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Jornalismo

O que ensinar

Reportagem da Edição Especial de Planos de Aula: Matemática, publicada em 2011, indicada por Leninha Ruiz

PorNOVA ESCOLANairim Bernardo

15/01/2016

"Fiz formação com a Priscila Monteiro por muitos anos e quando assisti a um dos vídeos e ela estava fazendo uma atividade numa sala de aula logo vi que era um material muito bom! Eu era coordenadora pedagógica de uma escola e estávamos justamente preparando a formação no eixo de Matemática quando chegou esta edição. Ela facilitou o planejamento da formação, pois tinha várias situações didáticas filmadas que eu pude utilizar. Ainda tenho o DVD guardado. Deixei a revista impressa na escola onde trabalhava para que outros professores pudessem ler."

Leninha Ruiz, formadora nas áreas de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, escreve o blog Coordenadoras em Ação, no site GESTÃO ESCOLAR.

 

O que ensinar 

Atividades desafiadoras e bem encadeadas, que induzam o aluno a pensar e construir seu próprio conhecimento, são o caminho mais curto para o bom aprendizado de Matemática 

BEATRIZ SANTOMAURO

Em dezembro de 2010, foram divulgados os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), um exame que avaliou, em 64 países, os conhecimentos de estudantes de 15 anos em Ciências, Matemática e leitura. O Brasil apareceu na 53ª posição. Em Matemática, 6.996 notas não passaram do nível 1 - a categoria mais baixa de pontuação. É preciso mudar esse quadro. E o caminho passa pelo Ensino Fundamental. Nossos alunos do 1° ao 5° ano têm de aprender os conteúdos essenciais da disciplina. Ou melhor, mais que isso: eles têm de ser capazes de utilizá-los com autonomia.

A edição especial foi planejada para alcançar justamente esses objetivos. Ela reúne textos elaborados por especialistas no ensino de Matemática. 

O time de consultores requisitado por NOVA ESCOLA elaborou atividades direcionadas às cinco primeiras séries do Ensino Fundamental, respeitando os blocos de conteúdo indicados pelo Ministério da Educação (MEC):

  1. Números e operações;
  2. Espaço e forma;
  3. Grandezas e medidas; e
  4. Tratamento da informação. 

Uma dica: faça ajustes e adapte cada atividade às necessidades da sua turma. É perfeitamente possível enriquecê-las para deixá-las ainda mais desafiadoras.

Os textos têm como base as pesquisas dos autores da Didática da Matemática francesa, entre eles Guy Brousseau, Gérard Vergnaud, Yves Chevallard, Michèle Artigue, Marie-Jeanne Perrin-Glorian e Régine Douady. De acordo com essa abordagem, o professor deve oferecer aos alunos o espaço e as condições didáticas necessárias para que eles mesmos construam seu conhecimento. 

Como proporcioná-los? Uma das formas é apresentar aos estudantes atividades que tenham as seguintes propostas:

  • Resolver problemas - a resolução de problemas é um tipo de atividade que não se resume à repetição de um procedimento conhecido ou à aplicação de uma fórmula. Ela induz o aluno a pensar e decidir como vai resolver o desafio.
  • Explicitar o raciocínio - ao explicar a estratégia utilizada na resolução de um problema, a criança organiza seu raciocínio e comunica por linguagem oral ou escrita aquilo que sabe. "Um aluno que vê o que o colega fez e entende como ele pensou reflete sobre sua prática", diz Priscila Monteiro, formadora do Instituto Avisa Lá, consultora pedagógica da Fundação Victor Civita e autora de vários textos deste especial.
  • Validar ideias - o estudante testa os procedimentos que já conhece, separando os que funcionam daqueles que não se aplicam a novos contextos. É quando ele confirma ou derruba hipóteses.
  • Institucionalizar - não basta pensar, explicitar e validar. A criança precisa ver sistematizados os saberes que ela vai construindo - para que interiorize a informação, relacione-a com o que já sabe e descubra como utilizá-la. 

