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Jornalismo

Ditado para sondagem na alfabetização

PorNOVA ESCOLA

06/07/2016

Introdução 

Nos primeiros dias de aula, o professor alfabetizador tem uma tarefa imprescindível: descobrir o que cada aluno sabe sobre o sistema de escrita. É a chamada sondagem inicial (ou diagnóstico da turma), que permite identificar quais hipóteses sobre a língua escrita as crianças têm e com isso adequar o planejamento das aulas de acordo com as necessidades de aprendizagem.

Por que devemos fazer o diagnóstico inicial das hipóteses de escrita dos alunos? Além de objetivos práticos, como a organização de parcerias produtivas de trabalho e o acompanhamento da evolução dos alunos, a realização da sondagem pressupõe um respeito intelectual do professor em relação ao conhecimento do estudante. Significa assumir que os alunos pensam sobre a língua escrita  formulando hipóteses sobre o seu funcionamento  e que é primordial para o desenvolvimento de um bom trabalho conhecer detalhadamente o que eles pensam sobre o sistema alfabético. A sondagem não é um momento para ensinar conteúdos, e sim para o aluno mostrar ao professor o que pensa sobre o sistema alfabético de escrita. Portanto, o único objetivo dessa atividade é fazer com que os alunos escrevam da maneira como acreditam que as palavras devem ser escritas.

 

Objetivo

  • Escrever uma lista de palavras e uma frase, ditadas pelo professor, aproveitando todos os conhecimentos disponíveis.

 

Anos

Do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental.

 

Tempo estimado 

Uma aula (no início do ano letivo e no fim de cada bimestre).

 

Material necessário 

  • Papel e lápis.

 

Desenvolvimento 

1ª etapa  Preparação das listas de palavras

Ao planejar o ditado, escolha palavras do mesmo campo semântico, por exemplo: lista das comidas de uma festa de aniversário, frutas, animais etc. Lembre-se de que o ditado deve ser iniciado por uma palavra polissílaba, seguida de uma trissílaba, de uma dissílaba e, por último, de uma monossílaba. Isso é importante porque, no caso de as crianças escreverem segundo a hipótese do número mínimo de letras, poderão se recusar a escrever se tiverem de começar pela palavra com apenas uma sílaba.

A escolha das palavras da lista deve ser muito cuidadosa. Evite vocábulos que tenham vogais repetidas em sílabas próximas, como ABACAXI, por exemplo, por causar um grande conflito para as crianças cuja hipótese de escrita talvez faça com que creiam ser impossível escrever algo com duas ou mais letras iguais. Por exemplo: um aluno com hipótese silábica com valor sonoro convencional, que utiliza vogais, precisaria escrever AAAI.

Após terminar de pensar na lista, elabora uma frase que envolva pelo menos uma palavra já mencionada. A ideia é observar se o aluno volta a escrevê-la de forma semelhante, ou seja, se a escrita da palavra em questão permanece estável mesmo num contexto diferente.

 

2ª etapa  Realização da sondagem

Você deve realizar a primeira sondagem no início do período letivo e, depois, no fim de cada bimestre. A atividade deve ser feita individualmente. Chame um aluno por vez e explique que ele deve tentar escrever algumas palavras e uma frase que você vai ditar. Pronuncie as palavras normalmente, sem marcar a separação das sílabas.

Abaixo, veja três sugestões de lista:

Sugestão 1

CENTOPEIA
JOANINHA
FORMIGA
MINHOCA
ABELHA
LESMA
GRILO

A FORMIGA MORA NO JARDIM.

Sugestão 2

MUSSARELA
ESCAROLA
TOMATE
PALMITO
PRESUNTO
ALHO
ATUM 

COMEMOS PIZZA DE MUSSARELA COM TOMATE.

Sugestão 3

REFRIGERANTE
MORTADELA
PRESUNTO
MANTEIGA
QUEIJO
SUCO
PÃO 

NO LANCHE DE HOJE TEREMOS PÃO COM MORTADELA.

 

3ª etapa  Registro

Fique atento às reações dos alunos enquanto escrevem e anote o que eles falam, sobretudo de forma espontânea. Isso pode ajudar a perceber quais as ideias deles sobre o sistema de escrita.
A cada palavra ditada, peça que o estudante leia em voz alta o que acabou de escrever.

Por meio da interpretação da criança sobre a própria escrita é que se pode observar se ela estabelece ou não relações entre o que escreveu e o que lê em voz alta ou seja, entre o falado e o escrito ou se lê aleatoriamente.

Anote em uma folha à parte como o aluno faz a leitura, se aponta com o dedo cada uma das letras, se lê sem se deter em cada uma das partes, se associa aquilo que fala à escrita, em que sentido faz a leitura etc.

Mantenha um registro criterioso do processo de evolução das hipóteses de escrita das crianças. Ao mesmo tempo, é fundamental uma observação cotidiana e atenta do percurso dos alunos. pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita no fim dos anos 1970 e publicadas no Brasil em 1984, conseguiram mostrar que as crianças em processo de alfabetização constroem diversas ideias sobre a escrita e elaboram teorias próprias para explicar o funcionamento da escrita. São elas:

Pré-silábica sem variações quantitativas ou qualitativas dentro da palavra e entre as palavras. O aluno diferencia desenhos (que não podem ser lidos) de escritos (que podem ser lidos), mesmo que sejam compostos de grafismos, símbolos ou letras. A leitura que realiza do escrito é sempre global, com o dedo deslizando por todo o registro.

Pré-silábica com exigência mínima de letras ou símbolos, com variação de caracteres dentro da palavra, mas não entre as palavras. A leitura do escrito é sempre global, com o dedo deslizando por todo o registro escrito.

Pré-silábica com exigência mínima de letras ou símbolos, com variação de caracteres dentro da palavra e entre as palavras (variação qualitativa intrafigural e interfigural). Nesse nível, o aluno considera que coisas diferentes devem ser escritas de forma diferente. A leitura do escrito continua global, com o dedo deslizando por todo o registro.

Silábica com letras não pertinentes ou sem valor sonoro convencional. Cada letra ou símbolo corresponde a uma sílaba falada, mas o que se escreve ainda não tem correspondência com o som convencional daquela sílaba. A leitura é silabada.

Silábica com vogais pertinentes ou com valor sonoro convencional de vogais. Cada letra corresponde a uma sílaba falada e o que se escreve tem correspondência com o som convencional daquela sílaba, representada pela vogal. A leitura é silabada.

Silábica com consoantes pertinentes ou com valor sonoro convencional de consoantes. Cada letra corresponde a uma sílaba falada e o que se escreve tem correspondência com o som convencional daquela sílaba, representada pela consoante. A leitura é silabada.

Silábica com vogais e consoantes pertinentes. Cada letra corresponde a uma sílaba falada e o que se escreve tem correspondência com o som convencional daquela sílaba, representada ora pela vogal, ora pela consoante. A leitura é silabada.

Silábico-alfabética. Esse nível marca a transição do aluno da hipótese silábica para a hipótese alfabética. Ora ele escreve atribuindo a cada sílaba uma letra, ora representando as unidades sonoras menores, os fonemas.

Alfabética inicial. Nesse estágio, o aluno já compreendeu o sistema de escrita, entendendo que cada um dos caracteres da palavra corresponde a um valor sonoro menor do que a sílaba. Agora, falta-lhe dominar as convenções ortográficas.

Alfabética. Nesse estágio, o aluno já compreendeu o sistema de escrita, entendendo que cada um dos caracteres da palavra corresponde a um valor sonoro menor do que a sílaba e também domina as convenções ortográficas.

 

 

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