Compartilhe:

Jornalismo

Conhecer o meio

A missão da disciplina é preparar a garotada para se localizar no mundo e compreender o local onde vive e as relações entre natureza e sociedade

PorMaria Rehder

09/10/2016

Estimular no aluno a capacidade de desenvolver o raciocínio espacial é um dos grandes desafios da Geografia. O planejamento deve contemplar o trabalho com conteúdos que permitam ao estudante compreender a posição que ocupa no espaço e as interações da sociedade em que vive com a natureza. O currículo deve priorizar as questões locais, sempre relacionando-as com as globais.

Sueli Furlan, docente da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10, alerta para currículos muito prescritivos. "Uma boa proposta na área pode trabalhar bem os grandes eixos, indicar conteúdos e exemplificar com situações didáticas." Roberto Giansanti, consultor e autor de livros didáticos, diz que é preciso levar o aluno a aprimorar o domínio da linguagem geográfica para que ele saiba se localizar no mundo. A ênfase do trabalho deve estar nas atividades que preveem a aplicação do conhecimento e de referenciais geográficos. "O educador deve saber empregar os conceitos de paisagem, território, região, lugar, espaço e escala de modo que os alunos possam exercitar a leitura do mundo".

 

Ler imagens e sair a campo para compreender o espaço

O estímulo de tal leitura de mundo não se restringe aos mapas. Giansanti explica que fotos, pinturas, filmes, poemas, romances, textos jornalísticos, cartas e até pichações levam ao conhecimento de um local e dos fenômenos que ali ocorrem. "Essas diferentes formas de representação da dinâmica espacial devem ser trabalhadas para enriquecer a compreensão de como o mundo se apresenta", afirma. Esse é o caminho escolhido por Daniel Montenegro, que leciona na Fundação Casa, em Rio Claro, a 184 quilômetros de São Paulo. O professor, que tem como aliados os recursos multimídia, trabalha com filmes, documentários e fotografias. "Aprender a interpretar vários tipos de imagem amplia a capacidade de reconhecimento espacial dos jovens", relata.

Outra atividade essencial para o estudo da disciplina é o trabalho de campo, uma estratégia empregada por Luzia Feitosa, que leciona na EMEF Professor Felício Pagliuso, na capital paulista. Ela desenvolveu um projeto com a turma para o reconhecimento do lugar onde vivem. "Os alunos saíram a campo e, ao retornar, debateram os problemas verificados e projetaram o bairro ideal, construindo maquetes", conta ela, que destaca a importância de conhecer proporção e escala, temas desenvolvidos nas aulas de Matemática, para dar conta da tarefa. O valor de projetos como o de Luzia não se restringe à compreensão do que ocorre no entorno da escola. As informações ali colhidas e discutidas em classe são ricas para que os adolescentes compreendam os conceitos de território e paisagem cultural, fundamentais na disciplina.

Veja a seguir quatro situações didáticas essenciais para o ensino de Geografia.

1 Leitura e escrita sobre Geografia
O que é Ler e produzir textos escritos e orais em diferentes gêneros, utilizando-os para compreender e explicar a espacialidade de fenômenos em diferentes escalas.
Quando propor Como parte de projetos e sequências didáticas.
O que o aluno aprende A ser um leitor mais crítico e ampliar a habilidade de interpretação de diferentes fenômenos geográficos e formas espaciais.
Como propor Para aprimorar a leitura, o ideal é indicar textos informativos, jornalísticos e literários sobre variados temas. No que se refere à escrita, uma opção é organizar saídas a campo para produzir coletivamente entrevistas e reportagens sobre assuntos ligados à disciplina.

2 Produção e interpretação de imagens e mapas
O que é Aumento progressivo do domínio da linguagem cartográfica - que é visual, não verbal, universal e dotada de símbolos, códigos e convenções próprios -, importante para a compreensão e a explicação de acontecimentos, fenômenos e processos relativos à produção do espaço em diferentes escalas geográficas.
Quando propor Como parte de projetos e sequências didáticas.
O que o aluno aprende A desenvolver a capacidade para operar com as linguagens do campo das imagens.
Como propor Por meio de investigações e pesquisas sobre a realidade local, representando a espacialidade de fenômenos naturais e sociais por meio da linguagem cartográfica (mapas, plantas, cartas, imagens de satélite, maquetes etc.) e da utilização de iconografias diversas (desenhos, ilustrações, fotografias etc.).

