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Jornalismo

"Invento brinquedos para incrementar o intervalo"

Isac Herrera de Souza é inspetor da EMEF Bartolomeu Bueno da Silva

PorNOVA ESCOLASophia Winkel

08/12/2015

Souza e a turma em fila para jogar o peteleco, que ele construiu com material reaproveitado.  Fotos: Manuela Novais

"Durante três anos, fui motorista da Secretaria de Educação de Ribeirão Pires, na região metropolitana de São Paulo. Transportei diretores, funcionários e a vice-prefeita para compromissos em mais de 70 escolas. Como eu tinha de esperar, observava como elas funcionavam e de que forma as professores lidavam com as crianças. Notei que faltavam opções de lazer. Quase não havia playgrounds e brinquedos. 

Interessei-me por atuar na Educação e prestei concurso para inspetor. Passei, trabalhei em várias escolas e em 2012 fui transferido para a EMEF Bartolomeu Bueno da Silva, na cidade de São Caetano do Sul, na mesma região. Eu via que os alunos corriam muito nos intervalos, caíam e se machucavam. Achei que havia a necessidade de algo que prendesse a atenção deles. 

Então, inventei o peteleco. Acho que a garotada gosta tanto porque é dinâmico e as jogadas nunca são iguais. É como um futebol de mesa, com obstáculos, que são tampinhas de garrafa coladas na tábua. As crianças jogam em pares e cada uma tem quatro jogadas (pe-te-le-co) para fazer o gol movimentando a bola (uma espécie de botão de madeira) com os dedos. 

Outra criação é o discobol, parecido com o Air Hockey dos shoppings. Para fazer a ficha deslizar, joguei óleo de cozinha em uma tábua, mas depois resolvi usar carteiras velhas, de plástico duro, que são bem lisas. Tudo o que eu faço é pensado e testado. Procuro garantir que os jogos não machuquem e que sejam rápidos para todos conseguirem brincar no intervalo. Já são mais de 20 brinquedos, e a fila é sempre grande. 

Faço essas invenções por prazer. Na hora do almoço, descanso um pouquinho e vou bolar algo. Cuido de toda a manutenção da escola e nas minhas horas livres também crio. Pego os materiais em caçambas na rua. Elas estão sempre cheias de coisas que podem ser aproveitadas. Além disso, todas as escolas têm um quartinho com objetos que ninguém usa mais. Sempre dá para encontrar bons materiais ali. Minha sorte é que a diretora me dá carta branca para fazer esses garimpos e construir os brinquedos. 

Vira e mexe me pedem para fazer outros. É difícil ter tempo, mas já há umas quatro escolas que têm criações minhas. De vez em quando, eu ligo para saber se os inspetores estão acompanhando o uso delas. Se você for desleixado, as crianças não dão valor. Mas, se você cuidar, elas também cuidam e respeitam."

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