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Jornalismo

Módulo 3: Conhecer o mundo natural e social

Como orientar o planejamento de projetos de exploração e investigação do mundo social e natural

PorNOVA ESCOLA

19/06/2016

Conhecer o mundo. Foto: Bob Paulino

As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil determinam que as práticas pedagógicas garantam "experiências que incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza". Os projetos de Ciências são a forma mais interessante de trabalhar com esses propósitos. No entanto, muitas vezes o professor acaba centralizando a pesquisa em suas mãos e resumindo a participação das crianças a ouvir e acumular as informações que lhes são transmitidas. Aprender a fazer perguntas, selecionar fontes de pesquisa, investigar com autonomia, utilizando diferentes procedimentos, são importantes aprendizagens que deveriam estar no foco dos projetos que visam explorar o mundo natural e social. Neste módulo, Silvana de Oliveira Augusto, professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz (Isevec) e coordenadora de cursos a distância do Instituto Avisa Lá, ambos em São Paulo, sugere o planejamento de atividades de pesquisa autônoma para aprimorar os estudos sobre a natureza. 

Objetivo geral
Formar professores da Educação Infantil, tendo em vista a promoção de experiências fundamentais às crianças entre 2 e 5 anos, como ler, conversar, conhecer o mundo natural e social, desenhar e pintar, ouvir e produzir música, dançar e brincar de faz de conta e com jogos de regras. 

Objetivo específico deste módulo
- Orientar o planejamento de projetos de exploração e investigação do mundo social e natural.
- Garantir a participação ativa das crianças em diferentes situações de pesquisa.

Conteúdos 
- Exploração de fenômenos, observação e registro, estudo de imagens e leitura de textos. 
- Elaboração e análise de relatos de prática com base em pauta prévia. 

Tempo estimado 
Seis meses, com reuniões quinzenais. 

Material necessário 
Um computador com acesso à internet, um projetor multimídia, livros e revistas de divulgação científica disponíveis na biblioteca da escola e um acervo de imagens para pesquisa.

Desenvolvimento

1ª reunião: Exploração de fenômenos 

Introduza a discussão sobre o trabalho com as Ciências usando o estudo de uma experiência prática. Faça uma leitura coletiva do artigo Brincar com a Água e Aprender na Ação, de Renata Frauendorf, formadora do Instituto Avisa Lá, e peça aos professores que reflitam sobre como as atividades descritas no texto garantiram as condições de aprendizagem das crianças. Chame a atenção para a intencionalidade das ações - como sugerir às crianças que adicionem água ao suco a fim de perceber a relação entre a diluição da bebida e a mudança no sabor. Em seguida, convide o grupo a planejar uma brincadeira com cata-ventos a ser realizada durante a semana com as crianças, no parque, com o objetivo de instigar a observação. Os comentários e as perguntas que surgirem nessa brincadeira serão discutidos na próxima reunião.

Coordenador

Inspire-se na sequência didática para a exploração de brinquedos voadores para dar sugestões aos professores. Ao longo da semana, registre como eles organizam as experiências. Ofereça suas anotações ao grupo. Elas servirão de modelo para a análise das práticas, explorada a partir da 6ª reunião.

 

2ª reunião: Registro da observação 

As impressões das crianças sobre a brincadeira devem ser anotadas na primeira coluna de uma tabela (veja o modelo abaixo) - as restantes serão preenchidas nos próximos encontros. Peça aos professores que retomem a proposta dos cata- ventos, desta vez oferecendo papel e canetas para os registros - evite o giz de cera, pois o traço grosso dificulta a percepção de detalhes. De volta à sala, os docentes devem discutir com as crianças, em roda, as opiniões sobre o fenômeno do vento, levando em conta os registros. Peça a eles que compilem os comentários na planilha e levem na próxima reunião.

Turma de crianças (1) Exploração de fenômenos Registro da observação Estudo de imagens Leitura de textos
2 anos  Observam a professora girar o cata-vento       
3 anos Assompram o cata-vento pela face de trás      
4 anos         
5 anos            

(1) Inclua somente as turmas de sua escola. se não houver crianças de um dos grupos, exclua a linha correspondente.

