"O trabalho com leitura na escola é apresentado como algo possível e fruto de ações intencionais de toda a comunidade educativa. As sugestões de práticas sobre as diferentes modalidades didáticas e os livros indicados para cada segmento são muito instrutivos. Alguns eu já conhecia e fui atrás dos que ainda não havia lido. Também achei fundamental o texto não apenas colocar os professores como formadores de leitores e os desafiar a se tornarem leitores (se ainda não forem). Além disso, muitos preconceitos foram quebrados, como a ideia de que o bom leitor é aquele que apenas lê clássicos."
Denise Guilherme, formadora de professores e curadora da rede de leitura A Taba.
Literatura, muito prazer
A escola é um ambiente privilegiado para garantir muito contato com os livros. Conheça, passo a passo, os caminhos para ir além dos resumos e questionários de leitura e incentivar na garotada o gosto pelas obras literárias - mesmo que você não tenha familiaridade com esse tipo de texto
Texto Elisa Meirelles. Com reportagem de toda a equipe de NOVA ESCOLA e GESTÃO ESCOLAR.
Muito se fala do poder da literatura - e de como a escola é um lugar privilegiado para estimular o gosto pela leitura. Infelizmente, porém, as salas de aula brasileiras estão longe de ser "celeiros de leitores". Salvo exceções, o contato dos estudantes com os livros costuma seguir um roteiro no mínimo enfadonho: alguns títulos (quase sempre "clássicos") são indicados (leia-se empurrados goela abaixo) e viram conteúdo avaliado (perguntas de interpretação de texto com uma única resposta correta). E só. A experiência que deveria ser desafiadora vira uma tarefa burocrática e sem graça. Os jovens se formam sem entender os benefícios da leitura e acabam não lendo mais nada. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) e o Instituto Pró-Livro mostra que 45% da população não lê nenhum exemplar por ano (desses, 53% dizem simplesmente "não ter interesse" e outros 42% admitem "ter dificuldade").
Mas, obviamente, é possível mudar esse quadro. Esta reportagem especial se propõe a ajudar você com dicas de especialistas e novidades do campo da didática. Para começar, é preciso compreender que, antes de analisar e refletir sobre os aspectos formais da literatura (história, linguagem etc.), os estudantes têm de gostar de ler. E isso só se faz de uma maneira: lendo, lendo, lendo. Porém ninguém nasce sabendo. Cabe à escola dar acesso às obras e ensinar os chamados comportamentos leitores: "entrar" na aventura com os personagens, comentar sobre o enredo, buscar textos semelhantes, conhecer mais sobre o autor, trocar indicações literárias. Tudo pelo prazer que a literatura proporciona, de nos levar a outros lugares e épocas. Um percurso que idealmente começa na infância - mas também pode ser iniciado depois (nunca é tarde para abrir o primeiro livro).
Abaixo, você encontra um guia com sugestões para despertar esse gosto pelos livros e ensinar os comportamentos leitores, dividido em Educação Infantil, 1º ao 5º ano e 6º ao 9º ano (e também os erros mais comuns que são cometidos na escola). Em seguida, mais três páginas com uma reflexão sobre o papel do professor nessa caminhada - e como fazer para você se encantar pela literatura e/ou ampliar seu repertório. "Quando existe um espaço para discutir as leituras, com a possibilidade de inúmeras interpretações, começamos a desenvolver a curiosidade e o desejo de ir além", explica Mónica Rubalcaba, professora de Letras da Universidad Nacional de La Plata, na Argentina. Com isso, os alunos vão passar a ver a leitura não como uma tarefa escolar, mas como um hábito cotidiano. E você também.
Literatura na Educação Infantil: para começar, muitos livros

Garantir o contato com as obras e apresentar diversos gêneros às crianças pequenas é a principal função dos professores de creche e pré-escola para desenvolver os comportamentos leitores e o gosto pela literatura desde cedo
Todos os especialistas concordam que, num país como o Brasil, a escola tem um papel fundamental para garantir o contato com livros desde a primeira infância: manusear as obras, encantar-se com as ilustrações e começar a descobrir o mundo das letras. É nas salas de Educação Infantil que você, professor, deve apresentar os diversos gêneros à turma. Nessa fase, o que importa é deixar-se levar pelas histórias sem nenhuma preocupação em "ensinar literatura". Ler para os pequenos e comentar a obra com eles é fundamental para começar a desenvolver os chamados comportamentos leitores.
