Os relacionamentos
Dicas, regras e conselhos para interagir de forma produtiva com superiores, colegas, alunos e pais
PorNOVA ESCOLA
23/09/2016
Este conteúdo é gratuito, entre na sua conta para ter acesso completo! Cadastre-se ou faça login
Compartilhe:
Jornalismo
PorNOVA ESCOLA
23/09/2016
10 qualidades que o gestor quer ver nos iniciantes
Na rede pública ou na particular, quem quer impressionar bem o diretor precisa ser...
1 Pontual Afinal, espera-se que o professor dê o exemplo.
2 Assíduo Existe um planejamento com uma sequência de conteúdos a serem ensinados - e ele precisa ser cumprido.
3 Dedicado A atividade docente exige empenho para preparar as aulas e as avaliações e discutir as práticas coletivamente.
4 Cordial Sempre e com todos, mesmo em situações de conflito iminente.
5 Curioso Ele não pode parar de se perguntar "Será que posso ensinar de um jeito mais eficiente?".
6 Confiável Os alunos precisam se sentir seguros para aprender.
7 Dinâmico É esperado que proponha projetos para atingir os objetivos da escola.
8 Organizado Tem de manter em ordem pastas e portfólios com as produções dos alunos.
9 Participativo Não basta ir às reuniões de trabalho coletivo, precisa dar contribuições efetivas.
10 Equilibrado A vida pessoal não deve interferir na profissional. Para tanto, discrição e bom-senso são essenciais.
64,1% é a porcentagem de pais que alimentam a expectativa de que o filho consiga alcançar uma escolaridade em nível superior.
Os momentos oficiais de troca
A maior parte dos coordenadores pedagógicos afirma promover reuniões com a equipe docente da sua escola pelo menos uma vez por semana
Frequência com que faz reuniões
Dupla orientação
A situação pode ocorrer no dia a dia de qualquer escola, e o novato tem de estar preparado para administrá-la: ao pedir ajuda para solucionar um conflito recebe indicações diferentes de dois membros da equipe de gestão. "Em relação a uma briga entre alunos, por exemplo, o coordenador pedagógico pode sugerir observar, mas manter-se a distância, enquanto o diretor diz para se envolver e resolver. Não adianta o iniciante querer imprimir sua marca e solucionar tudo apenas do seu jeito. Nessa tomada de decisão, o que deve prevalecer é a coerência", afirma Telma Vinha, da Unicamp. Isso significa que, para criar uma estratégia própria capaz de solucionar qualquer questão do gênero, é preciso se apoiar em informações concretas, como um regimento interno de conduta e livros de referência. Em resumo, num caso assim, a questão não é só ver quem manda mais e seguir suas ordens. "É obedecer, sim, mas amparado por justificativas tiradas de referências sólidas e compartilhadas pelos educadores da instituição."
Como se aproximar dos colegas
O que funciona e o que evitar para estabelecer uma troca produtiva com os professores veteranos
Funciona
Evite
A troca é livre e bem-vinda
Não é necessário que o novato espere os momentos de trabalho coletivo para trocar opiniões sobre práticas docentes com os demais professores da escola ou para pedir alguma ajuda específica. Aliás, esse tipo de contato não precisa ocorrer somente com a mediação da coordenação pedagógica - nem requer consulta prévia. Dois ou três colegas podem se reunir por conta própria para compartilhar experiências sempre que desejarem.
A cartilha 7 por 7 do professor
Veja as atitudes aprovadas e reprovadas pelos alunos
Isto sim
Isto não
Regras e elogios devem valer para todos
Os combinados devem ser aplicados sempre de maneira igualitária. Se o prazo de entrega de uma pesquisa é em determinado dia, o mais estudioso não pode ganhar prorrogação. E nem pensar em elogiar uns em detrimento de outros. "Isso pode ser tão perigoso como desqualificar publicamente", diz Catarina Iavelberg, especialista em Psicologia da Educação e colunista da revista GESTÃO ESCOLAR. Muito menos são indicadas demonstrações explícitas de afeto. "Já me perguntaram: 'Devo ou não abraçar a meninada? Tenho um carinho especial por alguns'. Rebati com outra pergunta: 'Como acha que se sentem os que não são abraçados?'", conta Catarina.
Quando se deve levantar uma discussão?