3ª reunião: Estudo de imagens 

Os conhecimentos das crianças vão se ampliando à medida que entram em contato com diversas fontes de informação - como as visuais. Para discutir essa possibilidade de pesquisa, apresente aos professores fotos ou vídeos de diferentes manifestações do ar: um furacão, moinhos em movimento, massas de ar sobre o planeta etc. Convide-os a analisar as imagens uma a uma. O que elas representam e como foram produzidas? Levante os conhecimentos prévios dos docentes sobre os fenômenos retratados e pergunte que informações complementares podem ser pesquisadas. Por fim, proponha a seleção de uma foto ou um vídeo para levar para a sala de aula. É importante a equipe pensar na forma de apresentação - pode-se usar um projetor, por exemplo - e registrar as observações das crianças na tabela para compartilhá-las no encontro seguinte.

4ª reunião: Leitura de textos 

Muitas informações sobre as Ciências podem ser obtidas em revistas de divulgação científica, livros, enciclopédias, dicionários especializados, atlas etc. Como introduzir a pesquisa nessas fontes às crianças que ainda não sabem estudar com autonomia? De que forma elas podem aprender a pesquisar? Nesta reunião, mostre a importância de o professor incorporar os comportamentos de leitura e pesquisa para a turma começar a fazer o mesmo. Primeiramente, retome os registros dos docentes sobre o que os alunos aprenderam com base na observação da natureza. Em seguida, provoque a seguinte discussão: como a pesquisa em fontes escritas pode ampliar esses conhecimentos? Destaque a importância da leitura como um meio de encontrar as respostas para dúvidas surgidas nas explorações anteriores. Para ajudar na reflexão, ofereça aos professores três fontes escritas: uma reportagem sobre a passagem de um tufão, uma revista de divulgação científica sobre o assunto e um texto que as crianças leiam com autonomia, como o artigo Um Furacão Chamado Catarina, do site da revista Ciência Hoje. Em seguida, leia em conjunto o fragmento da educadora argentina Delia Lerner (veja no quadro abaixo). O planejamento da leitura em sala deve levar em conta o texto e seguir cinco passos: 

1. Antecipar os sentidos possíveis da leitura de imagens. 

2. Ler o texto na íntegra com o intuito de confirmar ou não as ideias levantadas previamente pelas crianças. 

3. Selecionar trechos a fim de discutir com as crianças as informações mais relevantes para a pesquisa. 

4. Reler os trechos apontados como os mais curiosos. 

5. Registrar o que importa para a sistematização da pesquisa segundo a opinião das crianças. 

Ao longo das semanas seguintes, os professores vão colocar em prática a situação de pesquisa planejada em grupo e trazer o relato para a discussão.

Coordenador

Você pode se preparar para essa reunião inspirando-se no artigo Trago Notícias do Mundo, de Adriana Klisys, formadora do Instituto Avisa Lá, que discute a apresentação de textos informativos. No caso de documentos muitos técnicos, é interessante selecionar trechos para leitura com os alunos.

 

Comportamentos de quem lê para saber mais

Para que a instituição escolar cumpra com sua missão de comunicar a leitura como prática social, mais uma vez parece imprescindível atenuar a linha divisória que separa as funções de professor e de aluno como participantes das situações didáticas de leitura. Para comunicar às crianças os comportamentos típicos de leitor, é necessário que o professor os encarne na aula, que ofereça a elas a oportunidade de participarem de atos de leitura que ele próprio está realizando, que estabeleça com elas uma relação de "leitor para leitor" (...). Quando se recorre a uma enciclopédia ou a outros livros para buscar respostas para as questões das crianças sobre um tema em estudo - por exemplo, em relação ao corpo humano, as crianças de 5 ou 6 anos costumam fazer perguntas do tipo "por que se chamam dentes de leite os que estão caindo?", "serão realmente de leite?", "é o coração que empurra o sangue ou é o sangue que empurra o coração?" -, o professor compartilha com elas os procedimentos necessários para encontrar as respostas que se procura. Recorre ao índice, lê os diferentes títulos que nele se encontram e discute em qual deles será possível encontrar a informação que se busca. Uma vez localizado o capítulo em questão, localiza os subtítulos, lê todos eles (indicando-os), propõe que se escolha aquele que parece ter relação com a pergunta formulada, explora mais essa parte do texto (indicando-a), até que se localize a informação. Em seguida, lê o trecho que contém a informação procurada e discute em que medida ele responde de fato à questão surgida. 