- Por que ler
Mesmo antes de aprender a ler, as crianças devem ser colocadas em contato com a literatura. Ao ver um adulto lendo, ao ouvir uma história contada por ele, ao observar as rimas (num poema ou numa música), os pequenos começam a se interessar pelo mundo das palavras. É o primeiro passo para se tornarem leitores literários - percurso que vai se estender até o fim do Ensino Fundamental.
- Quem lê
Como a maioria das crianças de creche e pré-escola não é alfabetizada, a leitura deve ser feita pelo professor. Mas é essencial deixar que todos manipulem os exemplares. Incentive-os a folhear as páginas, observar as imagens e os textos e levar as obras para casa.
- Como ler
Existem dois modelos básicos: o contato pessoal da criança com o livro, como foi explicado acima, e a roda de leitura, em que o professor lê para toda a turma. Nesse caso, é preciso sempre planejar a atividade, da escolha do texto às formas de interação. "A apresentação, a seleção e a preparação prévias, os motivos explicitados, a consideração do leitor, o incentivo aos comentários posteriores e o clima criado devem ser intencionais, e não obras do acaso", explica Virgínia Gastaldi, formadora do Instituto Avisalá, em São Paulo, no texto Quem Conhece Pode Escolher Melhor. Da mesma forma, o momento da leitura exige postura adequada, entonação de voz e uso correto das ilustrações para ajudar a conduzir a narrativa. No fim, é muito importante coletar as impressões da garotada, o que pode ser feito com perguntas simples: de qual parte da história cada um mais gostou (e por quê), o que chamou mais a atenção em cada personagem, qual ponto provocou mais alegria (ou medo, preocupação etc.). Esse momento de pensar sobre o que foi lido e expressar opiniões é um comportamento típico de quem gosta de ler - e vale para toda a vida. E não se esqueça de que essas opiniões podem (e costumam) ser diferentes. Essa troca também é boa para estimular os pequenos a aprender a ouvir o que os outros têm a dizer.
- Quando ler
Já é amplamente sabido que a leitura deve ser uma atividade diária na Educação Infantil. Mas nunca é demais lembrar que as crianças pequenas não têm paciência para ficar muito tempo fazendo a mesma coisa. Portanto, reserve dez ou 15 minutos por dia no início dessa "caminhada". Sobrecarregar os pequenos pode transformar a hora da leitura num momento chato. E, aos poucos, vá aumentando esse tempo. À medida que criam o hábito da leitura, os pequenos começam a prestar atenção em histórias mais longas.
- Onde guardar os livros
É muito comum cada sala de Educação Infantil ter um cantinho de leitura, com uma pequena estante. O ideal é que todo o acervo fique ao alcance das crianças (perto do chão e sem obstáculos entre obras e leitores). "Nessa fase da escolarização, o educador deve ensinar os cuidados básicos que devemos ter com o livro", diz Renata Junqueira, coordenadora do Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil Maria Betty Coelho Silva (CELLIJ), da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Presidente Prudente.
- O que ler
As histórias de ficção (como os contos de fadas) são as que mais encantam as crianças, mas é importante oferecer a elas diversas obras para que criem um repertório amplo. Como explica Renata, "os livros são um ótimo caminho para ampliar o universo cultural dos pequenos porque permitem entrar em contato com situações desconhecidas". Virgínia, em seu texto sobre a leitura na Educação Infantil, dá outra dica preciosa: "Preocupe-se com a qualidade literária, e não com o conteúdo moral". Isso não quer dizer que você pode escolher histórias amorais, mas que uma história bem escrita tem mais chances de prender a atenção de todos. Por isso, fique sempre com os textos que têm descrições ricas, misturam mistério e comédia e estimulam a imaginação, criando uma aventura interessante (no quadro abaixo, confira algumas indicações para turmas de Educação Infantil). E fuja dos materiais "escolarizados", cujo principal objetivo não é entreter a criançada, mas apenas ensinar que isso é o pato e aquilo é azul ou verde, sem nenhuma preocupação com a linguagem literária.
