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Jornalismo

Em vez de "apagar incêndios", vale a pena prevenir os conflitos

Espaço de Convivência

PorTelma Vinha

01/02/2015

Telma Vinha. Foto: Alexandre Battibugli

Telma Vinha
Professora de Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Pesquisas atuais demonstram haver a percepção de aumento dos conflitos nas escolas, que, com frequência, enfrentam problemas de convivência, como bullying, violência e indisciplina. Diante dessas situações, muitos docentes se sentem despreparados e inseguros para intervir construtivamente, pois não se acham aptos a mediar conflitos de forma a favorecer o aprendizado de valores e normas de convívio. Estudos também indicam que as desavenças entre os alunos são resolvidas, principalmente, com estratégias submissas - como não interagir e guardar rancor - ou agressivas - usando imposições ou coerções, um nível ainda muito elementar de resolução.

Considerando esse fenômeno, em 2011 fui convidada por NOVA ESCOLA a responder, na coluna "E agora, Telma?", questões sobre comportamento enviadas por leitores. A proposta era auxiliá-los a refletir sobre alternativas construtivas para lidar com as diversas situações. O desafio foi grande e o aprendizado ainda maior. As perguntas revelavam dúvidas, preocupações e inseguranças dos educadores nessa área, e traziam uma complexidade que exigiu de mim investigações, busca por estudos, visita a instituições que desenvolvem experiências inovadoras e constante troca de ideias com pesquisadores e professores.

Muitas vezes, a escola atua como "bombeiro", revertendo problemas já instalados, e acredito que as respostas dadas na seção auxiliavam nisso. Porém, apesar de importante, o trabalho a ser feito não pode se limitar a "apagar incêndios". Por isso, este ano vamos dar um passo a mais. Além de aprofundar alguns temas, abordaremos novos procedimentos, experiências e estudos nessa área, possibilitando o trabalho preventivo, não apenas o reativo. Queremos contribuir para que a escola possa planejar a convivência de forma mais sistematizada e embasada em estudos científicos.

A coluna deixa de ser em formato de perguntas e respostas para tornar-se um espaço de reflexão sobre assuntos do convívio, incluindo a formação ética - que vai além da socialização -, em que novas maneiras de conviver são pensadas e discutidas. Os problemas cotidianos de qualquer instituição de ensino exigem atitudes por parte do educador, e o modo como ele lida com a situação - a postura que assume, o tipo de relação que estabelece com a turma e até mesmo sua omissão - interfere na construção da moralidade. Ou seja, queira ou não, influencia na formação moral dos alunos, mesmo que nem sempre seja em direção à construção da autonomia.

A escola é o local ideal para trabalhar relações de colaboração e cooperação, pois, para aprender a viver em grupo, é preciso ter experiências de vida em comum. O desenvolvimento da autonomia e das relações justas e solidárias faz parte da maioria dos projetos pedagógicos, mas poucas vezes os cursos de formação estudam como a escola pode favorecê-lo, apesar de atualmente existirem inúmeras pesquisas e vivências nesse campo. A proposta desta coluna é contribuir para divulgá-las, para que a difícil, mas necessária, Educação socioafetiva torne-se projeto institucional, deixando de ser uma questão privada de cada docente. Em alguns meses, vou compartilhar textos feitos em conjunto com estudiosos para que as informações sejam consistentes e atuais.

O diálogo com você continua aberto. Os temas serão divulgados com antecedência no GENTE QUE EDUCA e nas redes sociais. Mande dúvidas, comentários e compartilhe experiências, que contribuirão para a elaboração dos textos. Agradeço o apoio até aqui e conto com sua participação nessa nova fase da jornada rumo a uma escola mais humana e respeitosa para todos que nela atuam e para os alunos.

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