Não se pode presenciar algo injusto em relação aos alunos e se calar, por exemplo, por medo de colocar o emprego em jogo. Agindo assim o professor se torna conivente com práticas inadequadas. É necessário avaliar a gravidade da situação, lembrando que o principal objetivo é sempre defender os estudantes e não julgar o trabalho dos demais docentes. Se um professor humilha os adolescentes dentro da sala de aula ou nunca deixa as crianças irem ao banheiro quando pedem, está abusando de seu poder. Vale pensar na maneira mais adequada de colocar a questão: comentar só com o diretor ou o coordenador pedagógico ou lançar para discussão numa reunião. Deve-se evitar ao máximo acusar e o melhor é nem citar nomes. Há meios de fazer isso. É possível dizer: "Vejo que não existe um consenso quanto a isso na escola, e cada professor age de um jeito. Será que devemos deixar o aluno ir ao banheiro sempre que pede, se sabemos que às vezes é uma artimanha para se afastar da sala de aula?".
32,4 alunos é o tamanho médio no Brasil de uma turma do Ensino Médio. No Fundamental, o volume é menor: 26,5 alunos.
Em ritmo de teste
Quando a turma recebe um docente novo, é comum querer testá-lo. Isso é mais comum com as crianças maiores e os adolescentes. Eles podem dizer que o professor de antes explicava de um modo melhor e eles entendiam tudo. Talvez façam piadinhas ou perguntas diretas sobre sua experiência profissional. Às vezes, são sutis e não falam nada, só organizam focos de balbúrdia. O segredo é manter o equilíbrio e nunca entrar no jogo. Vale avaliar se é possível aproveitar a situação para promover uma conversa produtiva com a turma sobre suas expectativas de aprendizado na disciplina ou se é melhor apenas encerrar o caso. De qualquer forma, é recomendável procurar depois o orientador educacional ou o coordenador pedagógico em busca de estratégias para lidar com episódios semelhantes. "Pense que os alunos têm enorme potencial para contribuir com o processo de formação do iniciante. Por exemplo, observar como a turma reage às propostas fornece subsídios para refletir sobre suas práticas", diz Maévi Anabel Nono, da Unesp.
O que está por trás da bagunça
Se a classe quase sempre parece meio desinteressada e, pior, a bagunça e o zum-zum-zum estão cada vez mais generalizados, é provável que o professor necessite rever seu jeito de ensinar. A indisciplina dos alunos costuma ser uma reação às práticas e às propostas do professor, segundo alerta a especialista em Psicologia da Educação Catarina Iavelberg. Vale procurar a coordenação pedagógica para refletir sobre formas de melhorar, depois de detectar os pontos críticos: as aulas têm sido só expositivas? Ou estão muito centradas no livro didático? Qual o sentido que os alunos atribuem às atividades propostas? Como a mesma classe se comporta com outros professores? "Pensar em mudanças de estratégias pode alterar positivamente o comportamento da turma", diz Catarina.
Ser muito novo não é problema
Mesmo que pareça "um adolescente", o iniciante não tende a enfrentar problemas por ser jovem demais. Pesquisas indicam que a idade e a aparência não são os fatores mais relevantes na conquista do respeito dos alunos. Outros são mais decisivos: dominar os conteúdos que ensina, saber administrar bem o tempo em sala e fazer as aulas renderem, propor atividades interessantes e ser sempre capaz de ouvir toda a turma. A juventude pode até ser considerada um ponto positivo, já que às vezes ajuda a criar um sentimento maior de proximidade, especialmente com os estudantes do Ensino Médio.
Os obstáculos
A que os professores atribuem as dificuldades em sala de aula
Causas das dificuldades para manter a disciplina
Causas das dificuldades para motivar os alunos
Aluno com deficiência na sala. E agora?
