Manual do bom estágio
Como a prática precisa ser estruturada para garantir a preparação dos novos pedagogos
PorNOVA ESCOLA
14/01/2016
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Jornalismo
PorNOVA ESCOLA
14/01/2016
Na tentativa de preencher o vazio que um estágio malfeito pode deixar na formação do docente, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 284/2012 que propõe a criação da residência pedagógica. A proposta prevê uma etapa de 800 horas com bolsa de estudo após a graduação, semelhante ao que acontece com os médicos. Ainda a ser apreciado pela Comissão de Educação do Senado, o projeto está longe de ser implementado. Da maneira como está, no entanto, ele tem mais a ver com aspectos como a formação continuada e a especialização do docente. Além disso, iniciativas bem diferentes têm recebido o rótulo inspirado na Medicina. Há, por exemplo, a Residência Educacional do governo do estado de São Paulo voltada para estudantes, mas que não substitui o estágio.
Já na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a residência é o estágio reestruturado (confira nos lembretes ao longo desta reportagem apontamentos de especialistas para o formato ideal de estágio). Ela começa no 2º ano do curso e só pode ser realizada em escolas conveniadas. Cada docente orienta no máximo seis alunos e tem como uma de suas incumbências se aprofundar na área que está supervisionando. Ele participa até das reuniões de formação na escola e mantém contato constante com o professor anfitrião. "Queremos estar na instituição que quer nos receber. A ideia é trocar os saberes da prática e da academia colaborando com a formação de todos", defende Célia Giglio, uma das fundadoras do programa.
Com base na demanda apresentada pelo titular da turma, o supervisor orienta o estudante e vai com ele apresentar a proposta de intervenção na instituição. Diferentemente de outras faculdades, o estágio é realizado em dias corridos, o que exige uma disponibilidade extra. "Os momentos de orientação na universidade também são fundamentais para a aprendizagem da docência", completa Magali Silvestre, pesquisadora da Unifesp.
Segundo a Resolução nº 01/2006 do Conselho Nacional de Educação (CNE), os estudantes de Pedagogia devem passar por 300 horas de estágio supervisionado prioritariamente em Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, contemplando também outras áreas, conforme o projeto pedagógico da instituição. O problema é que não há especificações de como ele deve ser realizado, o que cria espaço para uma diversidade de formatos. Em muitas faculdades, ocorre a tradicional observação - em que o estagiário interage pouco e se limita a fazer anotações em um canto da sala. Outras têm buscado rever essa fase essencial para a formação docente.
Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por exemplo, a parceria com a escola que receberá o estagiário é constante. "Trabalhamos com até cinco instituições na tentativa de conjugar a formação inicial dos nossos alunos com a formação continuada dos profissionais que os recebem", esclarece Daniela Guimarães, coordenadora de estágios de Pedagogia na UFRJ. Uma das instituições parceiras é o Colégio Pedro II, na capital fluminense. "Colocamos os coordenadores das universidades que nos enviam estudantes em contato direto com os chefes dos departamentos que os receberão", conta Neide Parracho, pró-reitora de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura da escola. Apesar de boa parte do tempo ser dedicada à observação, ela é feita de maneira abrangente e junto com a prática. "Para cada área, há um roteiro diferente. Também queremos que o aluno tenha vivência em todos os momentos da rotina escolar, além de ao menos uma regência por estágio, acompanhada pelo docente da universidade", completa Daniela.
Outro ponto de atenção é a quantidade de alunos supervisionada por cada professor. Na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) são 12 para cada docente, que visita quinzenalmente a escola anfitriã. Durante quatro meses, o aprendiz fica quatro horas diárias acompanhando o titular da turma (primeiro nos anos iniciais e depois na Educação Infantil). Os constantes diálogos com o supervisor e o professor da escola resultam em propostas para atender às necessidades da classe. "Conseguimos que nossos estudantes desenvolvam sugestões que se encaixem no perfil da escola e da turma que acompanham e as coloque em prática durante o estágio", explica Rosane Vargas, coordenadora de Métodos e Técnicas de Ensino da PUC-RS.
O conhecimento do professor supervisor na etapa de ensino ou função em que seu aluno estagia também é determinante para que o universitário seja bem orientado. Na Universidade de São Paulo (USP), os estudantes fazem disciplinas que incluem horas de estágio, a partir do 3º semestre de curso. Em cada uma delas, há um docente especialista que realiza a orientação. "Alguns professores pedem a criação de um plano de aula baseado na observação, outros solicitam que os alunos desenvolvam práticas na escola para testar uma hipótese ou coletem informações para uma pesquisa", conta Marcos Neira, coordenador dessa área na Faculdade de Educação da USP.
Em 2001, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica já indicavam, por exemplo, que o estágio fosse considerado curricular - igual o da USP - e não uma atividade à parte. Como se vê, o nome é o menos importante. Residência ou estágio, o necessário é que os ajustes sejam feitos para que teoria e prática se unam a favor da formação desse educador que logo estará numa sala repleta de alunos sob sua responsabilidade.
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