Objetos com vida
Quando as crianças manipulam brinquedos, elas têm a chance de reproduzir, transformar e até negar situações que vivenciam. Também colocam em cena o que desejam conhecer
PorAna Gonzaga
15/09/2016
Este conteúdo é gratuito, entre na sua conta para ter acesso completo! Cadastre-se ou faça login
Compartilhe:
Jornalismo
PorAna Gonzaga
15/09/2016
Esse poder de experimentação não é inerente aos objetos. Guardados em armários ou caixas, eles não são nada mais do que simples produtos.
Mesmo que sejam carregados de traços culturais, os brinquedos só têm a capacidade de proporcionar novas vivências quando são usados por alguém.
"Não se deve esperar que eles condicionem a ação dos pequenos. Na verdade, são suportes e sempre estarão sujeitos a novos significados", diz Gisela Wajskop, diretora do Instituto Superior de Educação de São Paulo - Singularidades, na capital paulista.
Justamente por causa dessa mistura, entre os significados culturais e a liberdade inventiva, é importante ter muitos brinquedos na escola, ao alcance da turma. Quando carrinhos, panelinhas, bonecas e blocos de construir, entre outros, são objetos do brincar, as crianças ganham a chance de explorar a realidade, conhecer valores diferentes dos seus e inventar o próprio universo.
E mais: elas constroem vínculos com esses objetos e estabelecem relações de posse, de abandono e de perda, refletindo sobre si mesmas e descobrindo como reagir a situações que vão reproduzir ao longo da vida no convívio social.
Nessa dinâmica - como ocorre com os jogos e com as brincadeiras também -, o papel do educador tem de ser múltiplo. O trabalho deve começar pela organização de um acervo. As opiniões das crianças - quais os brinquedos de que elas mais gostam? E quais não conhecem? - é tão importante quanto a diversidade de itens. Depois, é fundamental saber agir. Em alguns momentos como observador e em outros como agente que enriquece a situação, sugerindo novos usos e contextos às peças.
NOVA ESCOLA apresenta a seguir cinco tipos de brinquedo - voadores, bonecas e bonecos, meios de transporte, blocos de construir e tradicionais. Conheça mais sobre eles e depois experimente observar o acervo da escola com um novo olhar.
Características
São movidos pelo ar ou pelo vento. Geralmente são feitos de papel ou de plástico, como a pipa e suas variações (papagaio, arraia, quadrado e pandorga, entre outras), o cata-vento, os aviõezinhos de papel e o frisbee. Também fazem parte dessa modalidade as bolhas de sabão.
Origem
Os aviões de papel e o cata-vento foram criados na China por volta de 915 a.C. A pipa, inventada por volta de 1200 a.C., surgiu como um dispositivo de sinalização militar. Já o frisbee é mais recente: por volta de 1870, os estudantes da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, passaram a arremessar as tortas vendidas por William Frisbee como uma maneira de se divertirem.
Por que propor
Para estimular as crianças a explorar o espaço ao seu redor e interagir com objetos levando em conta a velocidade e a ação do ar e do vento.
Como enriquecer o brincar
O erro mais comum
Só oferecer esses brinquedos prontos, privando as crianças de criá-los. Confeccioná-los também faz parte da brincadeira.
Características
Figuras de tamanhos e materiais variados que imitam seres humanos, animais e personagens de desenhos animados, fábulas e contos infantis.
Origem
As bonecas são tão antigas quanto a humanidade: há registros de estatuetas de barro imitando pessoas que datam de 40 mil anos. Porém sua utilização como brinquedo teve início no Egito, há 5 mil anos, como representação de adultos. Os primeiros bonecos heróis remontam à Roma antiga: os meninos se divertiam com itens feitos de cera e argila que imitavam os soldados.
Por que propor
Para os pequenos vivenciarem realidades sociais diversas e criarem as próprias.
Como enriquecer o brincar
O erro mais comum
Dar bonecas apenas às meninas e bonecos heróis só aos meninos. Todos devem vivenciar diversos papéis, independentemente do sexo.
Características
Reproduções - em miniatura ou não - de carros, barcos, aviões, trens e veículos de diversos tipos.
Origem
Desde que os meios de transporte existem, reproduções artesanais deles entretêm as crianças. Versões industrializadas começaram a surgir no século 19.
Por que propor
Para que os pequenos explorem e planejem espaços diversos e vivenciem papéis sociais, como o de motorista.
Como enriquecer o brincar
O erro mais comum
Indicar esses brinquedos somente aos meninos. Nada mais natural que as garotas vivenciem esse brincar numa sociedade em que as mulheres guiam carros e caminhões e pilotam aviões.
Características
Peças de diferentes tamanhos e formatos, feitas de plástico, espuma ou madeira, usadas para montar objetos, utensílios, prédios, veículos etc.
Origem
Os primeiros blocos, artesanais, tinham números e surgiram na Inglaterra no século 17 - a produção em escala só teve início no século seguinte.
Por que propor
Para estimular a turma a refletir sobre formas e tamanhos e a planejar montagens considerando as relações necessárias para que não caiam.
Como enriquecer o brincar
O erro mais comum
Oferecer poucas peças para cada criança. Todas precisam receber material suficiente para poder criar o que quiser sem restrições.
Características
Também chamado de pinhão, esse objeto cônico, geralmente de madeira e com ponta metálica, gira com velocidade ao ser lançado com a ajuda de um cordão enrolado ao seu redor. Ele possibilita diferentes movimentos, como o giro sobre o próprio eixo num mesmo ponto e a jogada de vida ou morte, em que é lançado sobre outro com o objetivo de derrubá-lo.
Origem
Os primeiros piões remontam à Antiguidade, sendo que na Grécia eram chamados de strombos e, em Roma, de turbos.
Por que propor
Para a turma ampliar o repertório de brinquedos conhecidos.
Como enriquecer o brincar
Pesquise com as crianças outros exemplos de brinquedos tradicionais e o lugar de origem eles.
O erro mais comum
Propor que a turma faça jogadas elaboradas com o pião. Manipulá-lo requer prática e no início o importante é que a turma entre em contato com ele.
Características
Formado por dois discos unidos no centro por um eixo em que é presa uma corda. Segurando a ponta amarrada a um dedo, deixa-se cair o brinquedo com um impulso a fim de fazê-lo subir e descer diversas vezes.
Origem
Foi inventado na China há aproximadamente 3 mil anos.
Por que propor
Para estimular as crianças a observar movimentos.
Como enriquecer o brincar
Peça aos pais que mostrem aos pequenos como se brinca com o ioiô.
O erro mais comum
Esperar que as crianças manipulem o objeto com destreza. Elas só aprendem a impulsioná-lo corretamente com o passar do tempo. No início, manter o brinquedo preso ao dedo e soltá-lo, fazendo a corda desenrolar, já é um ganho.
Características
Formado por uma base arredondada, sobre a qual se encaixam penas, o objeto é lançado de uma pessoa a outra com golpes dados com a palma da mão.
Origem
Índios de várias etnias que viviam em diversas regiões do Brasil quando os portugueses chegaram aqui brincavam com uma trouxinha feita com pedras enroladas em folhas chamada pe'teka, que significa "bater".
Por que propor
Para a turma conhecer brinquedos que podem ser jogados, além da bola.
Como enriquecer o brincar
Convide crianças maiores para ensinar ao grupo a jogar peteca, mostrando em cena a diversidade de regras.
O erro mais comum
Não levar para a escola esse tipo de brinquedo. Acreditar que eles são antiquados não faz sentido. A função da escola é ampliar a cultura da garotada.
Contato
Internet
Últimas notícias