Com o crescimento acentuado da Educação inclusiva, é possível que o iniciante tenha em sua sala algum aluno com necessidades educacionais especiais. O primeiro passo é pesquisar sobre a deficiência em questão. Mas a equipe gestora costuma tomar a iniciativa de discutir as limitações com o docente. Se isso não ocorrer, é uma boa ideia procurar orientação com o diretor e/ou o coordenador pedagógico, assim como discutir com os colegas que já tiveram a mesma experiência. Em geral, não é preciso fazer um planejamento específico para esse estudante, mas promover flexibilizações de tempo, espaço, conteúdo e recurso. O ideal é que o aluno conte com o atendimento educacional especializado (AEE), realizado por um educador no contraturno. Esse profissional deve trabalhar em parceria com o responsável pela turma, planejando as adaptações necessárias nas aulas para que ele compreenda o conteúdo a ser trabalhado com todos. Exemplo: pode-se produzir um mapa em relevo para ser usado por um aluno cego ou criar placas de comunicação (com ícones que mostram ações básicas como beber água, ir ao banheiro) para os que têm deficiência intelectual. Hoje, aliás, já existem diversos recursos, inclusive tecnológicos, que favorecem a aprendizagem dos alunos com deficiência e o professor precisa é se informar sobre isso.
25% Esse foi o crescimento de 2009 para 2010 do número de alunos com necessidades educacionais especiais incluídos em classes comuns do ensino regular e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
14% Foi quanto caiu no mesmo período o número de estudantes em classes e escolas especiais (formadas somente por alunos com deficiências).
O que as famílias valorizam
Pesquisa realizada com pais de alunos da rede pública da cidade de São Paulo mostrou os atributos do professor valorizados por eles. É importante saber, mas não buscar seguir todos eles. O excesso de tarefas para casa, assim como encher o quadro de textos ou dar provas que os alunos não sejam capazes de resolver não favorecem a aprendizagem. Confira os resultados:
Recado tem hora (e bom motivo)
Os bilhetes enviados por educadores para as famílias são, em grande parte, desnecessários, porque abordam assuntos que caberiam à própria escola resolver, como o fato de uma criança não parar sentada ou de conversar demais nas aulas. É o que concluiu em seu mestrado pela Unicamp a pesquisadora Sandra Dedeschi, que analisou 895 mensagens dirigidas a pais de crianças do 2º, do 5º e do 8º anos do Ensino Fundamental. A maioria tratava da obediência a regras e da resolução de conflitos. Poucos incluíam informações sobre a aprendizagem, como era de se esperar numa comunicação da escola. Às vezes, o pedido para a família tomar providências era explícito. "É raro a atitude dos pais promover reflexão na criança, que costuma ficar com um papel pequeno no processo", critica Sandra.
"Existem diferenças entre a estrutura hierárquica de instituições públicas e particulares. Na rede pública, o aparato administrativo é maior. Acima da escola, há uma Secretaria de Educação e um sistema de ensino abrangente, com normas e regras a serem cumpridas. Na particular, os superiores máximos estão bem próximos, o que proporciona mais autonomia. Em ambos os casos, no entanto, o iniciante precisa enxergar, com toda a clareza, os objetivos da escola e os meios que pode utilizar para atingi-los. Então, é uma iniciativa primordial ler o projeto político-pedagógico (PPP), que registra o tipo de aluno que aquela instituição se propõe a formar e o que se espera de cada educador que atua ali. É justamente por isso que eu sempre brinco que PPP não quer dizer 'pasta para pôr na prateleira'."
Ana Maria Falcão de Aragão, professora da Faculdade de Educação da Unicamp.
"Infelizmente, os cursos de formação inicial não preparam de fato para o começo da carreira docente. Os iniciantes têm dificuldade de fazer a relação entre o que foi aprendido na graduação e a realidade da sala de aula. Pior que, muitas vezes, esse início é marcado por isolamento. O novato acredita que as dificuldades são somente dele e se culpa por tê-las e não achar soluções para elas. A saída é conversar com os mais experientes."
Maévi Anabel Nono, professora da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), campus de São José do Rio Preto.
"Para lidar com episódios de indisciplina, é essencial, em primeiro lugar, não perder a cabeça. E acho importante tomar muito cuidado com frases de efeito vazias. Não diga coisas como: 'Se continuar assim, você nunca mais entra na minha aula!' O mais provável é que a promessa nunca seja cumprida. Ou seja, a não ser em casos extremos, o aluno não vai deixar de assistir à sua aula nem você vai largar a turma ou seu emprego por causa do acontecido. O melhor é sempre o diálogo."
Amarildo Reino de Lima, diretor escolar.
