Cinema e escola: encontros e desencontros
Hoje já estão disponíveis diversas reflexões sobre o uso de filmes em sala de aula. Porém é preciso avançar muito para que esse casamento dê certo
PorNOVA ESCOLA
13/09/2016
Este conteúdo é gratuito, entre na sua conta para ter acesso completo! Cadastre-se ou faça login
Compartilhe:
Jornalismo
PorNOVA ESCOLA
13/09/2016
Marcos Napolitano,
Historiador, docente da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro Como Usar o Cinema na Sala de Aula (Ed. Contexto)
O flerte entre cinema e escola não é novo. Desde as primeiras décadas do século 20, na forma do "cinema educativo", o uso de filmes está no horizonte do ensino. O "cinema educativo" organizou-se como um movimento de educadores que temiam os efeitos dissolventes do cinema para as massas, particularmente as crianças das classes populares, defendendo a produção de filmes de conteúdo educativo, informados "cientificamente" e dirigidos "ideologicamente" para a promoção do bom cidadão. Hoje, a perspectiva é outra. O uso do cinema em sala de aula não está restrito a filmes de conteúdo "educativo", mas a qualquer filme ficcional ou documental, resguardados os devidos cuidados na adequação à faixa etária e nível escolar dos alunos.
A partir dos anos 1980, com o advento do VHS e do DVD, facilitando o acesso a filmes e a exibição deles fora das salas de cinema, o uso do cinema na escola deu um salto. No estado de São Paulo, por exemplo, há inclusive políticas públicas nesse sentido, implementadas pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE). Ao fim desta primeira década do século 21, arrisco dizer que há um grande acúmulo de experiências e reflexões sobre o tema. Ao mesmo tempo, pesquisadores e professores que se propõem a trabalhar a questão ainda ficam com a sensação que falta algo, que esse antigo flerte não quer se transformar em um casamento estável.
Esses desencontros têm dois motivos principais: as dificuldades curriculares e os desafios metodológicos. O primeiro acaba levando a um "não-lugar" do cinema nos currículos escolares, fazendo com que os filmes ainda sejam vistos como ilustrações dos conteúdos, e não como fontes de aprendizagem ou experiências escolares em si mesmos. A isso se somam a duração das aulas (quase sempre menores que a do filme) e as dificuldades técnicas (falta de equipamentos, de ambientes apropriados para projeção). A organização de "semanas de cinema", na forma de projetos escolares, pode ser uma saída, estimulando a formação de uma cultura cinematográfica ampliada, bem como permitindo a abordagem de um filme por várias disciplinas, estimulando as almejadas "atividades interdisciplinares".
O segundo problema acaba conduzindo a "abusos" no uso do cinema na escola. Nesse sentido, lembremos que os filmes, documentários ou ficções, não devem ser exibidos sem planejamento, sem preparação da atividade, sem que se tenha a clareza sobre seus objetivos. Além disso, o cinema exige um tratamento diferente do texto escrito, posto que é uma linguagem audiovisual plural que vai além dos diálogos e locuções fílmicos.
As duas dificuldades, curriculares e formativas, podem ser superadas com esforço concentrado e articulado por parte de gestores do sistema, diretores, assessores pedagógicos e professores. A capacitação realizada em cursos especiais fora do ambiente escolar, devidamente articulada à formação continuada in loco, o planejamento das atividades com apoio institucional e o envolvimento dos alunos nas atividades preparatórias à exibição dos filmes podem ajudar a superar os desafios, levando esses antigos amantes - cinema e escola - a um final feliz.
Últimas notícias
Cultura
Educação Infantil: dicas para trabalhar o folclore com as crianças
Confira alguns caminhos para consolidar propostas que valorizem as diferentes manifestações culturais do nosso país
Planejamento
Diagnóstico e planejamento para o segundo semestre de aulas
Após um período desafiador, é hora de identificar as lacunas e encontrar caminhos para vencer a defasagem de aprendizagem
Prática pedagógica
Professor iniciante: como fazer uma boa gestão da sala de aula nos Anos Finais do Fundamental
Educadores com mais de 20 anos de experiência em escolas públicas compartilham suas estratégias para lidar com os desafios do início da carreira
Para sua prática
Folclore: 14 materiais para trabalhar o tema o ano todo
Confira uma curadoria de conteúdos com sugestões para todas as etapas
Planejamento
Alfabetização matemática: o que priorizar no segundo semestre
Confira as quatro pontos que não podem ficar fora do seu planejamento