Os erros mais comuns
- Ignorar as opiniões das crianças. Ouvir as considerações da turma e estimular esse compartilhamento ajuda a criar o gosto pela literatura.
- Impor uma interpretação. Ao terminar o livro, o educador "resume" sua visão da história - e não percebe que ninguém é obrigado a ter a mesma opinião.
- Substituir o livro por figuras ou fantoches. Variar o modo de ler é desejável - mas não se pode esquecer que a hora de leitura precisa... de um livro.
- Ater-se aos clássicos. As crianças adoram os contos de fadas, mas é essencial apresentar outros gêneros, como a poesia.
Estante
A Onda,
Suzy Lee, 40 págs.,
Ed. Cosac Naify,
tel. (11) 3218-1473
Como Papai e Mamãe Se Apaixonaram,
Katharina Grossmann-Hensel,
Ed. Scipione, tel. 0800-16-1700
O Caso do Bolinho,
Tatiana Belinky, 32 págs.,
Ed. Moderna,
tel. 0800-17-2002
O Homem que Amava Caixas,
Stephen Michael King, 32 págs.,
Ed. BrinqueBook,
tel. (11) 3032-6436
A Casa Sonolenta,
Audrey Wood, 32 págs.,
Ed. Ática, tel. 0800-11-5152
Da Pequena Toupeira que Queria Saber Quem Tinha Feito Cocô na Cabeça Dela,
Werner Holzwart, 24 págs.,
Ed. Companhia das Letrinhas, tel. (11) 3707-3500
Literatura do 1º ao 5º ano: ajude os alunos a ler com autonomia

O início do Ensino Fundamental é essencial para os alunos desenvolverem autonomia e continuarem seu percurso para se tornar leitores. Nesta etapa, o melhor é estimular a troca de livros e de opiniões sobre o que se lê
É nos anos iniciais do Ensino Fundamental que o aluno começa a construir sua autonomia como leitor. Para isso, é importante intercalar a leitura feita pelo professor com momentos em que todos devem ler sozinhos tanto na escola como em casa. Mas nada de resumos e questionários padronizados para testar os estudantes. Mais produtivo, para quem quer formar leitores, é organizar rodas para o compartilhamento de opiniões, propor trocas de livros entre os colegas e incentivá-los a seguir um autor ou um tema de que gostem.
- Por que ler
Se os estudantes já estão habituados às rodas de leitura e têm contato com os livros, cabe ao professor do 1º ao 5º ano começar a colocá-los em contato com textos mais complexos para ampliar a familiaridade com a literatura. "Que tal selecionar um romance que prenda a atenção da turma e ler um capítulo por dia?", sugere Regina Scarpa, coordenadora pedagógica de NOVA ESCOLA. Numa fase da vida (e da escolarização) em que é preciso dar espaço para que as crianças ganhem autonomia e consigam ler sozinhas com mais facilidade, perder o medo dos livros maiores é fundamental - e o mesmo vale para os gêneros considerados mais difíceis, como a poesia.
- Quem lê
Além do professor, as crianças (mesmo ainda não plenamente alfabetizadas) devem ser estimuladas a ler. No contato pessoal com os livros, elas começam a desenvolver a autonomia - e isso só se faz lendo. Em classe, é possível também organizar atividades em duplas e, claro, discussões coletivas sobre as obras.
- Como ler
Do 1º ao 5º ano, é importante criar uma comunidade de leitores em classe - ou seja, espaços em que todos tenham a chance de participar e opinar. Em seus livros, Delia Lerner sugere "desenvolver, em cada ano escolar, atividades permanentes ou periódicas concebidas de tal modo que cada um dos estudantes tenha a possibilidade de ler uma história para os demais ou escolher um poema para ler aos colegas". Outra sugestão é incentivar os alunos a trocar livros e indicações de autores. Eleger um tema de interesse comum (piratas ou histórias de terror, por exemplo) e ler vários textos desse tipo também costuma funcionar.
- Quando ler
O ideal é que a rotina diária inclua momentos de leitura em aula e que os alunos sejam incentivados a levar exemplares para ler em casa - por hobby mesmo, sem que isso vire uma tarefa obrigatória.