"É preciso aceitar desde cedo que haverá um ou outro aluno com o qual o professor não encontra muitas afinidades, pelo menos num primeiro momento. O importante é ter cuidado para não deixar cristalizar o que pode ser só uma tendência. O ideal é buscar conhecer mais esse estudante, para descobrir pontos de contato, que certamente existem. Manter o profissionalismo, dedicando-se igualmente para que todos aprendam os conteúdos curriculares, é uma regra a ser sempre cumprida. Se a falta de sintonia persistir e o iniciante sentir que isso pode até atrapalhar seu trabalho, o melhor é conversar separadamente com o aluno, para ver se os dois conseguem estabelecer uma relação de cordialidade, zerando possíveis mal-entendidos. O cuidado maior é nunca chamar a atenção do estudante ou fazer um comentário sobre suas dificuldades no meio da turma toda. Questões individuais pedem privacidade."
Eliane Bambini Gorgueira Bruno, docente da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e formadora de gestores e coordenadores pedagógicos da rede municipal de São Paulo .
"O fato aconteceu na universidade, mas poderia ter sido no Ensino Médio. Uma vez, falei para uma aluna: 'Estou incomodada com seu papo na aula. O que você poderia fazer para que todo mundo possa ouvir todo mundo?' A reação dela foi dizer que eu estava sendo infantil ao falar daquele jeito. E perguntou se eu tinha experiência como professora universitária. Respondi, calmamente, que aprendia um pouco a cada dia, mas que havia estudado sobre como lidar com as pessoas de um modo que elas pudessem mudar de atitude sem que eu precisasse dar bronca - e era o que eu tinha feito. A aluna saiu irritada, empurrando carteiras, e não voltou. Contudo, apareceu na aula seguinte e não tive mais problemas com ela."
Luciene Tognetta, professora da Faculdade de Educação da Unicamp.
"De um modo geral, quanto mais os pais participarem da vida escolar do filho, melhor. Mas a instituição e a família têm papéis diferentes na vida da criança e do adolescente, e uma não pode repassar suas atribuições para a outra. Por exemplo, não dá para os gestores e professores apenas dizerem: 'Olha, seu filho não está estudando História. Faça alguma coisa!' Equivale aos pais irem à escola para reclamar: 'Seu aluno não tem comido direito no jantar! E agora?' A escola tem de explorar todas as possibilidades dentro do seu espaço antes de chamar a família."
Catarina Iavelberg, especialista em Psicologia da Educação.
Como o iniciante deve agir quando discorda de regras e práticas da escola?
O problema não é discordar, mas como expor essa divergência. Com frequência, as regras são definidas sem a participação dos professores e quase ninguém sabe de onde elas vieram ou qual é sua fundamentação. Por que é proibido usar boné? A maioria não faz ideia. O ponto de partida, então, é investigar por que aquilo virou uma norma, perguntando a quem está na escola há mais tempo. Se depois de conhecer as justificativas lógicas, ainda assim o professor for contra, pode propor que a questão seja discutida em reuniões com o corpo docente. "O novato tem de desenvolver a habilidade de dizer o que pensa de forma respeitosa, mas assertiva", resume Ana Maria Falcão de Aragão, da Unicamp.
Como atender às necessidades de todos com turmas de 30 ou 40 alunos?
É fato que quanto menor a classe a tendência é ser maior a aprendizagem de todos. Em uma turma grande, o professor encontrará mais dificuldade de promover o desenvolvimento geral, porque existe uma diversidade muito grande de histórias e níveis de conhecimento. Por isso, é fundamental, logo no início, fazer algumas atividades de diagnóstico para conhecer um pouco de cada um. Com base nas respostas, ele conseguirá traçar um perfil da turma e ajustar o planejamento de suas aulas. Depois, é preciso adotar estratégias para atender às necessidades individuais. Um exemplo é promover trabalhos em grupo na sala, misturando alunos em vários estágios de aprendizado, o que favorece uma dinâmica colaborativa. É hora, então, de circular e ir parando em cada rodinha para observar e dar orientações para quem mais precisa.
Como agir quando os alunos fazem perguntas pessoais?
