Ler a versão original da história de Alice
Vá além das adaptações para o público infantojuvenil. A moçada dá conta do recado
21/08/2016
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Jornalismo
21/08/2016
Em meados do século 19, foi lançado Alice's Adventures in Wonderland, um clássico infantojuvenil do britânico Lewis Carroll (1832-1898). Até hoje a obra aparece no rol de leitura das escolas. Mas o comum é os professores trabalharem com adaptações (geralmente textos resumidos e com vocabulário simplificado), temendo que os estudantes não consigam compreender o original. A professora Patrícia Setten seguiu na contramão e elaborou uma sequência didática em que os alunos de 8º e 9º anos do Colégio Piracicabano, em Piracicaba, a 157 quilômetros de São Paulo, exploraram a história de Alice escrita por Carroll. Ela deu às turmas a chance de ter contato com a língua estrangeira de um modo diferente. "Quando o autor pensou a obra, colocou as ideias no papel como alguém que domina o idioma. A leitura do material sem adaptações possibilita ao leitor refletir sobre o uso autêntico da língua", explica Renata Colasante, coordenadora do curso de Letras em Inglês da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).
Antes de pôr as atividades em prática, Patrícia elaborou estratégias para aproximar os adolescentes do texto e romper com a resistência e o medo de ler literatura tal como foi escrita originalmente. "O que define parte do sucesso de uma atividade assim é o conhecimento que o docente tem sobre o livro e a consonância dos objetivos da leitura com os saberes dos alunos", reforça Renata.
No primeiro contato da garotada com a história, a educadora distribuiu cópias dos dois primeiros parágrafos, omitindo o título e a autoria, orientou que todos lessem e, em seguida, perguntou: "Can you identify this text?". "It's Alice in Wonderland, because there's a girl called Alice and a rabbit with pink eyes", disse um garoto, se apoiando em várias palavras para responder.
Evidentemente, os jovens esbarraram em termos que não conheciam e, em certos momentos, não compreendiam alguns trechos. Patrícia sugeriu que, ao se deparar com palavras estranhas, eles usassem o contexto para inferir o significado. "Outra estratégia que o leitor pode lançar mão é analisar se o vocábulo é formado por termos já conhecidos", diz Antonio Escandiel, professor da Universidade de Cruz Alta (Unicruz). A educadora também sugeriu usar esses procedimentos juntos quando os estudantes questionaram o que é waistcoat. "O texto informava que o coelho havia tirado um relógio do waistcoat pocket. Um garoto, sabendo que pocket é bolso, disse: 'It's something to wear!'. Sugeri que dividissem a palavra e o grupo passou a refletir sobre o significado de waist e coat (cintura e casaco, respectivamente), concluindo que se tratava de um casaco na altura da cintura, ou seja, um colete", conta.
A missão seguinte foi trabalhar em dupla para criar um parágrafo de continuação do texto. "Can you guess what will happen next?", desafiou Patrícia. Alguns jovens reproduziram o enredo que já conheciam, outros criaram versões. Socializadas as histórias, ela recolheu o material para analisar e diagnosticar as dificuldades dos estudantes e explicou que os parágrafos lidos antes eram realmente parte do livro de Carroll.
"Depois, entreguei cópias do primeiro capítulo na íntegra, orientei a leitura e propus uma atividade coletiva. Analisando frases como When she was falling into the hole she was crying, a turma tinha de dizer se elas eram ou não coerentes com aquela parte da obra.
Para trabalhar com questões orais, a professora reuniu a classe e pediu que cada aluno falasse sobre o que faria se estivesse em um país tão diferente, tal como Alice. "I feel frightened by not knowing the location" e "I would be curious and I would look all" foram algumas das respostas.
Com todos já acostumados com o enredo e com as construções, Patrícia elegeu os trechos principais de cada um dos 11 capítulos restantes e entregou um para cada equipe. Os jovens deveriam ler o material, discutir e, reunidos com os colegas, colocar a história em ordem. "I think my paper is the beggining. Alice is crying because she get small and she was sad", disse um aluno. "É interessante ampliar a prática, fornecendo os textos completos e orientar os grupos a elaborar um glossário para ajudar os demais na leitura do livro inteiro posteriormente", diz Celina Fernandes, consultora de Língua Estrangeira.
Na etapa seguinte, Patrícia apresentou a vida do autor e a época em que a obra foi escrita. A turma discutiu como a infância era tratada e como é difícil amadurecer. A professora ainda exibiu adaptações para o cinema. Entre elas, a de 1903, de 1951 e de 2010.
Para encerrar, a professora distribuiu cópias do capítulo final, pediu que lessem e pensassem: "What could have happened after Alice woke up?". A moçada recorreu ao vocabulário e às construções vistas nas aulas anteriores e soltou a imaginação para escrever, em duplas ou trios, um capítulo extra. Depois, Patrícia discutiu questões ortográficas e possíveis melhorias nos textos. Reescritas prontas, as produções foram compartilhadas.
Em dois meses, a professora não só conseguiu que a garotada avançasse nos saberes de inglês e se familiarizasse com a leitura de originais. "Os alunos também passaram a ler, na íntegra, a versão original de outros títulos", ela diz. Além da história de Alice, também é possível, por exemplo, explorar Animal Farm (128 págs., Ed. Plume, 14 dólares), do inglês George Orwell (1903-1950), e trabalhar com literatura estrangeira do jeito que ela realmente é.
1 Que texto é este? Sem identificar o texto, apresente os primeiros parágrafos do original que conta a aventura da menina Alice. Desafie os alunos a descobrir que história é e peça que escrevam uma continuação.
2 Como a trama se desenrola? Reúna os estudantes em grupos. Distribua um capítulo para cada um e oriente a leitura. Por fim, peça que coloquem o material em ordem, discutindo com toda a classe.
3 Que palavras são estas? Distribua cópias do primeiro capítulo na íntegra e proponha atividades relacionadas ao vocabulário e ao enredo.
4 Que tempo é este? Apresente a vida do autor e a época em que a obra foi escrita. Promova discussões relacionando o passado com a atualidade. Mostre para a classe adaptações cinematográficas da história.
5 Qual a sua sugestão? Após uma discussão sobre o último capítulo, peça que os alunos imaginem o que poderia acontecer e escrevam, em duplas ou trios, um capítulo extra. Discuta melhorias, oriente a reescrita e organize momento para socializar as produções.
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