Outra orientação importante para o professor é ensinar os conteúdos organizando a turma de forma ascendente ou descendente. Na primeira, o professor propõe que os alunos tentem solucionar os problemas individualmente ou em duplas, para só depois ampliar a discussão em grupos maiores. A troca de informação entre pares permite que crianças com repertórios equivalentes avancem juntas, sem intervenção ou mediação direta do educador. Na organização descendente, o movimento é inverso: primeiro, o professor orienta; depois, os alunos discutem e tentam resolver os problemas. 

 

Objetivos claros e organização das atividades

Para colocar tudo isso em prática, recomenda-se utilizar as chamadas modalidades organizativas:

  • Atividades permanentes - são aquelas que devem ser feitas regularmente durante o ano todo. Bom exemplo é o texto Medida de Tempo no Calendário, em que o aluno aprende sobre o funcionamento dos números em um contexto específico, enfrenta situações para localizar ou obter informações e analisa as características e as regularidades dos números naquele suporte. Ao travar contato regular com calendários, o aluno se familiariza com certos conteúdos e pensa sobre eles, passando a incorporá-los.
  • Sequências didáticas - são atividades organizadas em ordem crescente de complexidade, em que cada etapa sempre depende da anterior para ser cumprida. Um exemplo é o texto Quem Dirá 20?, que aproxima o aluno do conteúdo várias vezes, aumentando os desafios e propondo diversas discussões para que a turma toda avance. 
  • Planos de aula - assim como as sequências, os planos exigem que as várias etapas do aprendizado se relacionem. Essas, no entanto, são atividades mais pontuais e independentes. A diferença é o foco em um conteúdo especifico, como se vê no texto Problemas de Proporcionalidade Direta. Nesse caso, a discussão é sobre as estratégias utilizadas quando o problema é pesar diferentes caixas.
  • Projetos didáticos - têm um produto final, contextualizam o conteúdo e apresentam objetivos mais abrangentes. Como o ensino da Matemática geralmente independe de contextualização e produto final, são raros os projetos didáticos aplicáveis a essa disciplina.

Além de saber o que ensinar e qual modalidade organizativa escolher, é importante que você planeje o uso das atividades ao longo do ano, encadeando a aplicação de todas elas e notando o que pode ser complementar ou abordado separadamente. Essas boas práticas pedagógicas, quando atreladas à dedicação profissional, são receitas infalíveis de um trabalho de qualidade. 

 

Inclusão com aprendizagem 

Hoje é lei: as salas de aula da escola regular devem ter estudantes com e sem deficiência aprendendo juntos. Mesmo sabendo que as competências e limitações dos alunos com necessidades educacionais especiais desafiam o professor, cabe ao profissional oferecer condições para que a aprendizagem seja efetiva. Com o apoio do Atendimento Educacional Especializado (AEE) ou nas próprias salas de aula, é essencial estudo e atenção para identificar o que de melhor pode ser feito. É por isso que, nesta edição, todos os planos de aula, sequências didáticas e atividades permanentes têm indicações de como flexibilizar (ou adaptar) as propostas em vários aspectos: conteúdo, recursos, espaço e tempo. Elas estão assinaladas de amarelo e são uma orientação para o professor aplicá-las com aqueles que tenham deficiência física, intelectual, visual ou auditiva.

O espaço reservado às flexibilizações reflete a preocupação de NOVA ESCOLA em garantir o direito de aprendizado para todos, objetivo que é próprio de uma Educação realmente inclusiva. "Essa é uma das formas de colaborar para o desenvolvimento de uma sociedade mais digna, que reconhece e trabalha na diversidade de seus cidadãos", afirma a psicopedagoga Cláudia Dantas, especialista em adaptação curricular e uma das responsáveis pelas fiexibilizações desta edição. Ela destaca que criar um ambiente cooperativo entre o professor e a turma, respeitar a capacidade de cada aluno e acreditar que todos podem avançar juntos é essencial.

 

Leia um dos planos de aula do Especial Matemática no link abaixo. Faça ajustes e adapte cada atividade às necessidades dos seus alunos. É possível enriquecê-las para deixá-las ainda mais desafiadoras e provocativas:

Plano de aula - Medindo objetos estáticos 


Foto entrevistada: Gabriela Portilho

Imagem capa: Reprodução

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