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Jornalismo

Passagem para o Ensino Médio: tempo de mudança

A chegada a esta nova etapa de ensino é um momento delicado para os jovens. Saiba como colaborar

PorBruno Mazzoco

21/08/2016

O fim do ano letivo se aproxima e, nas salas do 9º ano, é comum notar a inquietação dos alunos. A excitação relacionada ao fechamento das notas e à formatura ganha um componente a mais: como será o ano que vem, no Ensino Médio? Algumas dúvidas que costumam rondar os pensamentos dos jovens dizem respeito às mudanças nas amizades e aos prós e contras de optar pelo ensino regular ou pelo curso técnico. 

"Esse é o primeiro grande momento da vida escolar em que a escolha é muito mais do estudante do que das famílias", afirma Suzana Mesquita Moreira, supervisora pedagógica do 6º ao 9º ano da Escola Projeto Vida, em São Paulo. O acerto nessa decisão pode ser determinante para a continuidade dos estudos. Dados do Censo Escolar 2012, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que o índice de abandono escolar no 1º ano do Ensino Médio chega a 11,6%, enquanto no último ano do Ensino Fundamental a taxa registrada é de 4,1%.

A falta de articulação entre as diferentes fases da Educação Básica é a principal dificuldade encontrada pelos jovens que estão concluindo o 9º ano. "Quem estuda na rede municipal e vai para uma escola estadual, por exemplo, vê um descompasso entre o que estava aprendendo e aquilo que será cobrado dele", diz a socióloga Gisela Tartuce, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC). 

Diante desses desafios, é importante que o professor e a equipe gestora desenvolvam estratégias para esclarecer as dúvidas dos adolescentes e prepará-los do ponto de vista pedagógico, orientando-os sobre as mudanças no currículo e a necessidade de desenvolver a autonomia no estudo. Cabe à escola ainda conhecer as expectativas deles em relação ao futuro e ajudá-los a encontrar as opções que mais se encaixam em seus planos. "Um meio de fazer isso é criar espaço na grade para lidar com essas questões. Um professor tutor, um orientador educacional ou mesmo um docente regular podem realizar rodas de discussão com a turma", sugere Ricardo Francisco, coordenador do 9º ano e do Ensino Médio da Escola Castanheiras, em São Paulo. A seguir, apresentamos três práticas adotadas por escolas para apoiar suas turmas nessa transição.

Estímulo à independência

"Tudo que nós fazemos nesse projeto busca desenvolver a autonomia do aluno", resume o professor Rafael Tadeu de Almeida, que se divide entre as aulas de Matemática e o papel de tutor de turmas do 9º ano do Colégio Magister, em São Paulo. Semanalmente, ele e os alunos se dedicam durante duas aulas a trabalhar conteúdos que não estão no currículo regular. No 9º ano, as atividades são divididas em duas frentes. Em uma delas, são propostas discussões sobre temas da atualidade para estimular os jovens a se informar e desenvolver o raciocínio crítico. Na outra parte das aulas, os estudantes recebem orientações sobre as mudanças que enfrentarão no Ensino Médio, como o aumento da grade curricular e a nova rotina de estudos. Os professores do Ensino Médio da instituição também são convidados a conversar com a turma para explicar o que será ensinado em cada disciplina. Além disso, a escola realiza três encontros com os pais ao longo do ano para conversar, na presença dos alunos, sobre expectativas em relação à próxima etapa de ensino e ao futuro profissional.

"Eu não conhecia as novas disciplinas. Tivemos algumas aulas de Física para entender como vai funcionar daqui para a frente. O professor também orienta a montar uma agenda de estudos." 

Guilherme Martins Mota, 14 anos, aluno do 9º ano

Alimento para os sonhos

Convidar ex-alunos matriculados em universidades públicas para contar como a dedicação durante o Ensino Médio foi determinante para o ingresso no Superior. Essa foi a solução encontrada pela EE Maciel Pinheiro, em Recife, para incentivar os estudantes nessa fase. "O depoimento do ex-aluno serve para eles entenderem que o estudo vai ajudá-los", diz o professor de Língua Portuguesa Célio Severino dos Santos. Ele é um dos responsáveis por organizar as palestras com os universitários. Nesses encontros, os alunos da 8ª série expõem suas dúvidas sobre o dia a dia no Ensino Médio. "Conhecer uma pessoa com um percurso como o meu, que veio de escola pública e enfrentou as mesmas difculdades que eles, ajuda a se sentirem capazes", conta João Paulo de Lima Novaes, 19 anos, aluno de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em sua exposição, o universitário costuma enfatizar que se concentrar nos estudos foi fator determinante para ingressar na faculdade que desejava.

"A palestra do João Paulo foi tão interessante que fiquei com vontade de ir para a área de Biologia. Ele falou que não é fácil, mas com esforço é possível. Isso me deu mais força de vontade para continuar estudando." 

Larissa Aline Maciel da Silva, 14 anos, aluna da 8ª série

Novas oportunidades

Durante uma reunião, professores e gestores da EMEF Dom Henrique Infante, em São Paulo, perceberam que os alunos não sabiam que o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), uma das mais respeitadas escolas técnicas do país, ficava no terreno vizinho à escola. Surgiu, então, a ideia de organizar visitas ao colégio. "Eles podem se apropriar da experiência para terem mais opções e darem prosseguimento aos estudos", diz o diretor Cláudio Neto. Turmas de 7ª e 8ª séries fazem a visita no início do ano letivo. "Quando conheci a escola, fquei com vontade de estudar lá", conta Gabriel Passos Duarte Gois, 16 anos, ex-aluno da Dom Henrique Infante que hoje cursa Edifcações. Durante a visita, uma pedagoga apresenta os cursos oferecidos e os alunos conhecem salas de aula, laboratórios e espaços de convivência. Os estudantes também conversam sobre a importância de organizar os momentos de estudo. Na escola técnica, os alunos dobram a jornada de estudo para conciliar as aulas do ensino regular e do técnico.

"A visita me ajudou a optar pelo técnico. Eu não sabia que haveria um curso do meu interesse. A rotina é mais intensa e deve ser cansativo, mas se você quer mesmo, não é difícil." 

Fernanda Nunes Porto, 15 anos, 8ª série
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