Trecho extraído e adaptado de É Possível Ler na Escola?, no livro Ler e Escrever na Escola - O Real, o Possível e o Necessário, de Delia Lerner.

 

5ª reunião: Contato com bons modelos

Agora que a equipe conhece possibilidades de pesquisa - exploração de fenômenos, observação e registro, estudo de imagens e leitura de textos -, é hora de discutir o planejamento das atividades. Como articular as diferentes fontes de informação e as estratégias? O projeto didático é uma alternativa que permite a troca, a sistematização e o compartilhamento de conhecimentos. Leia com os professores o artigo Mergulhando no Universo Marinho, também de Adriana Klisys, que traz um projeto sobre animais aquáticos. Em subgrupos, eles devem discutir as seguintes questões: 

- Quais são as qualidades do projeto? 

- Em que momentos o conhecimento foi sistematizado? 

- Que situações de pesquisa foram criadas? 

- Como torná-lo melhor de modo a incentivar as crianças a pesquisar com mais autonomia? 

- Que lições podemos aplicar ao planejamento dos projetos da nossa escola? 

Peça a uma dupla de professores que registre as conclusões da reunião e apresente a síntese no começo do encontro seguinte.

Coordenador

Avalie os projetos desenvolvidos usando como referência o documento O Que Qualifica um Bom Projeto, do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores do Ministério da Educação. A coerência, a clareza, o encadeamento significativo de todas as etapas são alguns dos pré-requisitos essenciais. Ofereça a lista completa aos professores para eles também analisarem os próprios projetos.

 

6ª reunião: Planejamento 

Solicite a um docente que distribua aos colegas a síntese feita no encontro anterior. Depois, organize a equipe em subgrupos de acordo com a idade das crianças e apresente a seleção de projetos de Ciências. Proponha que eles elejam os planos de aula mais interessantes para a faixa etária com a qual trabalham e os modifiquem, incluindo etapas de pesquisa. Ao final, peça para cada grupo apresentar sua proposta didática aos colegas, promovendo uma troca de sugestões e críticas. 

Próximas reuniões: Acompanhamento 

Como cada grupo tem um plano de trabalho para as semanas seguintes, antecipe suas intervenções. Organize uma sequência de reuniões com o propósito de compartilhar a supervisão pedagógica das pesquisas de cada projeto. Um rodízio pode ser estabelecido: a cada encontro, um professor apresenta um relato de prática para discutir em grupo. O objetivo é ajudar a equipe a refletir sobre seus planejamentos e intervenções e compartilhar as devolutivas, que com frequência ajudam os colegas nos planejamentos futuros.

Coordenador 

A elaboração de relatos de prática pode ser muito útil à formação de professores - desde que a atividade esteja a serviço da supervisão. Por isso, antes da reunião, estude a produção do professor e planeje uma devolutiva em duas etapas. Primeiro, reconheça e valide os saberes construídos. Depois, problematize o projeto com base nos seguintes tópicos: 

- A congruência entre os objetivos da atividade e os conteúdos ensinados. 

- A adequação das atitudes do professor às tarefas propostas. 

- A coerência ao estabelecer o tamanho do desafio: até que ponto a criança pode resolvê-lo sozinha, com recursos próprios, e a partir de que momento a ajuda é necessária. 

- A qualidade dos materiais oferecidos em relação à autonomia dos alunos para explorá-los.

 

Reunião final: Avaliação e sistematização 

Após a conclusão dos projetos, organize um seminário interno para que a equipe compare os resultados com as expectativas iniciais. Assim, é possível refletir sobre como as atividades contribuíram para a aprendizagem. As apresentações podem ser um ponto de partida para a realização de uma mostra aberta à comunidade.

Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA 

Ciência, Arte e Jogo: Projetos e Atividades Lúdicas na Educação Infantil, Adriana Klisys, 160 págs., Ed. Peirópolis, tel. (11) 3816-0699, 46 reais 
O Mensageiro das Estrelas: Galileu Galilei, Peter Sís, Ed. Ática, tel. (11) 4003-3061 (edição esgotada) 
Por um Triz, Monique Deheinzelein, 112 págs., Ed. Paz e Terra, tel. (21) 2585-2002, 59 reais 

 


 

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