3 Trabalho de campo com os alunos
O que é Expedição de pesquisa fora da escola com o objetivo de explorar regiões do entorno e outras áreas. Nela, os estudantes observam, registram e coletam dados com as fontes disponíveis sempre após terem realizado pesquisas prévias.
Quando propor Como parte de projetos e sequências didáticas.
O que o aluno aprende A desenvolver também a percepção de seu papel no espaço geográfico e identificar, compreender e explicar elementos da natureza (clima, relevo, recursos hídricos etc.) e da sociedade (considerando as dimensões econômica, política, social e cultural), percebendo a dinâmica entre elas.
Como propor Com oportunidades para que os alunos se aproximem do objeto de estudo e observem a paisagem e seus processos naturais e sociais.

4 Ler e interpretar sistemas de orientação e localização
O que é Uso de instrumentos e de elementos da natureza para se orientar em ambientes variados. Pressupõe a capacidade de ler e interpretar as paisagens observadas, o movimento do Sol - seu efeito sobre a iluminação de casas e seu poder de informar o horário -, a posição de estrelas e a presença de limo nas árvores, assim como bússolas e GPS.
Quando propor Como parte de projetos e sequências didáticas.
O que o aluno aprende A se orientar e localizar de forma autônoma, bem como a reconhecer o efeito da ação do homem e da natureza na paisagem.
Como propor Por meio de trabalhos de campo, experiências em sala e pesquisas em livros, jornais, revistas, atlas geográficos e mídias eletrônicas diversas.

Expectativas de aprendizagem

Ao fim do 9º ano, os estudantes devem ser capazes de:

  • Relacionar implicações socioambientais do uso das tecnologias em diferentes contextos histórico-geográficos e comparar processos de formação socioeconômica.
  • Identificar e compreender a importância dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando as transformações naturais com a intervenção humana.
  • Apontar os significados históricos da geopolítica, considerando as relações de poder entre as nações, e compreender e analisar o papel dos blocos econômicos e geopolíticos.
  • Identificar diferenças e relações entre o local em que se vive e a pluralidade de lugares existentes, percebendo o direito dos povos como um elemento de fortalecimento da sociedade.
  • Entender o papel das sociedades na constituição do território, da paisagem e do espaço.
  • Analisar diferentes formas de produção, circulação e consumo para compreender a organização política e econômica.
  • Ler e interpretar mapas e imagens, relacionando-os com questões da realidade mundial para compreender os conceitos de Estado e território.

Fonte Orientações Curriculares, da prefeitura do município de São Paulo

Proposta de plano plurianual

6º ano - 1º semestre
Sequências didáticas

  • Leitura de textos sobre os conceitos de paisagem, espaço e lugar.
  • Pesquisa iconográfica para o estudo de paisagens do espaço urbano e rural.
  • Trabalho de campo sobre a orientação no espaço geográfico.

Projetos didáticos

  • Nosso bairro. Estudo do meio do entorno da escola por meio de ficha a ser completada com dados e fotos. Entrevistas com moradores sobre a paisagem no passado e coleta de fotos antigas. Elaboração de painel com fotos antigas e atuais e relatório sobre as mudanças na paisagem local.


6º ano - 2º semestre
Sequências didáticas

  • Pesquisa em atlas geográficos sobre os elementos da natureza e sua interdependência (relevo, hidrografia clima e cobertura vegetal).
  • Leitura de mapas e atlas geográficos sobre as grandes paisagens vegetais da Terra e do Brasil.
  • Leitura de reportagens de jornais e revistas sobre os fenômenos atmosféricos e as mudanças climáticas.

Atividades permanentes

  • Leitura crítica de jornal. Quinzenalmente, formar grupos, escolher uma notícia relacionada com vegetação e/ou tempo e/ou problemas ambientais. Leitura da reportagem e identificação do fenômeno estudado, com ajuda de atlas e de outros suportes como a internet e o livro didático. Analisar o fenômeno, comparando-o com a realidade local: se a notícia for de desmatamento, qual formação vegetal está sendo evidenciada na reportagem? Qual o local de abrangência dessa vegetação e a formação presente onde vivo? Houve ou há desmatamento onde vivo? Os alunos devem reescrever a notícia escolhida com foco nos problemas identificados no local onde moram, como desmatamento, poluição e lixo.