- Onde ler
"Não há leitor que só goste de ler num único lugar. Ele lê na cama, no sofá, no chão, na mesa do café... Por que na escola isso seria diferente?", indaga o professor de Literatura João Luís Ceccantini, da Unesp. Variar os ambientes de leitura deixa o ato de ler menos previsível. Aproveite o pátio, a grama, a sombra de uma árvore, a sala de leitura...
- O que ler
Na hora de escolher os livros, fique atento ao conteúdo, evite obras moralistas ou politicamente incorretas e valorize a qualidade da edição (ilustrações, linguagem etc.). É importante trabalhar com textos de gêneros variados e a lista deve incluir obras clássicas e contemporâneas (confira abaixo sugestões de leitura para os anos iniciais do Ensino Fundamental).
Os erros mais comuns
- Transformar a leitura numa atividade entediante. Quando a literatura faz parte de uma tarefa burocrática e obrigatória, muitas crianças se afastam dela.
- Avaliar a leitura por meio de provas e resumos. Evite os questionários. Ampliar os debates sobre os textos ajuda a aumentar o envolvimento da turma.
- Ignorar os gostos de cada um. É nessa fase da escolarização que começam a se consolidar as preferências pessoais. E isso tem de ser respeitado e aproveitado.
Estante
A Bolsa Amarela,
Lygia Bojunga, 140 págs.,
Ed. Casa Lygia Bojunga,
tel. (21) 2222-0266
Reinações de Narizinho
(Volumes 1 e 2),
Monteiro Lobato, 156 e 132 págs.,
Ed. Globo, tel. (11) 3767-7400
Marcelo, Marmelo, Martelo e Outras Histórias,
Ruth Rocha, 64 págs.,
Ed. Salamandra,
tel. (11) 2790-1502
Ou Isto ou Aquilo,
Cecília Meireles, 72 págs.,
Ed. Nova Fronteira,
tel. (21) 2131-1183
Pinóquio,
Carlo Collodi, 192 págs.,
Ed. Companhia das Letrinhas,
tel. (11) 3707-3500
Literatura do 6º ao 9º ano: ensine a teoria sem deixar de lado as práticas de leitura

Nos anos finais do Ensino Fundamental, ler sobre os livros é tão importante quanto ler os livros. A turma precisa começar a entender os diferentes estilos e recursos linguísticos usados pelos autores, sem deixar de lado as práticas de leitura
Chegou a hora de (além de ler para ampliar o repertório de obras e autores) começar a estudar a literatura. Nos anos finais do Ensino Fundamental, o ideal é que a turma analise os recursos linguísticos, os detalhes das histórias e as diferentes características dos textos literários sem se esquecer do hábito de ler (aquilo que os especialistas chamam de práticas sociais de leitura). É importante apresentar textos mais complexos aos alunos e lançar mão de conhecimentos teóricos para entendê-los melhor.
- Por que ler e ensinar literatura
Para ir além do simples hábito de ler. Quando lemos um livro de poesias, elas nos emocionam e nos fazem refletir, buscar interpretações possíveis e tirar conclusões. E se alguém contar que essa obra foi escrita durante uma guerra, por exemplo, quando todos os escritores eram perseguidos? Ou chamar a nossa atenção para a estrutura do poema e nos fizer pensar por que o autor usa cada palavra, cada figura de linguagem? Com certeza, nossa visão sobre a obra vai mudar e vamos entender melhor aquele conjunto de versos. É isso que acontece quando você alia o ensino da literatura às práticas de leitura. Os alunos aproveitam a teoria para ampliar o olhar sobre os livros.
- Quem lê
Nessa etapa da escolarização, o jovem precisa se acostumar à leitura autônoma. Mas algumas atividades coletivas podem ser mantidas (um bom exemplo é a leitura, pelo professor, de um texto de difícil compreensão, com o objetivo de ajudar na interpretação). Seu papel passa a ser o de orientador, que apresenta novidades e levanta questões para o desenvolvimento do senso crítico, sempre valorizando a opinião de todos. As atividades individuais de leitura são essenciais para criar uma relação pessoal com os livros, que se mantém pelo resto da vida.
