Liderar e mobilizar é um exercício cotidiano
Engajar as pessoas envolve valorizar habilidades, dividir decisões e partilhar sonhos
PorNOVA ESCOLA
08/12/2015
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Jornalismo
PorNOVA ESCOLA
08/12/2015
Maura Barbosa,
Coordenadora pedagógica de gestão na Comunidade Educativa Cedac e consultora de GESTÃO ESCOLAR
"Não se faz mobilização social com heroísmo. As mudanças são construídas no cotidiano por pessoas comuns, que se dispõem a atuar coletivamente, visando alcançar propósitos compartilhados.A colocação de Toro e Werneck (2007) nos leva a refletir sobre a liderança, sua importância na sociedade civil e seu papel para estimular os outros a participar de algo que gere uma transformação radical, ou seja, verdadeira, abrangente e duradoura, pensada por e para todos.
No contexto escolar, isso se espelha na figurado diretor. Afinal, se espera que ele aponte o caminho por onde todos devem ir. Embora isso seja, até certo limite, verdade, a coisa não se dá pura e simplesmente pela vontade unilateral dele, sob pena de exercer uma gestão conflituosa e prejudicar a aprendizagem dos alunos.
O gestor sozinho não pode solucionar todas as problemáticas que envolvem a construção do conhecimento no âmbito escolar. Ele necessita de auxílio para cuidar da parte pedagógica, da financeira e da mais importante: as pessoas e as relações entre elas, pois tudo que se constrói é feito em função delas professores, estudantes, famíliaslias, funcionários e comunidade. Um trabalho coletivo para, no fim de um ano letivo, apresentar os dados sobre a aprendizagem das crianças e dos jovens, que é a razão de ser da atuação de todos.
Apesar de muitos teóricos da Educação colocarem em discussão e difundirem o conceito de gestão democrática, ainda se vê muito presente, em várias unidades de ensino, o modelo autocrático, no qual são adotadas práticas autoritárias, forças coercitivas e atitudes punitivas.
O que buscamos, porém, é a divisão de atividades. Assim, cada um em sua função poderá contribuir com o conhecimento naquilo que lhe foi atribuído. Ao considerar as habilidades individuais, mas direcioná-las para a produção coletiva, qualificam-se os serviços ali prestados à comunidade. O que se aguarda, portanto, é que o diretor delegue as responsabilidades para que a sua equipe possa se sentir parte da gestão e se corresponsabilize pelos resultados obtidos.
Liderar, desse ponto de vista, significa compartilhar sonhos e multiplicar forças para realizá-los. E, claro, ter conhecimento do que é solicitado. Um gestor não pode se descuidar dos saberes exigidos em sua área de atuação. Como também necessita ouvir todos os segmentos. Essa tarefa parece simples, mas não é se entendermos seu sentido como o de valorizar a colocação do outro e reavaliar as próprias opiniões e objetivos. Tais atos favorecem a criação de relações respeitosas, mas não garantem que não haverá divergências.
Na democracia, no dizer de Toro e Werneck, não existem os inimigos, mas os opositores: pessoas que pensam diferente, querem buscar os objetivos de outra forma, têm interesses distintos dos meus, que muitas vezes conflitam com eles. Ainda assim é possível manter o diálogo e discutir e pactuar metas comuns, colocadas acima das divergências. Paz, na democracia, não deve ser confundida com ausência de conflito.
Sob esse aspecto, o diretor precisa ser um bom articulador. Aprimorar essa habilidade lhe será de extraordinária utilidade para obter sucesso na construção de uma gestão democrática. A eficiência ao comunicar-se irá favorecer a disponibilidade das pessoas para realizar o que está sendo proposto. E mobilizar também é liderar. Ao promover mudanças em consenso com os envolvidos, o diretor assegura o exercício da cidadania.
Mas não basta o engajamento da equipe interna. A escola deve aproximar-se das expectativas dos familiares e da comunidade. Por isso, as ações ali planejadas precisam contemplar as demandas educacionais dos envolvidos dentro ou fora dela. Esses anseios serão conhecidos em profundidade quanto mais o gestor e sua equipe se disporem a escutá-los. E mais, se tiverem a consciência de que atuam em uma instituição viva e, portanto, suscetível a mudanças e revisões periódicas em seu projeto político-pedagógico (PPP) e em seus planejamentos, de modo a abarcar as múltiplas realidades e garantir o direito a aprendizagem.
Muitos creem que atuação social e política é o mesmo que manifestações públicas, com presença das pessoas em uma praça. Confundem-na também com passeata ou concentração. Mas a mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma comunidade ou uma sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando, cotidianamente, resultados decididos e desejados por todos, afirmam Toro e Werneck.
Nessas relações, que se dão na coletividade, vamos aprendendo paulatinamente que somos seres interdependentes, que as nossas escolhas ou decisões podem afetar positiva ou negativamente a vida daqueles com os quais nos relacionamos.
Quanto mais conscientes estivermos sobre qual é o nosso papel e mais aprofundado for nosso conhecimento sobre os significados dos termos cidadania e democracia, mais estaremos propensos a encarar a elaboração de uma gestão participativa. A mobilização passa a ter sentido quando está orientada para a construção de um projeto de futuro, atestam Toro e Werneck. Ela só se realiza, porém, com persistência.
Um gestor não pode se descuidar dos saberes exigidos em sua área de atuação. Como também necessita ouvir todos os segmentos.
Quando a desesperança rondar o cotidiano escolar, continuam os dois autores, o remédio é trabalhar o conceito de cidadania. É ele que vai aumentar a segurança, despertar a capacidade empreendedora coletiva e fazer com que as pessoas se sintam poderosas para produzir mudanças. Lidar com isso, em geral, é difícil, mas possível se a gestão partir do princípio de que a escola é um lugar privilegiado de produção de conhecimento e de formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, capazes de transformar realidades.
Como ressalta Alarcão (2001), precisamos lembrar que a escola, para além de um lugar e contexto, é também um tempo. Um tempo que passa para não mais voltar. Um tempo que não pode ser desperdiçado. Ao líder cabe trabalhar para que isso não ocorra.
Referências bibliográficas
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