A geração de energia em jogo
Projeto desafia a criação da malha energética de uma cidade imaginária
17/08/2015
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Jornalismo
17/08/2015
Por que a conta de luz subiu tanto? Haverá um novo apagão? Qual é a fonte de energia mais sustentável? Os alunos do 9º ano da Escola Parque, no Rio de Janeiro, tiveram a chance de responder a essas e outras questões ao se dedicarem a um trabalho criativo. Em vez de recorrer à velha fórmula monólogo + exercícios + outro monólogo + testes + provas, o professor de Ciências Hermann Schiffer Fernandes propôs à turma uma situação-problema: desenvolver a malha energética de uma cidade imaginária.
Batizado de Parquépolis, um Desafio Energético, o projeto foi organizado em sete etapas. No primeiro momento, o docente apresentou a situação atual da matriz de energia elétrica brasileira e a comparou a de outros países por meio de uma apresentação com gráficos, diagramas e tabelas. Entre um slide e outro, os alunos fizeram perguntas e tiraram dúvidas sobre o cálculo da conta de luz, os recentes apagões e a importância da eletricidade para o dia a dia das cidades.
Em seguida, Fernandes explicou os cinco tipos mais comuns de usinas de energia: hidrelétrica, termelétrica, eólica, solar e nuclear. Ele detalhou o processo de produção e os riscos de danos ambientais de cada uma e analisou os casos da Usina Nuclear de Fukushima, no Japão, e da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Brasil. Depois, exibiu o documentário Obras Incríveis - Itaipu, da National Geographic, que estimulou a discussão sobre a complexidade do processo de instalação de uma hidrelétrica de grande porte.
"Tive de desconstruir conceitos que os alunos reproduziam dos pais ou da mídia em geral. Alguns criticavam a energia nuclear sem argumentos sólidos, outros viam a eólica e a solar como perfeitas e não sabiam por que o governo não investia mais nelas", contou Fernandes. Lucas Travassos era um desses alunos. Até participar do projeto, acreditava que a energia eólica era a mais ecologicamente correta. Nas aulas com Fernandes, descobriu que as hélices usadas nesse modo de produção podem ameaçar aves migratórias e passou a pensar de forma diferente: "Toda fonte de energia, por melhor que pareça ser, tem seus prós e contras. O ideal seria mesclá-las para suprir a demanda energética de um local minimizando os riscos ambientais".
Terminadas as aulas expositivas, começou o desafio: construir a malha energética de Parquépolis da maneira mais ecológica e socialmente sustentável possível. Divididos em grupos de cinco ou seis, os alunos receberam o mapa da cidade imaginária (como o abaixo) e um roteiro com o cronograma de atividades, além de informações sobre a capacidade de produção e o custo de cada tipo de usina de energia na moeda fictícia da cidade (como mostram as cartas ilustradas). Nesse momento, o professor deixou claro quais seriam os critérios de avaliação, já que os trabalhos seriam analisados não apenas por ele mas também pela própria turma.
As duas aulas seguintes foram dedicadas à construção dos projetos. Os alunos puderam consultar suas anotações sobre as aulas expositivas e sites indicados pelo professor, como o do Ministério de Minas e Energia e o Como Tudo Funciona. "Ao indicar sites confiáveis, o docente valoriza a pesquisa e não se coloca como único detentor da informação. Para estimular a autonomia, o ideal é que ele só esclareça dúvidas depois de esgotadas todas as tentativas dos alunos", indica Luciana Hubner, consultora pedagógica da Abramundo. Já pesquisas específicas sobre o território de Parquépolis deveriam ser previstas no orçamento do grupo. Caso precisassem de mais informações, os alunos podiam usar parte dos recursos para comprá-las do professor, como se estivessem em contato com institutos de pesquisa reais. Os levantamentos custavam cerca de $ 500.
Na última aula, cada grupo apresentou seu trabalho usando slides ou vídeos. O restante da turma avaliou cada proposta como se formasse o conselho de cidadãos de Parquépolis. Ao final, todos votaram em uma delas - menos na do seu próprio grupo - e a mais votada foi considerada vencedora. "Ao avaliar os projetos, não de forma egoísta, mas de maneira construtiva, os alunos representam cidadãos conscientes que buscam o melhor para sua cidade", comenta Fernandes.
A aluna Maria Eduarda Padilha destaca a importância do momento de apresentação e avaliação em grupo: "As aulas mais interativas e menos expositivas são as mais legais, porque em vez de ficar decorando fórmulas, você entende como aquilo funciona".
Eleonora Kurten, vice-diretora do Espaço Ciência Viva, sugere que a apresentação seja complementada por propostas mais práticas, como uma maquete, um game ou um teste. "Se o trabalho fala de energia eólica, por exemplo, um experimento poderia demonstrar como o vento ?vira? energia, já que a experimentação ajuda a abrir a percepção", justifica.
Para Fernandes, o maior legado do projeto foi o estímulo ao debate em sala de aula. "Numa discussão, nem sempre chegamos a um consenso, mas quando o tema é bem debatido, mesmo que a decisão não seja a sua, você tende a compreendê-la melhor e até a aceitá-la em prol do grupo", afirma o professor.
Bernardo Costa, aluno de Fernandes, confessa que, até participar do projeto, tinha aversão a ambientalistas. Depois de Parquépolis, percebeu que desenvolvimento tecnológico e preocupação ambiental não são opostos, e sim complementares. "Hoje em dia, quando saio do quarto, apago a luz. Quando escovo os dentes, fecho a torneira. Ao comprar um produto, opto pelo mais sustentável e menos poluente. Ou seja, o 9º ano passou, mas a consciência ecológica não", garante.
Ilustração: Priwi. Clique aqui para abrir o arquivo
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