Nem todo plástico vem do petróleo
Com muito estudo, debate experimentação, a classe desvendou os segredos dos polímeros
13/01/2016
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Jornalismo
13/01/2016
Difícil imaginar como seria a nossa vida sem plástico. Ele está presente em telefones, computadores, sacolas, vasilhas e muitos outros objetos. "Os polímeros - que originam os plásticos - são uma das mais importantes descobertas do século 19", diz Wolmar Alípio Severo Filho, da Universidade Santa Cruz do Sul (Unisc). Mas de onde vêm, o que são e para onde vão esses compostos químicos tão necessários?
A docente Sonia Maria Trigo Alves ajudou o 9º ano da EE Professor Adahir Guimarães Fogaça, em São José do Rio Preto, a 443 quilômetros da capital paulista, a encontrar e compreender essas respostas. O ponto de partida foi o texto O Que É Petróleo. "É muito importante os alunos compreenderem que a indústria do plástico está diretamente relacionada à extração do petróleo", comenta Jackson Gois, da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).
A leitura foi feita em grupos e os estudantes grifaram os trechos que consideravam mais importantes e os que não compreendiam. Depois, a docente discutiu os pontos anotados por todos. Debateram se, por ser fóssil, o petróleo é um produto renovável e se ele é de origem orgânica ou inorgânica. "Eu não sabia que o petróleo vem de fósseis. Para mim ele era inorgânico", comenta a aluna Mayara Kanashiro Ng, 14 anos. Sonia questionou também se ele é renovável e todos concluíram que não, pois seria necessário muito tempo para repor sua reserva e, além disso, ele não pode ser encontrado em qualquer lugar como as fontes de energia renováveis. No fim, cada grupo fez um texto sobre o que tinha aprendido. "Peço que escrevam como se estivessem explicando para alguém de fora", diz a educadora.
A aula seguinte abarcou o refino do petróleo. Em um infográfico, os adolescentes visualizaram o sistema de destilação fracionada pelo qual ele passa e quais são os subprodutos. Como cada um tem um ponto de ebulição diferente, eles vão sendo separados em compartimentos. Então, leram um texto da revista MUNDO ESTRANHO e assistiram a um vídeo sobre o refino do petróleo. "Eles se espantaram com a quantidade de subprodutos e como todos estão presentes na nossa vida", lembra Sonia. A lista estudada é composta de óleo combustível, óleo lubrificante, óleo diesel, querosene, gasolina, nafta e gás. Todos levaram para casa a tarefa de pesquisar mais sobre o tema.
A unidade que forma o plástico
A pergunta "O que é nafta?" abriu o encontro seguinte. Apesar de os adolescentes já terem visto o termo na leitura anterior, a primeira coisa que veio à mente deles foi o Acordo de Livre Comércio da América do Norte, que havia sido estudado em Geografia e, em inglês, tem a sigla Nafta. Assim, a professora os orientou a rever o que haviam lido. Mas ainda restaram dúvidas. "Para que ela serve?". Sonia indicou um novo texto que explica o processo de craqueamento da nafta líquida e seu resultado, um monômero, unidade química do polímero.
Os adolescentes ficaram impressionados com a descoberta de que materiais como a garrafa PET surgem desse processo. Achavam que o petróleo só tinha relação direta com materiais da indústria automobilística. Em mais uma leitura, passaram a olhar para o plástico em si. Conversaram sobre os usos dele, suas propriedades e as maneiras de descartá-lo. Então, a docente pediu que todos listassem em casa os objetos plásticos com os quais tinham contato.
Nesse momento da sequência, é possível aprofundar a pesquisa sobre as propriedades do material. "O professor pode fazer uma experiência sobre a densidade dos objetos", sugere Gois. Você vai utilizar três bacias pequenas, água, sal, álcool e diversos tipos de plásticos (garrafas PET, borrachas, bexigas etc.). É necessário cortá-los em pedaços iguais e colocá-los dentro da primeira bacia com água. Os que afundarem vão para a bacia com água e álcool, e os que submergirem nessa segunda solução são transportados para a mistura de água e sal. Como a densidade da água está aumentando gradativamente (pelo acréscimo de álcool e sal), pode-se estimar a densidade dos objetos e averiguá-la em textos científicos.
Ao pesquisar os plásticos usados no dia a dia, a turma se espantou com a quantidade. Na sala de informática, a professora exibiu um vídeo e uma apresentação sobre o descarte dos objetos e seu tempo de decomposição. Em seguida, perguntou "O que podemos fazer a respeito?" e instruiu a sala a pesquisar sobre o descarte daqueles objetos e os impactos ambientais. Os estudantes voltaram defendendo o reaproveitamento das sacolas plásticas e o encaminhamento para a reciclagem.
Na sequência, eles leram o texto O Que São Polímeros para se aprofundar no processo químico que faz com que os monômeros se organizem em cadeia. Aí, tiveram contato com as estruturas moleculares desses materiais. "Eles ficaram curiosos com o tamanho das fórmulas. Expliquei que estudariam mais sobre isso no Ensino Médio e focaríamos outros aspectos naquele momento", comenta. Assim, a turma seguiu aprendendo as particularidades do material não derivado do petróleo. "Fiquei surpresa por saber que o plástico pode vir de várias fontes", lembra Beatriz dos Santos, 14 anos. Foram discutidas várias questões como o fato de que nem tudo pode ser biodegradável já que em alguns casos a rápida decomposição seria um problema.
Por último, todos produziram plástico com batatas. Cada grupo usou quatro batatas, quatro colheres de sopa de vinagre, quatro colheres de sopa de glicerina, três copos de água, corante, liquidificador, jarra, peneira, panela e uma fôrma. O primeiro passo foi cortar as batatas e bater no liquidificador com dois copos de água. Depois, coaram esse líquido e deixaram descansar por 20 minutos em uma jarra. Retiraram o líquido e pegaram duas colheres de sopa da mistura branca (o amido) que ficou no fundo. Colocaram o amido na panela com um copo de água, o vinagre, a glicerina e algumas gotas de corante. Levaram ao fogo, mexeram e deixaram ferver até ficar com um aspecto gelatinoso. Finalmente, retiraram do fogo e despejaram em uma fôrma de vidro para secar. Após uma semana puderam retirar a película de plástico da fôrma. "O amido é um polímero natural constituído de muitas moléculas de glicose juntas", explica a docente. Durante o experimento, ela retomou o conteúdo e chamou a atenção da turma para aspectos como a reação chamada de polimerização. "Os alunos precisam perceber a Química em coisas aparentemente distantes, como o petróleo, e ver como ela está no cotidiano, em objetos feitos de plástico e até no que comem", comenta Gois.
1 O valor do "ouro negro" Converse com os alunos sobre o que compreendem da formação do petróleo e seus subprodutos. Peça que pesquisem e leiam textos científicos sobre o tema e discutam suas impressões em grupo.
2 Por dentro dos polímeros Indique textos e vídeos sobre a composição dos plásticos e sobre como sua fabricação está, na maioria dos casos, ligada ao petróleo. Distribua, também, textos sobre outros tipos de plásticos e suas estruturas moleculares.
3 Impacto no meio ambiente Peça que a turma anote os objetos que utilizam em casa e que são de plástico. Depois, solicite que todos reflitam sobre como amenizar os impactos causados na natureza pelo descarte desses materiais.
4 Vamos plantar mais batatas Conduza um experimento para a produção de plástico usando batatas e vinagre. Durante a experiência, faça perguntas para que a classe relacione o que está fazendo com os conteúdos estudados.
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