- Como ler
"Um segredo para formar leitores é misturar os momentos de leitura íntima, silenciosa e pessoal com outros de troca sobre como cada aluno se relaciona com o que leu", escreveu recentemente num artigo a argentina Nora Solari, especialista em Didática da Língua e da Literatura. Levar os jovens a falar sobre textos literários com os colegas é uma boa maneira de manter e ampliar seus hábitos leitores. Ao fazer com que os estudantes se aproximem de um livro que querem ler, você os coloca diante de um desafio. A turma terá de discutir e confrontar ideias para construir significados em relação à obra, terá de procurar as respostas escondidas nas entrelinhas (e esse prazer de entender melhor os livros é um dos grandes baratos da literatura).
- Quando ler
A leitura continua sendo uma atividade permanente do 6º ao 9º ano. Cabe a você organizar o planejamento para incluir tanto as obras obrigatórias, estudadas nas aulas de teoria literária, como os textos escolhidos livremente pelos alunos.
- Onde ler
A exemplo do que já foi dito em relação aos anos iniciais do Ensino Fundamental, não há espaços específicos para ler. O aluno que tem o hábito da leitura busca os próprios cantos.
- O que ler
Na hora de ajudar a turma a escolher os livros, é importante conhecer o repertório e os interesses dos estudantes (coisas que cada um curte fazer nos fins de semana, assuntos que lhes interessam). Com base nisso, fica mais fácil sugerir leituras que farão sucesso. Segundo Rildo Cosson, autor de Letramento Literário: Teoria e Prática, indicar uma obra que dialogue com um jogo de videogame é um meio poderoso de atrair a garotada para a história. Além disso, a consolidação dos hábitos de leitura permite explorar textos mais difíceis e desafiadores, bem como conhecer novos autores e estilos (confira no quadro abaixo algumas indicações para os estudantes do 6º ao 9º ano).
Os erros mais comuns
- Analisar só os aspectos gramaticais. Deixar de lado as interpretações de um livro está muito longe de ser uma boa forma de desenvolver comportamentos leitores na turma.
- Separar forma e conteúdo. Colocar em discussão apenas os temas tratados no livro e deixar de lado a forma é um problema recorrente nas aulas de Língua Portuguesa. A interpretação completa de uma obra depende não só do que é dito, mas de como é dito. Até porque todo mundo sabe que um poema é diferente de uma crônica ou conto.
Estante
20 Mil Léguas Submarinas,
Julio Verne, 444 págs.,
Ed. Leopardo,
tel. (11) 5093-7822
A Droga da Obediência,
Pedro Bandeira, 192 págs.,
Ed. Moderna,
tel. 0800-17-2002
Alice no País das Maravilhas,
Lewis Carroll, 168 págs.,
Ed. Cosac Naify,
tel. (11) 3218-1473
Bisa Bia, Bisa Bel,
Ana Maria Machado, 80 págs.,
Ed. Salamandra,
tel. (11) 2790-1502
O Diário de Anne Frank,
Anne Frank e Mirjam Perssler, 350 págs.,
Ed. Record,
tel. (21) 2585-2002
Histórias Extraordinárias,
Edgar Allan Poe, 272 págs.,
Ed. Companhia das Letras,
tel. (11) 3707-3500
Formação literária do professor: nunca é tarde para gostar de ler

Muitos professores brasileiros não tiveram a chance de construir uma história como leitores de literatura. Mas sempre é tempo de criar o hábito de leitura e também inspirar seus alunos
Você terminou de ler um romance. Chega à escola e corre para compartilhar a experiência com os colegas. Fala sobre os conflitos do personagem (sem entregar o fim da história, é claro) e comenta que já viveu vários dos questionamentos narrados na história - razão pela qual a trama prendeu a atenção do começo ao fim. Outro professor aproveita para dizer que já leu algo do mesmo autor - e a conversa continua, animada, até a hora de a aula começar.
"Um mesmo livro nunca é o mesmo para duas pessoas", já disse o poeta Ferreira Gullar. Essa experiência, ao mesmo tempo pessoal e coletiva, é tão rica porque nos permite entrar em contato com uma realidade diferente da nossa - e, graças a isso, (re)construir nossa própria história dia após dia.
