuta a quem é dado o protagonismo em cada livro e por que os autores fizeram essa escolha. "Ambas as obras tratam de como vive uma parcela excluída da sociedade, mas uma foi escrita por
um observador de fora e outra por alguém de dentro. De épocas tão distantes, elas mostram diferentes olhares e trazem uma discussão rica para a sala de aula", comenta Helena Weisz, mestre em Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP).

- Água No final do primeiro capítulo do livro de Azevedo, os quatro últimos parágrafos comentam a abundância de água no lugar. Diferentemente de Fiel, que fala sobre o sofrimento de seu Zé com as goteiras e a falta de água potável ao mesmo tempo. Muito atual. 

- Polícia Em tempos de Unidades da Polícia Pacificadora (UPPs), é importante observar a ação policial em zonas marginalizadas. No clássico, há dois momentos interessantes. O quarto capítulo diz: "Nunca nos entrou cá polícia, nem nunca a deixaremos entrar!"; e o décimo: "A polícia era o grande terror daquela gente". Já na obra contemporânea, se lembra da polícia para falar de tiroteio.

- Mulher No sexto capítulo do livro de 1890, Rita Baiana reflete sobre o casamento: "Casar? Para quê? Para arranjar cativeiro?", enquanto Piedade faz-se escrava de Jerônimo: "(...) sem vontade própria, acompanhando-lhe os menores gestos". Já no texto atual, Jéssica, namorada de Felipe, é uma "mera coadjuvante" da vida dele, até que se revolta: "Quero ser a personagem principal da minha própria história!".


No caderno, o território de cada um
Após os debates, solicite que os alunos produzam um texto curto contando um fato ocorrido no bairro em que vivem que tenha relevância social, como os vistos nas duas obras. "Fazer a garotada falar de si e escrever sobre o seu território faz com que a experiência se torne pessoal", explica Heloísa Buarque de Hollanda, coordenadora-geral do projeto Universidade das Quebradas, no Rio de Janeiro. Assim, o texto dos autores se tornará, em alguma medida, de cada um dos alunos. 

Fiel, de Jessé Andarilho(216 págs., Ed. Objetiva,tel.: 21/2199-7824, 26,90 reais) 

 

O Cortiço, de Aluísio Azevedo (leia em abr.ai/cortiço)   

 


Ilustrações: Pedro Hamdan 

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