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Jornalismo

Ler e fazer gibis para avançar no espanhol

Pensar no enredo, pesquisar vocabulário e ilustrar o material foram as tarefas da turma

PorFernanda Kalena

10/02/2016

Os alunos tiveram de pesquisar o vocabulário específico de cada tema.

Estudar um novo idioma requer entrar em contato com ele de forma intensa. Isso inclui se dedicar a leituras, produção textual, atividades de escuta e contato com falantes proficientes. Não existe uma ordem para que essas práticas sejam exploradas com a garotada, como se umas fossem mais simples e outras mais complexas. Todas têm seus desafios e quando reunidas em um bom planejamento fazem com que os alunos aprendam de verdade. Eles podem se valer, por exemplo, de algo recorrente nas leituras para compor as próprias produções. 

No CE Dario Vellozo, em Toledo, a 546 quilômetros de Curitiba, as turmas de 6º e 7º anos trabalham nessa perspectiva nas aulas da professora Eide Reati do Prado. Ela elaborou uma sequência didática de leitura e criação de histórias em quadrinhos em espanhol. O gênero já despertava a atenção dos estudantes: era o mais requisitado para empréstimo por eles no programa Hora da Leitura, que a escola organiza todas as semanas. "Em Língua Estrangeira, é importante trabalhar com gêneros textuais com que os alunos têm familiaridade, principalmente no início da apropriação da língua, quando é preciso aprender vocabulário e estruturas gramaticais. Se for abordado um gênero que eles desconhecem, são criados outros obstáculos", diz Celina Fernandes, consultora para a área de linguagem. 

Depois de conversar com os alunos sobre os personagens prediletos deles, Eide foi introduzindo termos referentes ao gênero como tebeos, historietas, guion, tiritas e personajes. Em seguida, levou os jovens para o laboratório de informática e pediu que acessassem Gaturro e Todohistorietas. Depois, eles pesquisaram no Google Imagens a expressão "historietas en español" e apreciaram os materiais. "Os primeiros resultados da busca indicaram histórias de personagens que a sala já conhecia, mas as falas estavam em espanhol. Os estudantes encontraram também historietas de Mafalda e Gaturro, dos cartunistas argentinos Quino e Nik, respectivamente. Eide reservou bastante tempo para a garotada explorar o material, de modo que todos pudessem ler as histórias e tentar entendê-las. Em seguida, circulou pela sala e pediu que todos prestassem atenção na pontuação para marcar exclamações e interrogações (no espanhol, os sinais aparecem no início e no fim das frases) e os tempos verbais mais recorrentes. "Já tínhamos trabalhado com o presente del indicativo e estávamos começando o futuro simple del indicativo", explica a professora. 

Ainda no laboratório, a educadora pediu que cada um escolhesse uma história e a transferisse para o caderno, em forma de diálogo. O propósito era fazer os alunos visualizarem o material sem balões e desenhos e se prepararem para a tarefa seguinte, de produção. 

De volta à sala, Eide propôs à moçada criar, escrever e ilustrar os próprios quadrinhos. Explicou que os temas deveriam ser escolhidos entre os que estavam sendo trabalhados na escola no momento, como bullying, descarte de materiais, relação entre pessoas na unidade e fora dela. "Em parceria com a coordenação pedagógica, pensei o que poderia ser interessante tanto para quem produzisse as histórias como para os leitores", explica a docente. 

Eide disse ao grupo que, depois de prontas, as produções iam ser organizadas em uma publicação (Dario en Tiritas), distribuída aos alunos. Como resultado, por exemplo, apareceram histórias como El Combate al Dengue e Cadena de Favores: La Pila, com questões abordadas no projeto da escola Corrente da Pilha, sobre o descarte do material. 

De acordo com Celina, a proposta de Eide é interessante: tem um propósito comunicativo real e é uma tarefa desafiadora, mas possível de ser realizada. Os alunos tiveram de se dedicar muito à pesquisa dos temas e do idioma em si, buscando o vocabulário adequado, para saber o que escrever e como fazer isso corretamente.

Roteiros escritos na língua materna 

Os estudantes foram organizados em quartetos e sextetos e os temas sorteados entre eles. O início da produção foi marcado pela elaboração de roteiros em português. Todos tinham de pensar como se desenrolaria a história, quais seriam os cenários e os personagens, tal como fazem os cartunistas profissionais. "Decidi determinar o início na língua materna, pois se pedisse para a turma escrever em espanhol poderia tolher a criatividade. O vocabulário de todos era limitado e não poderia ser, nesse momento, uma preocupação", diz Eide. Além disso, as produções deveriam ser curtas e ter começo, meio e fim. 

Depois, a garotada se dedicou a esboçar os quadrinhos em espanhol. As primeiras versões entregues à educadora foram analisadas por ela. Os erros mais comuns e as confusões com o português foram reunidos para ser discutidos com a classe. "Os alunos tentaram traduzir ao pé da letra expressões para o espanhol e isso nem sempre é possível. Então, conversei com eles sobre isso. Outra questão que interferi foi na busca de vocabulário adequado", diz Eide. A criançada não sabia, por exemplo, qual palavra usar para apresentar um personagem barrigudo. A professora, então, orientou uma pesquisa e foram encontrados os termos boludo e panzón. "Cada assunto exigia conhecimentos específicos, e isso ajudou a aumentar o número de palavras conhecidas da classe", explica Eide. Durante o trabalho, Eide ficou à disposição para tirar dúvidas. Muitos estudantes a procuravam, por exemplo, para saber como traduzir expressões como "que chato". 

Após diversas revisões coletivas, os grupos encaminharam a finalização das histórias, se preocupando com o visual do material. Capricharam nos traços e nas cores. A pedido de Eide, a professora de Arte deu apoio aos alunos, trabalhando os tipos de balão, as funções deles e também como desenhar as expressões faciais de cada personagem de acordo com o que ele está falando. 

Quanto aos resultados de aprendizagem, Eide não economiza elogios. "Os alunos se tornaram mais receptivos às aulas, estão participativos e aprenderam muito ao escrever. Eles ficaram orgulhosos do produto final", diz. "Adorei criar quadrinhos para outras pessoas. Antes, não tinha o costume de ler em espanhol. Com o projeto, aprendi que é fácil e agora sempre busco na internet coisas novas", conta a estudante Ana Luiza Ostroski Gomes, 11 anos.

Dario en: El combate al Dengue

Mesmo sem dominar o espanhol, os alunos escreveram e ilustraram vários quadrinhos

1 Historietas en línea Oriente os alunos a pesquisar na internet histórias em quadrinhos escritas em espanhol. Peça que cada um escolha uma e a transfira para o caderno, copiando somente o texto, em forma de diálogo. 

2 ¡Vamos crear historietas! Proponha à classe criar os próprios quadrinhos em espanhol sobre projetos desenvolvidos atualmente na escola. Explique que o produto final será impresso e distribuído para a comunidade escolar. 

3 Trabajando juntos Organize a turma em grupos, cada um responsável por um tema. Peça que escrevam, em português, um roteiro para a história. Por fim, solicite que façam esboços dos quadrinhos em espanhol. 

4 Hacer la revisión Analise as produções, organize discussões e revisões coletivas a respeito dos erros mais comuns e confusões com o português. 

5 Crear dibujos y colorear Oriente os estudantes a finalizar os desenhos e organizar os balões com as falas dos personagens. Providencie a organização do material para impressão.

 

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