Porém a realidade de grande parte dos docentes brasileiros está bem longe disso. Muitos não tiveram acesso a obras literárias em casa nem construíram práticas sociais de leitura (na Educação Básica e nos cursos de graduação universitária). "O professor médio brasileiro do ensino público teve pouco acesso e estímulo a ler. Por isso, conhece poucas obras de literatura contemporânea e clássica", afirma Zoara Failla, gerente executiva de projetos do Instituto Pró-Livro. Então, o que fazer para transformar essa pessoa que tem pouca familiaridade com a literatura em um agente disseminador de boas práticas leitoras? O mais importante é saber que nunca é tarde para se deixar encantar pela literatura e começar uma trajetória como leitor - ou, quem sabe, ampliar ainda mais os conhecimentos sobre os livros. Vamos nessa?
- Por que ler
O leitor literário lê por razões variadas: rir, refletir, investigar, relembrar, chorar e até sentir medo. Lê porque mergulha no que autores e personagens pensam e sentem - no passado, presente ou futuro, em lugares distantes ou que nem sequer existem. Lê porque as narrativas literárias o ajudam a refletir sobre a vida e a construir significados para ela.
- Como virar um leitor
Não existe um caminho único para se tornar um leitor literário. Você pode começar por textos simples do ponto de vista linguístico e depois passar para os mais complexos - ou iniciar por temas próximos e partir para os mais distantes. "E há os que preferem os grandes desafios desde o princípio porque sabem que eles têm algo a oferecer, nem que seja a estranheza", afirma Ana Flávia Alonço Castanho, selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Um bom caminho para alavancar o gosto pelos livros é procurar uma comunidade de leitores (podem ser os professores da escola, os amigos, os parentes - o importante é encontrar gente que goste de ler). Em Andar entre Livros, Teresa Colomer, professora de Literatura na Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, afirma que "ao compartilhar as impressões sobre uma leitura passamos a saber os significados que a obra tem para os outros, o que enriquece nosso repertório". Outra vantagem desse diálogo permanente é a troca de indicações de textos e autores.
- O livro (e outras linguagens)
Para os adultos que estão se iniciando no mundo da literatura, perceber as relações entre os livros e outras linguagens é também um caminho interessante. Ver um filme, ouvir uma música ou assistir a uma peça de teatro baseados em obras literárias e depois ler o texto original - ou vice-versa - é ótimo para entender como uma história é contada de maneiras diferentes. Cada formato tem uma especificidade e prioriza determinados elementos, como a descrição do personagem ou do cenário. É inevitável fazer algumas perguntas. O que mudou do texto para a encenação? Como o cinema traduziu em imagens uma paisagem antes descrita só em palavras? E os personagens, como foram retratados? Isso ajuda a despertar o senso crítico e, claro, querer ler mais.
- Quando ler
A leitura deve ser uma atividade cotidiana, mas não precisa ter hora marcada nem deve se restringir a obras novas. Que tal retomar um livro que foi difícil de ler (ou aquele que você adorou)? Em determinada época da vida, um título pode parecer complexo ou não emocionar e, em outras, ganhar novos sentidos. Já no caso dos livros preferidos, nada melhor do que sentir novamente as sensações que a obra provocou, reler os trechos que mais gostou e relembrar as razões que o levaram a eleger aquele escritor como uma referência.
- Onde ler
A leitura é um hobby e cada pessoa conhece o melhor lugar para se entregar aos livros. Há quem goste de ler deitado na cama, antes de dormir. Ou ler no ônibus, a caminho do trabalho. Outros preferem o sofá da sala. E você?
- O que ler
Muita gente diz que o bom leitor é aquele que lê os grandes clássicos da literatura. Bobagem. Um leitor competente lê de tudo e passeia por gêneros variados, trilhando o próprio percurso. "Como diz o poeta brasileiro José Paulo Paes, devemos ler desde pornografia até metafísica", argumenta Heloisa Ramos, especialista em Língua Portuguesa e formadora do projeto Letras de Luz, da Fundação Victor Civita (FVC). Os best-sellers, por exemplo, recorrem a padrões narrativos simples e trazem certo conforto. "É por isso que tanta gente gosta dessas obras", afirma Celinha Nascimento, mestre em Literatura Brasileira e assessora de escolas públicas e particulares. "Mas não tenha medo de explorar outras possibilidades", sugere (confira na próxima página sugestões para aprofundar-se no mundo da literatura). Alguns livros exigem mais, pedem esforço intelectual, persistência e concentração. Em troca, costumam nos recompensar mais. "Ler Machado de Assis pode não ser fácil, mas não há dúvida de que proporciona muito mais possibilidades de reflexão", afirma Ana Flávia. Só não deixe que tudo isso vire sinônimo de sofrimento. "Fica mais fácil aceitar os percalços da leitura quando encontramos alguma satisfação", argumenta Celinha. Isso vale para você e para seus colegas. E também para seus alunos. Pode parecer difícil, mas basta dar o primeiro passo - ou melhor, abrir o primeiro livro. Boas leituras!