Essa situação ocorre com frequência, principalmente, quando se ensina nos anos finais do Ensino Fundamental e no Médio. Os maiores são sempre mais propensos a fazer perguntas sobre a vida privada do docente, como: "Você é casado? Tem filhos? Já viajou com eles para o exterior?" Ao passar por isso, o caminho é avaliar rapidamente o que está por trás das questões. Às vezes, elas surgem por simples curiosidade, mas há chances de que sejam uma estratégia para enrolar o professor, ou seja, para gastar o tempo e não deixá-lo dar aula. Os especialistas alertam que, de qualquer forma, o educador não está ali para falar de sua vida. Só vale a pena entrar numa seara mais pessoal quando isso puder enriquecer uma explicação. Por exemplo, contar sobre uma viagem para abordar algum conteúdo de Geografia. Se a resposta à questão feita em classe não puder ser direcionada para isso, a recomendação é sair pela tangente, reconduzindo o foco de todos para o conteúdo tratado.
Como prender a atenção da turma?
É uma unanimidade entre os especialistas: aqui não é tanto uma questão de relacionamento, e sim pedagógica. É só preparar boas aulas. "Elas não precisam ser um show, porque entretenimento os alunos encontram na TV, no cinema, no teatro e na internet. O que devem ser é mobilizadoras", diz Catarina Iavelberg. Isso significa que devem fazer sentido para as crianças e os adolescentes e ajudá-los a construir conhecimentos. Para tanto, uma ideia sempre bem-vinda é pensar, durante o planejamento, em conexões entre o conteúdo que será ensinado e elementos presentes no universo dos alunos ou com fatos atuais que despertam o interesse de todos.
Quando se deve chamar os pais para ir à escola?
Eles não devem ser convocados apenas quando houver problemas com os filhos. Aliás, se a questão for pedagógica, como queda de produção de um aluno, é função da escola explorar todas as possibilidades antes de pensar em pedir o auxílio da família. A instituição pode colocá-lo para trabalhar em dupla com um colega concentrado ou até mudá-lo de classe, entre outras opções. Somente quando as ações educacionais se esgotarem é que os pais devem ser chamados. Mas é necessário informar logo à família quando se tratar de questões que têm origem fora da escola e não dependem dela - ou só dela - para serem resolvidas, como faltas excessivas ou falhas na higiene.
O valor de manter o foco no outro
"Para ser professor, a pessoa tem de estar disposta a prestar atenção no outro. Sempre quis seguir essa carreira, e já são 34 anos nela. Nesse tempo todo, aprendi a ser mais humana. Descobri que quando você se aproxima do aluno e ouve um pouco da história dele vê sua atitude mudar. Por isso, acho importante o iniciante se preparar para lidar bem com as diferenças. A profissão exige que nós sejamos educadores, mas também às vezes 'psicólogos', 'enfermeiros'... O primordial na relação que o docente estabelece com os alunos é sustentar a possibilidade de eles melhorarem. E quando você gosta daquilo que faz, transpõe todos os obstáculos."
Terezinha Zarro Santos, gestora do CIEP Brizolão 209 Ataulfo Alves, em Duque de Caxias, na Grande Rio.
Diálogo é o melhor caminho sempre
"Muitos alunos gostam de ver qual o limite do professor. Comecei na rede municipal de uma cidade do interior mineiro. No início, havia um garoto do 6º ano que fazia questão de sair da carteira e se sentar no chão assim que eu pisava na sala. Pedia que voltasse a seu lugar, mas a resposta era que ali estava bom. Foi assim por duas ou três aulas. Perdida, não sabia o que fazer. Resolvi perguntar à orientadora educacional como agir, pois achava que ele fazia aquilo para me agredir. Ela expôs o histórico familiar complicado do menino, o que me deu uma nova dimensão do caso. Ele não queria me afrontar, mas chamar minha atenção. Na aula seguinte, a cena se repetiu. Não pedi que se levantasse nem o ignorei. Estendi a mão e o chamei para o pátio. Aí disse: 'Gosto de você e quero que goste de mim. Sei que a vida não tem sido fácil, mas podemos ser amigos. Quero que se sinta bem nas minhas aulas e que me ajude a torná-las melhores'. Ao voltarmos, ele se acomodou na carteira e nunca mais demonstrou indisciplina. Foi decisivo dialogar."
Karla Veloso Pinto, assessora pedagógica da Martins Pereira Consultoria Pedagógica, em Belo Horizonte, e ganhadora do Prêmio Educador Nota 10, da FVC.
Últimas notícias