7º ano - 1º semestre
Sequências didáticas

  • Leitura de mapas sobre a construção e a formação do território brasileiro.
  • Análise de gráficos e tabelas sobre a formação e a dinâmica demográfica do Brasil.
  • Leitura de textos e gráficos com o desempenho histórico da indústria nacional.

Projetos didáticos

  • A paisagem natural brasileira e a ação humana. Elaboração de croquis em escala com a vegetação, o relevo, a hidrografia e o clima do Brasil. Os alunos fazem uma sobreposição de mapas, por exemplo, de industrialização e densidade demográfica, hidrografia e energia etc. Os trabalhos devem compor uma exposição.


7º ano - 2º semestre
Sequências didáticas

  • Leitura de textos sobre a urbanização brasileira.
  • Análise do projeto de cidades (Belo Horizonte, Goiânia, Brasília) para avaliar o crescimento urbano desordenado no país.

Atividades permanentes

  • Leitura crítica de jornal. Quinzenalmente, formar grupos, escolher uma notícia de jornal relacionada às desigualdades sociais no Brasil e à realidade local.

Projetos didáticos

  • As identidades regionais. Pesquisa sobre cidades das cinco regiões do Brasil indicando estado e região em que se localizam, características do clima, da vegetação e do relevo, rota mais curta para chegar ao local, pontos turísticos e características econômicas e sociais da população. Produção de cartaz com imagens do local e texto de apoio.


8º ano - 1º semestre
Sequências didáticas

  • Leitura e confecção de mapas usando escala e projeção cartográfica.
  • Américas: construção do território, colonização e formação territorial.

Atividades permanentes

  • Cineclube geográfico. Mensalmente, exibir filmes que se relacionem com os conteúdos trabalhados, seguidos de debates. Sugestões: Diários de Motocicleta, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo e Jogos do Poder.


8º ano - 2º semestre
Sequências didáticas

  • Leitura de atlas geográficos e confecção de mapas com as paisagens naturais das Américas: relevo, hidrografia, clima e vegetação.
  • Análise de gráficos e tabelas sobre indicadores econômicos, sociais e de níveis de desenvolvimento.

Projetos didáticos

  • Os Blocos Econômicos. Os alunos, organizados em grupos, devem publicar uma revista sobre um bloco econômico: a União Europeia, o Mercosul, o Nafta, a Apec etc. Na publicação deve constar: dados históricos da organização, países-membro indicados em mapas, dados econômicos, sociais, culturais e demográficos dos participantes.


9º ano - 1º semestre
Sequências didáticas

  • Leitura de mapas e atlas sobre a organização do espaço geográfico em períodos históricos distintos.
  • Pesquisa sobre estereótipos nacionais em filmes, músicas, jornais e revistas para analisar o modo de vida e a identidade cultural de diferentes povos.

Atividades permanentes

  • Leitura crítica de jornal e revistas. Quinzenalmente, avaliar os jornais e revistas de maior circulação e montar uma tabela em que fique clara a distribuição de espaço por país (qual o tamanho das sessões com notícias nacionais e internacionais? Quais os países mais citados? Quais os continentes? A cobertura é mais positiva ou negativa?). Um debate deve tentar estabelecer a causa desse tipo de cobertura.


9º ano - 2º semestre
Sequências didáticas

  • Análise de filmes sobre a Guerra Fria (Treze Dias que Abalaram o Mundo e Dr. Fantástico).
  • Leitura de textos, análise de gráficos e atlas sobre a divisão econômica mundial: o norte e o sul.

Atividades permanentes

  • Observação de propagandas.

Projetos didáticos

  • A Globalização do Cotidiano. Em grupos, os alunos devem escolher três produtos do cotidiano ou eletroeletrônicos de uso doméstico e pesquisar o país de origem, localizá-lo no mapa-múndi e acompanhar sua trajetória até eles. Num seminário, devem expor uma reflexão sobre essa trajetória, levando em conta aspectos sociais, financeiros e políticos.

Quer saber mais?

Contatos


Bibliografia

  • Série Olhar Geográfico, Fernanda Padovesi Fonseca, Gilberto Pamplona da Costa, Laime Tadeu Oliva e Roberto Giansanti, 200 págs., Ed. Ibep, tel. (11) 2799-7799, 57,90 reais
continuar lendo

Veja mais sobre

Relacionadas

Últimas notícias