Estante
A Casa dos Espíritos,
Isabel Allende, 448 págs.,
Ed. Bertrand Brasil,
tel. (21) 2585-2000
A Vida Como Ela É,
Nelson Rodrigues, 980 págs.,
Ed. Agir, tel. (21) 3882-8200
As Meninas,
Lygia Fagundes Telles, 304 págs.,
Ed. Companhia das Letras,
tel. (11) 3707-3500
Bagagem,
Adélia Prado, 144 págs.,
Ed. Record,
tel. (21) 2585-2000
Capitães da Areia,
Jorge Amado, 280 págs.,
Ed. Companhia das Letras,
tel. (11) 3707-3500
Cem Anos de Solidão,
Gabriel García Márquez, 400 págs.,
Ed. Record,
tel. (21) 2585-2000
Meu Pé de Laranja Lima,
José Mauro de Vasconcellos,
117 págs.,
Ed. Melhoramentos,
tel. (11) 3874-0800
Felicidade Clandestina,
Clarice Lispector,
160 págs.,
Ed. Rocco,
tel. (21) 3525-2000,
25,50 reais
O Amante,
Marguerite Duras,
112 págs.,
Ed. Cosac Naify,
tel. (11) 3218-1473
Primeiras Estórias,
Guimarães Rosa,
236 págs.,
Ed. Nova Fronteira,
tel. (21) 2131-1183
O Caçador de Pipas,
Khaled Hosseini,
368 págs.,
Ed. Nova Fronteira,
tel. (21) 2131-1183
Travessuras da Menina Má,
Mario Vargas Llosa,
304 págs.,
Ed. Alfaguara,
tel. (21) 2199-7824
Quer saber mais?
Bibliografia
Andar entre Livros, Teresa Colomer, 208 págs., Global Editora, tel. (11) 3277-7999
Caminhos para a Formação do Leitor, Renata Junqueira de Souza (org.), 120 págs., Ed. DCL, tel. (11) 3932-5222
Leituras Literárias: Discursos Transitivos, Zélia Versiani (org.), 208 págs., Ed. Autêntica, tel. 0800-283-1322
Ler e Escrever na Escola - O Real, o Possível e o Necessário, Delia Lerner, 128 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444
Letramento Literário: Teoria e Prática, Rildo Cosson, Ed. Contexto, tel. (11) 3832-5838, 144 págs.
A Paixão pelos Livros, vários autores, 152 págs., Ed. Casa da Palavra, tel. (21) 2222-3167
Reportagem sugerida por 20 leitores: Aline Oliveira, Passabém, MG, Alzenir Cunha, Natal, RN, Arthur de Almeida, Ituiutaba, MG, Carmem Luminária, Nova Tramandaí, RS, Caroline Bernardes, Contagem, MG, Claudilene Oliveira, Montes Claros, MG, Cristina Antunes, Dom Pedrito, RS, Daniella Betin, Divinolândia, SP, Edileusa Nogueira, Timon, MA, Ericleide da Silva, Lagarto, SE, Fatima de Freitas, Ituiutaba, MG, Fernanda Moreira, Pinhalzinho, SP, Leana de Abreu, Irecê, BA, Maria Aparecida Barros, Francisco Morato, SP, Maria Cristina de Almeida, Itajubá, MG, Patricia Duran, Luiz Antonço, SP, Rosana Pereira, Marabá, PR, Silvia Davidoski, Lobato, PR, Ursulina Costa, Curitiba, PR, e Valéria Nery, João Pessoa, PB
Foto entrevistada: Victor Malta
Fotos reportagem: Omar Paixão, produção Adriana Nakata, cabelo e maquiagem Carmem Corrêa e móveis Evolukit
Fotos Estante: Divulgação